quinta-feira, 13 de julho de 2017

O Brasil ficou menor e Lula ficou maior

Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:

No Brasil, só há um único grande crime, que não é passível de perdão, de tolerância, de impunidade.

Roubar, vender o país, trair o povo, amealhar fortuna e respeito servindo aos poderosos, virar dono de negócios – como o são, em maioria, nossos políticos, tudo isso sempre foi permitido.

Imperdoável, mesmo, é tentar – ainda que só um pouquinho – mudar o Brasil.

A estes, como a Getúlio, a Jango, a Brizola, acusa-se de tudo. Até mesmo aos francamente capitalistas, se tivessem aspirações ao desenvolvimento nacional, as acusações sempre vieram. Ou JK não foi cassado por “corrupção”?

Mas como Lula não tem nada que o diferencie, patrimonialmente, de um cidadão de classe média, era preciso encontrar algo que a esta acusação se prestasse.

Primeiro, então, suas famosas palestras. Mas havia um problema. Como dizer que elas não valiam o preço que se lhes cobrava, se havia entre os clientes empresas estrangeiras de alto coturno, como a Microsoft e até mesmo a Globo? Que as empreiteiras exibissem o ex-presidentes em países onde tinham negócios também não é diferente do que fazem outras, com outros ex-chefes de Estado….

Acharam-se, então, o “triplex” e o sítio.

À gente hipócrita, qualquer argumento serve. Ainda que se dispensem as provas do “dizem que é”, será que não salta aos olhos a escandalosa desproporção que seria o “líder da propinocracia” (como dizem eles), “do maior esquema de corrupção do mundo “(como dizem eles), onde foram desviados (dizem eles) bilhões de dólares tenha ganho, por este posto, um triplex “merreca”, numa praia “merreca” ou um puxadinho “furreca” num sítio na periferia de São Paulo.

Simples diretores, terceiro e quarto escalões, surgiram com contas escandalosas, de dezenas e centenas de milhões de dólares e o “chefão” fica com essa mixórdia?

E assim mesmo, sem provas, menos ainda cabais, de que isso tenha sido doado e muito menos que tenha a ver com os tais esquemas de corrupção, ao ponto de o Dr. Moro ter de se contorcer em 238 páginas para condená-lo com base essencialmente no que um empresário, para se livrar da cadeia, diz sem ter qualquer documento que comprove ao menos a promessa do apartamento.

É evidente para qualquer um – e os colunistas dos grandes jornais, quase todos, o comemoram – que a finalidade do processo não é fazer justiça, mas destruir politicamente Lula.

Pode ser – e ainda assim há dúvidas – que o consigam no curto prazo ou até que o impeçam de concorrer.

O mundo, que não assiste a Globo, está perplexo com o que se passa com o homem que fez o Brasil existir no planeta.

Mas a realidade está aí e a crise galopa, atropelando com seus cascos as vidas humanas e a referência de Lula vai tomando ares míticos, queira-se ou não.

A elite intelectual deste país – inclusive a que se diz de “esquerda moderna” que, depois da reforma trabalhista, estar chorando lágrimas de arrependimento sobre tudo o que disse da CLT “paternalista” de Vargas – não consegue compreender a memória popular e não vê que reedita, com Lula, as frases de agosto de 54.

Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência.

Lula, contra a sua vontade, está sendo transformado num mártir.

Cuidem-se, senhores: talvez o futuro os faça sentir saudades do Lula.

Mas de outro Lula, o “Lulinha Paz e Amor”.

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