sábado, 2 de dezembro de 2017

Pibinho de 0,1% e o Natal dos inadimplentes

Por Altamiro Borges

A mídia chapa-branca, nutrida com milhões em publicidade oficial, está fazendo o maior escarcéu com o “gigantesco” crescimento de 0,1% no Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre deste ano. Se fosse nos governos Lula e Dilma, ela batizaria o índice medíocre de “pibinho”, repetindo insistentemente o rótulo nos jornalões, revistonas e emissoras de rádio e televisão. Mas agora o tratamento é outro com a quadrilha de Michel Temer, que a imprensa golpista ajudou a alçar ao poder. Na manchete garrafal do jornal O Globo deste sábado (2): “PIB indica retomada consistente”. Já o Estadão garante que o indicador econômico “anima o mercado” e a Folha inventa que o índice “se mantém positivo no ano”. Haja cinismo da mídia mercenária!

Esta hipocrisia ajuda a explicar a crescente erosão da credibilidade dos meios tradicionais de comunicação, com quedas de tiragem e de audiência. Na vida real, a sociedade percebe que os golpistas mentiram descaradamente ao afirmar que basta depor Dilma Rousseff para a economia “se recuperar instantaneamente” – como bravateou o escravocrata que é dono das Lojas Riachuelo. O cotidiano dos brasileiros está cada dia mais duro e inseguro. Recente estudo da Serasa Experian revela que o Natal deste ano terá um número recorde de inadimplentes. Cerca de 61 milhões de pessoas estão com as contas em atraso, o maior contingente desta série histórica – 4,45% a mais que em outubro de 2016, quando somavam 58,4 milhões.

Como aponta Luiz Rabi, economista da Serasa, “o patamar de inadimplentes se estabilizou entre 60,5 milhões e 61 milhões desde março. Trata-se de um nível recorde, e o desemprego foi a principal variável para que as pessoas atrasassem as suas dívidas nessa época de crise econômica aguda”. Números dos Banco Central divulgados na semana passada também confirmam que o nível de atrasos superiores a noventa dias, o que caracteriza a inadimplência crônica, ficou estável em outubro, em 3,6%. Até os aspones das entidades empresariais, que financiaram o golpe, reconhecem que o nível de endividamento atual das famílias só vai recuar com a queda do desemprego. “A geração de empregos é crucial para reduzir esse patamar de inadimplência, que está estabilizado num nível elevado”, afirma o economista Guilherme Dietze, da Fecomércio de São Paulo.

As medidas cosméticas e demagógicas do covil golpista não conseguiram superar a crise, apesar da propaganda mentirosa da mídia chapa-branca. Recentemente o governo injetou R$ 44 bilhões na economia com recursos das contas inativas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. A inadimplência, porém, manteve-se elevada. "O total de contas em atraso era de 237 milhões em maio passado, quando 61 milhões de brasileiros estavam inadimplentes. Em outubro, o número de contas atrasadas caiu para 233,4 milhões, mas o número de inadimplentes se manteve em 61 milhões”, aponta Luiz Rabi. Ele lembra que pessoas optaram por pagar débitos com os bancos usando os recursos do fundo. Na média, cada devedor tinha quatro contas em atraso. Quem tinha direito à grana do FGTS usou para quitar pelo menos uma das dívidas, mas ainda ficou com o nome na lista dos inadimplentes.

Mesmo com o otimismo radiante dos ex-urubólogos da mídia, estes índices apontam que o Natal deste ano terá vendas menores do que o esperado. Uma pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac) mostra que 85% dos consumidores pretendem utilizar o 13º salário para o pagamento de dívidas já contraídas e a maioria quer reduzir os gastos no Natal. Míriam Leitão e outros “analistas do mercado” – nome fictício dos porta-vozes dos abutres financeiros – terão muito dificuldade para demonstrar a “retomada consistente” da economia, como estampou na manchete o jornal O Globo.

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