quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Pela mais ampla liberdade de expressão

Reproduzo documento do Centro de Estudos Barão de Itararé, lido durante o ato que lotou o auditório do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo na noite desta quinta-feira, 23 de setembro:

O ato “contra o golpismo midiático e em defesa da democracia”, proposto e organizado pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, adquiriu uma dimensão inesperada. Alguns veículos da chamada grande imprensa atacaram esta iniciativa de maneira caluniosa e agressiva. Afirmaram que o protesto é “chapa branca”, promovido pelos “partidos governistas” e por centrais sindicais e movimentos sociais “financiados pelo governo Lula”. De maneira torpe e desonesta, estamparam em suas manchetes que o ato é “contra a imprensa”.

Diante destas distorções, que mais uma vez mancham a história da imprensa brasileira, é preciso muita calma e serenidade. Não vamos fazer o jogo daqueles que querem tumultuar as eleições e deslegitimar o voto popular, que querem usar imagens da mídia na campanha de um determinado candidato. Esta eleição define o futuro do país e deveria ser pautada pelo debate dos grandes temas nacionais, pela busca de soluções para os graves problemas sociais. Este não é momento de baixarias e extremismos. Para evitar manipulações, alguns esclarecimentos são necessários:

1. A proposta de fazer o ato no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo teve uma razão simbólica. Neste auditório que homenageia o jornalista Vladimir Herzog, que lutou contra a censura e foi assassinado pela ditadura militar, estão muitos que sempre lutaram pela verdadeira liberdade de expressão, enquanto alguns veículos da “grande imprensa” clamaram pelo golpe, apoiaram a ditadura – que torturou, matou, perseguiu e censurou jornalistas e patriotas – e criaram impérios durante o regime militar. Os inimigos da democracia não estão no auditório Vladimir Herzog. Aqui cabe um elogio e um agradecimento à diretoria do sindicato, que procura manter este local como um espaço democrático, dos que lutam pela verdadeira liberdade de expressão no Brasil.

2. O ato, como já foi dito e repetido – mas, infelizmente, não foi registrado por certos veículos e colunistas –, foi proposto e organizado pelo Centro de Estudos Barão de Itararé, entidade criada em maio passado, que reúne na sua direção, ampla e plural, jornalistas, blogueiros, acadêmicos, veículos progressistas e movimentos sociais que lutam pela democratização da comunicação. Antes mesmo do presidente Lula, no seu legítimo direito, criticar a imprensa “partidarizada” nos comícios de Juiz de Fora e Campinas, o protesto contra o golpismo midiático já estava marcado. Afirmar o contrário, insinuando que o ato foi “orquestrado”, é puro engodo. Tentar atacar um protesto dos que discordam da cobertura da imprensa é tentar, isto sim, censurar e negar o direito à livre manifestação, o que fere a própria Constituição. É um gesto autoritário dos que gostam de criticar, mas não aceitam críticas – que se acham acima do Estado de Direito.

3. Esta visão autoritária, contrária aos próprios princípios liberais, fica explícita quando se tenta desqualificar a participação no ato das centrais sindicais e dos movimentos sociais, acusando-os de serem “ligados ao governo”. Ou será que alguns estão com saudades dos tempos da ditadura, quando os lutadores sociais eram perseguidos e proibidos de se manifestar? O movimento social brasileiro tem elevado sua consciência sobre o papel estratégico da mídia. Ele é vítima constante de ataques, que visam criminalizar e satanizar suas lutas. Greves, passeatas, ocupações de terra e outras formas democráticas de pressão são tratadas como “caso de polícia”, relembrando a Velha República. Nada mais justo que critique os setores golpistas e antipopulares da velha mídia. Ou será que alguns veículos e até candidatos, que repetem o surrado bordão da “república sindical”, querem o retorno da chamada “ditabranda”, com censura, mortos e desaparecidos? O movimento social sabe que a democracia é vital para o avanço de suas lutas e para conquista de seus direitos. Por isso, está aqui! Ele não se intimida mais diante do terrorismo midiático.

4. Por último, é um absurdo total afirmar que este ato é “contra a imprensa” e visa “silenciar” as denúncias de irregularidades nos governos. Só os ingênuos acreditam nestas mentiras. Muitos de nós somos jornalistas e sempre lutamos contra qualquer tipo de censura (do Estado ou dos donos da mídia), sempre defendemos uma imprensa livre (inclusive da truculência de certos chefes de redação). Quem defende golpes e ditaduras, até em tempos recentes, são alguns empresários retrógrados do setor. Quem demite, persegue e censura jornalistas são os mesmos que agora se dizem defensores da “liberdade de imprensa”. Somos contra qualquer tipo de corrupção, que onera os cidadãos, e exigimos apuração rigorosa e punição exemplar dos corruptos e dos corruptores. Mas não somos ingênuos para aceitar um falso moralismo, típico udenismo, que é unilateral no denuncismo, que trata os “amigos da mídia” como santos, que descontextualiza denúncias, que destrói reputações, que desrespeita a própria Constituição, ao insistir na “presunção da culpa”. Não é só o filho da ex-ministra Erenice Guerra que está sob suspeição; outros filhos e filhas, como provou a revista CartaCapital, também mereceriam uma apuração rigorosa e uma cobertura isenta da mídia.

5- Neste ato, não queremos apenas desmascarar o golpismo midiático, o jogo sujo e pesado de um setor da imprensa brasileira. Queremos também contribuir na luta em defesa da democracia. Esta passa, mais do que nunca, pela democratização dos meios de comunicação. Não dá mais para aceitar uma mídia altamente concentrada e perigosamente manipuladora. Ela coloca em risco a própria a democracia. Vários países, inclusive os EUA, adotam medidas para o setor. Não propomos um “controle da mídia”, termo que já foi estigmatizado pelos impérios midiáticos, mas sim que a sociedade possa participar democraticamente na construção de uma comunicação mais democrática e pluralista. Neste sentido, este ato propõe algumas ações concretas:

- Desencadear de imediato uma campanha de solidariedade à revista CartaCapital, que está sendo alvo de investida recente de intimidação. É preciso fortalecer os veículos alternativos no país, que sofrem de inúmeras dificuldades para expressar suas idéias, enquanto os monopólios midiáticos abocanham quase todo o recurso publicitário. Como forma de solidariedade, sugerimos que todos assinemos publicações comprometidas com a democracia e os movimentos sociais, como a Carta Capital, Revista Fórum, Caros Amigos, Retrato do Brasil, Revista do Brasil, jornal Brasil de Fato, jornal Hora do Povo, entre outros; sugerimos também que os movimentos sociais divulguem em seus veículos campanhas massivas de assinaturas destas publicações impressas;

- Solicitar, através de pedidos individuais e coletivos, que a vice-procuradora regional eleitoral, Dra. Sandra Cureau, peça a abertura dos contratos e contas de publicidade de outras empresas de comunicação – Editora Abril, Grupo Folha, Estadão e Organizações Globo –, a exemplo do que fez recentemente com a revista CartaCapital. É urgente uma operação “ficha limpa” na mídia brasileira. Sempre tão preocupadas com o erário público, estas empresas monopolistas não farão qualquer objeção a um pedido da Dra. Sandra Cureau.

- Deflagrar uma campanha nacional em apoio à banda larga, que vise universalizar este direito e melhorar o PNBL recentemente apresentado pelo governo federal. A internet de alta velocidade é um instrumento poderoso de democratização da comunicação, de estimulo à maior diversidade e pluralidade informativas. Ela expressa a verdadeira luta pela “liberdade de expressão” nos dias atuais. Há forte resistência à banda larga para todos, por motivos políticos e econômicos óbvios. Só a pressão social, planejada e intensa, poderá garantir a universalização deste direito humano.

- Apoiar a proposta do jurista Fábio Konder Comparato, encampada pelas entidades do setor e as centrais sindicais, do ingresso de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) por omissão do parlamento na regulamentação dos artigos da Constituição que versam sobre comunicação. Esta é uma justa forma de pressão para exigir que preceitos constitucionais, como o que proíbe o monopólio no setor ou o que estimula a produção independente e regional, deixem de ser letra morta e sejam colocados em prática. Este é um dos caminhos para democratizar a comunicação.

- Redigir um documento, assinado por jornalistas, blogueiros e entidades da sociedade civil, que ajude a esclarecer o que está em jogo nas eleições brasileiras e que o papel da chamada grande imprensa tem jogado neste processo decisivo para o país. Ele deverá ser amplamente divulgado em nossos veículos e será encaminhado à imprensa internacional.

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Quem ameaça a liberdade de expressão?

Reproduzo artigo de Eduardo Guimarães, publicado no Blog da Cidadania:

Os que participaremos do ato público de hoje contra o golpismo midiático jamais dissemos uma só palavra de ameaça à liberdade de expressão. A maioria de nós é composta por pessoas que, de uma forma ou de outra, bem sabem o preço que o país pagou durante um período em que não havia liberdade de imprensa ou de qualquer outro tipo de expressão do pensamento.

A ditadura militar que este país viveu entre 1964 e 1985, que só permitiu a eleição de um presidente civil depois de vinte e um anos, foi quem, a qualquer tempo da história mais recente, atentou contra as liberdades individuais, das quais a liberdade de imprensa e de expressão do pensamento emergem como os valores de mais alto relevo.

A ditadura militar que se instalou neste país na segunda metade do século XX foi gestada por aqueles contra os quais protestaremos hoje. Impérios de comunicação como as Organizações Globo, o Grupo Folha e o Grupo Estado, pelo menos, fizeram campanha pela derrubada do governo Jango Goulart no auge daquele ano que tardou mais 21 anos para terminar.

A campanha denuncista que esses empresários da comunicação moveram há 46 anos contra o governo do qual não gostavam, mas que fora eleito de forma inquestionavelmente legítima e democrática, foi usada como justificativa pelos chefes militares da nação para derrubarem aquele governo e, posteriormente, perpetuarem-se no poder pelas duas décadas seguintes.

No começo, essa imprensa sustentou e legitimou o golpe de Estado que ajudou a dar com opiniões e notícias distorcidas em seus veículos, um noticiário que, hoje, nos volta à mente. Contudo, como todos sabem como começa uma ditadura mas ninguém nunca sabe como termina, os veículos de apoio ao golpismo acabaram virando alvo dos que executaram o golpe.

Quando despertaram de seus devaneios totalitários de calarem e esmagarem os divergentes, já era tarde. As redações dos que pediram o golpe encheram-se de esbirros do regime, que proibiam a divulgação de tudo o que não lhes interessava ver divulgado, sobretudo as opiniões discordantes do que estava acontecendo no país.

Hoje, tantas décadas depois, os mesmos Globo, Folha, Veja, Estadão e alguns outros voltam à campanha denuncista contra o governo legitimamente eleito da vez, exatamente como fizeram há quase meio século. Em 2014 o país assistirá ao cinqüentenário da “revolução” de 1964 sem que esses magnatas das comunicações tenham compreendido que perderam o poder de derrubar governos dos quais não gostem, substituindo-os por amigos.

Estarmos em um ato público de denúncia do histórico golpismo midiático de que padecem essas poucas famílias que controlam a comunicação no Brasil, que chegam a usar concessões públicas de rádio e tevê, que pertencem a cidadãos de todas as ideologias e preferências políticas, para favorecerem políticos amigos e atacarem seus adversários, é prova de que o Brasil mudou.

Um dia, as famílias Marinho, Frias, Mesquita, Civita e mais algumas de menor poder econômico lograram calar as vozes dos seus críticos valendo-se de aliança com o grande empresariado, com os estratos superiores da pirâmide social e com as Forças Armadas. Hoje, entretanto, não se sabe se as tropas desta última instituição se dariam à loucura de romper a legalidade institucional.

Como nunca se sabe se os milhares de brasileiros engajados nas Forças Armadas e subordinados a chefes militares entre os quais figuram aqueles que um dia violaram a democracia brasileira seriam obedientes a ordem desses superiores de implementarem novo golpe, foi convocado um ato contra o golpismo midiático histórico que vige neste país.

O que se quer, com o protesto contra o golpismo, não é calar as vozes daqueles que se contrapõem ao governo que a maioria indiscutível e ampla dos brasileiros elegeu. O que se quer é que esses que são destinatários de arcas incontáveis de dinheiro público tenham responsabilidade social no trabalho que fazem.

Responsabilidade social da imprensa, pois, é ela dar à sociedade todos os fatos, todas as versões desses fatos e todas as opiniões de todos os lados envolvidos na disputa política pelo governo da nação. E é por isso que peço apoio de todos os brasileiros ao protesto democrático contra o histórico golpismo midiático que flagela este país há tanto tempo.

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Ato desta quinta é contra o golpismo

Reproduzo matéria de Luana Bonone, publicada no sítio Vermelho:

Nesta quinta-feira (23) defensores contumazes da liberdade de expressão participam do ato contra a mídia golpista promovido pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé. O ato ocorre a partir das 19h, no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. No Rio de Janeiro, movimentos de juventude organizam ato contra o golpismo da mídia a partir das 15h.

“A ideia do ato é criticar, exercer o direito da crítica aos grandes veículos de comunicação - porque eles pensam que só eles podem criticar – pela cobertura enviesada, que fazem da eleição”, explica o presidente do Barão, Altamiro Borges, conhecido por blogueiros de todo o país como Miro.

O grau de denuncismo da chamada grande mídia tem surpreendido até veteranos da análise política, como o jornalista Venício de Lima, que considera que “eles exageraram na dose”, e o vice-presidente do Vox Populi, Marcos Coimbra, que considera impressionante a quantidade de ataques que os grandes veículos têm direcionado ao governo e à sua candidata.

Judith Brito, a oposicionista

A declaração da presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Judith Brito, ao jornal O Globo em março deste ano expressa de forma mais bem acabada o papel partidarizado da chamada grande mídia no Brasil: “obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada. E esse papel de oposição, de investigação, sem dúvida nenhuma incomoda sobremaneira o governo”, defendeu tranquilamente a presidente da ANJ.

Miro esclarece que a opinião deste movimento pela democratização da mídia é a de que é preciso apurar as denúncias, mas questiona o denuncismo, ou seja, acusações que visam minar a imagem de pessoas ou instituições e, para tanto, “buscam como fonte até mesmo bandidos, um sujeito que ficou anos na cadeia por corrupção”. Miro denuncia ainda que os veículos de maior circulação ignoram os escândalos que atingem os demo-tucanos: “parece que não existe mais Arruda, ou a mansão da Yeda... o jornalista da Carta Capital Leandro Fortes fez uma belísssima reportagem denunciando que mais de 60 milhões de brasileiros tiveram o sigilo bancário quebrado em uma operação da empresa da filha do Serra com o banqueiro Daniel Dantas e isso não tem repercussão”, completa.

Ato propositivo

Para combater a onda denuncista, além do protesto, o ato desta quinta à noite pretende aprovar ao menos três propostas: a primeira é uma campanha de solidariedade à revista Carta Capital, que tem sido alvo constante de ataques; a segunda proposta é justamente a de que a Vice-Procuradora Geral Eleitoral Sandra Cureau – que investiga a regularidade da publicidade oficial na Carta Capital a partir de “denúncia de um cidadão comum” – investigue também as contas e a publicidade da Editora Abril, pela grande quantidade de dinheiro que recebe do governo tucano de São Paulo, da Folha de S. Paulo, do Estado de S. Paulo, e da Globo.

A terceira proposta é a elaboração de uma carta denunciando o golpismo da grande mídia basileira, a ser enviada aos veículos de comunicação de outros países, à medida que “a mídia estrangeira tem nos parecido mais ‘esperta’ que a nacional, ao menos pelo que tem sido publicado no ‘El País’, por exemplo”, provoca Miro.

O ato, organizado pela Barão, contará com a presença de blogueiros, jornalistas, movimentos sociais e militantes de partidos políticos. Altamiro Borges faz questão de esclarecer que o ato tem caráter amplo, tendo inclusive a participação de pessoas que não apoiam o governo Lula, mas que são críticas à postura da chamada grande mídia. “Temos sido acusados de promover um ato do PT, do presidente Lula, das centrais sindicais, fechado e contra a mídia. É importante esclarecer que o ato foi pensado antes do próprio presidente Lula soltar suas críticas à imprensa, que se trata de um ato amplo, organizado pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, e que nele estarão justamente as pessoas que foram vítimas da censura no Brasil e que, portanto, são as maiores defensoras da liberdade de expressão”.

O ato contra o golpismo da mídia foi citado na coluna de hoje do Merval Pereira (O Globo): "está programada também para hoje em São Paulo uma manifestação contra a chamada 'grande imprensa', com o apoio do PT, da CUT, da UNE e várias organizações não governamentais, e os que se autointitulam 'blogueiros independentes', todos, sem exceção, financiados pelo dinheiro público".

A denúncia é tão vazia que não buscou se informar sobre a prestação de contas do 1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, também promovido pela Barão de Itararé, que reuniu mais de 300 pessoas de 19 estados brasileiros sem um tostão de verba pública - diferente do Globo, que não tem qualquer pudor em exibir constantemente publicidade oficial ao mesmo tempo em que critica entidades do movimento social por receberem verbas públicas para o desenvolvimento de projetos.

A la Barão

Ironizando o "Manifesto em Defesa da Democracia" lançado nesta quarta-feira (22), articulado pelo empresariado que comanda os grandes jornais paulistas e com um tom anti-Lula e pró-grande mídia, Miro dispara: “Bicho, fiquei ipressionado com a reação dos caras... [o nosso] era um ato singelo”, e completa ao melhor estilo do próprio Barão de Itararé: “eles não têm senso de humor”.

Serviço:

Ato contra o golpismo midiático

São Paulo
Data: 23 de setembro, 19 horas
Local: Auditório do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (Rua Rego Freitas, 530, próximo ao Metrô República, centro da capital paulista).


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Um ato em defesa da liberdade de expressão

Reproduzo o belo artigo de Brizola Neto, publicado no blog Tijolaço:

O discurso histórico de Lula em Campinas, no qual apontou a manipulação da grande imprensa nessas eleições e anunciou que ela seria derrotada no dia 3 de outubro, acendeu o pânico nas hostes midiáticas tradicionais.

Quase não houve jornais – e foram raros os colunistas – que não escrevessem contra o presidente, acusando-o de atentar contra a liberdade de imprensa e de não saber lidar com a crítica. As entidades patronais, como a Associação Nacional de Jornais e a Sociedade Interamericana de Imprensa, foram mobilizados para redigir notas de protesto e a oposição, naturalmente, endossou o caro para tentar tirar uma casquinha eleitoral.

O bombardeio voltou-se hoje ao ato contra o golpismo midiático, que acontece amanhã na sede do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo. Sem compromisso com a verdade, os jornais acusam o PT de organizar o protesto, como se o ato fosse produto de um partido.

A verdade que a grande mídia oculta é que esse ato reúne uma parcela representativa da socieddade, que não tolera mais as manipulações que se repetem a cada eleição. E essa parcela não é representada ou dirigida pelo PT, como tentam fazer crer os jornais e seus colunistas. Ao contrário, eles partiram da mesma internet que eles glorificam quando trata de futilidades.

O ato foi convocado pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, que reúne em seu conselho consultivo 54 jornalistas, blogueiros, acadêmicos, veículos progressistas e movimentos sociais ligados à luta pela democratização da comunicação.

A grande imprensa procura disseminar o raciocínio maniqueista de que Lula coloca o povo contra a elite, que seria “formada por pessoas que perdem tempo com leituras e que por isso se julgam no direito de avaliar criticamente o desempenho dos governantes”, como escreveu o Estadão em seu editorial de ontem.

O elitismo expresso pelo Estadão é o de que só essa parcela da sociedade tem capacidade de crítica e compreensão política. O povo, os movimentos sociais, coitados, são massa de manobra.

Os organizadores do ato contra o golpismo midiático podem ser incluídos entre a elite no sentido de formação educacional e cultural e, mesmo assim, estão contra as manipulações da imprensa. E nem precisariam ter tais qualificações. Bastaria serem brasileiros indignados com o que lêem, ouvem e vêem todos os dias nos noticiários.

Mas a liberdade que defendem só tem um lado. O deles.

Os verdadeiros defensores da liberdade de imprensa e expressão são os que se manifestam nesse momento contra as baixarias da velha mídia, que chama Lula de Chávez, mas que se equipara cada vez mais a militante mídia venezuelana, que partidariza seu noticiário e se transforma na imagem reversa daquilo que critica no poder.

Porque sagrada não é a liberdade das empresas de comunicação, embora elas tenham todo o direito de existir, dentro das regras sociais conhecidas com “lei”. Sagrada é a liberdade de informação, onde cada um é uma boca, um ouvido, um olho, um voto.

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O jogo político após as eleições

Reproduzo artigo de Luis Nassif, publicado em seu blog:

Nessa reta final de campanha, o jogo político pós-eleições ficou algo confuso.

No início da campanha, o comitê de José Serra trabalhava com a idéia de ganhar em São Paulo pela diferença de 5 milhões de votos. Os mais otimistas falavam em 6 milhões. No PT, a estimativa mais otimista era perder de 2,5 milhões de votos. As pesquisas, até agora, tem apontado a possibilidade de Dilma vencer em São Paulo com diferença de 2,5 milhões de votos.

Por outro lado, há possibilidades concretas das eleições para governador irem para segundo turno. Mesmo confirmando o favoritismo de Geraldo Alckmin, haverá uma polarização das eleições em outras condições. E aí ficarão claras as vulnerabilidades tanto do PSDB quanto do PT paulistas: despreocupação com renovação, com a ampliação de alianças.

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Em relação à política nacional, o quadro é complexo para a oposição. Numa ponta, haverá grande aumento da bancada tanto do PT quanto da base aliada. Na outra, haverá a necessidade da construção de uma nova oposição. E aí se esbarra em problemas criados pela campanha de José Serra.

Em geral, constrói-se um novo caminho político durante a derrota. Quando se percebe que a derrota é inevitável, a campanha do derrotado deve ser feita pensando no segundo tempo, no pós-eleições.

A campanha de Serra mostrou uma enorme resistência do eleitorado a discursos raivosos. As últimas pesquisas “tracking” (pesquisas diárias com universo restrito de eleitores) mostra que no máximo se consegue uma migração de parte pequena dos votos de Dilma para Marina.

No debate da Mais TV, por exemplo, a emissora montou um laboratório presencial com 26 eleitores que tinham simpatias por algum candidato, mas não um voto definido. Quando o debate começou, Serra tinha 7 simpatizantes. Terminou com apenas um. Dilma terminou com 11, Marina com 10 e Plinio com 4.

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Mesmo sabendo dessa falta de eficácia da agressividade, Serra acabou complicando enormemente a reconstrução da futura oposição.

Aécio Neves deverá assumir a liderança do processo. Embora seu discurso seja o da oposição civilizada, herdará um contingente de seguidores pequeno, mas fortemente influenciado pela raiva exarada pela campanha de Serra.

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Outro ponto complicado será o papel da grande mídia – do eixo Rio-São Paulo.

Num momento de fortalecimento da mídia regional, da entrada de novos atores no mercado, da migração de parte das receitas publicitárias para a Internet, a grande mídia entra em uma armadilha. Envolveu-se mais do que devia na campanha e acabou jogando a derrota em seu colo, sem precisar.

A radicalização afastou parte dos leitores. A parte que ficou obviamente endossa a linha adotada. Mantendo a linha, terá dificuldades em ampliar o espectro de leitores. Mudando a linha, correrá risco de se indispor com leitores remanescentes.

E isso em um momento em que a catarse política foi tão violenta que, passadas as eleições, provocará uma espécie de cansaço na opinião pública em geral.

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Udenismo é tentação dos que perdem força

Reproduzo artigo de Maria Inês Nassif, intitulado "Quadro partidário paga o preço do passado", publicado no jornal Valor Econômico:

Não se constroem partidos do nada. Foi um excessivo otimismo imaginar que o Brasil iria sair de uma ditadura de 21 anos, 13 deles com partidos legais construídos à imagem e semelhança do regime ditatorial, e de imediato iriam surgir partidos orgânicos e prontos para a democracia que se conquistava. Mais que isso, era difícil imaginar que as definições partidárias ocorreriam sem que o país pagasse pelo arcaísmo político embalado não apenas pelo regime militar, mas também pelo período democrático de 1945-1964 e pelo varguismo. Antes do bipartidarismo, o crescimento do PTB acabou desequilibrando um poder político oligárquico, que se compunha conforme suas conveniências para conseguir chegar ao poder pelo voto, e uma oposição desenraizada das bases que namorou e acabou casando com o golpismo.

Não se apaga o passado político, muito menos por ato institucional. A ditadura, que se justificava como um “contra-golpe” à ação das esquerdas que se organizavam em lutas populares, acabou com os partidos políticos mas não com as oligarquias; matou na base um partido de massas, o PTB, que começava a se cristalizar; desorganizou os movimentos populares que poderiam dar massa orgânica aos partidos; reforçou nas elites a percepção de que o Brasil precisa sempre um poder “moderador”, seja um rei, as Forças Armadas ou uma elite com um enorme poder de pressão sobre a máquina de governo, o Congresso e os partidos tradicionais.

O envolvimento de elites que deram decisivo apoio, no momento seguinte, aos movimentos pela redemocratização, deu aos partidos que se definiam, nesse momento, à direita, à esquerda ou ao centro, a impressão de que levaram juntos consensos que seriam eternos. Os movimentos de massa pelas eleições diretas, depois pelas eleições de Tancredo Neves, foram raros momentos de unidade efetiva entre partidos e massas. Uma ilusão de consenso idílico.

No momento da normalização democrática, construir partidos com bases e dar composição orgânica a eles tornou o pós-ditadura menos idílico. Sem know-how de partidos de massas, o Brasil se viu novamente construindo acordos partidários com as velhas oligarquias e construindo novas – o antigo MDB foi uma fonte inestimável de formação de “oligarquias emergentes”. A origem do atual quadro partidário são três: a Arena, que trouxe junto a UDN e parte do PSD; o MDB, que captou os antigos trabalhistas, parte do PSD e outros partidos; e os movimentos de massa que construíram o sindicalismo dos anos 80 e as grandes mobilizações de rua pró-Diretas e pró-Tancredo.

De todo o quadro partidário pós-ditadura, o que deve sobrar no pós-Lula é o PT, que fugiu ao modelo dos demais partidos, o PSB, que fica no meio do caminho e os pequenos partidos ideológicos. Vinte e cinco anos depois da ditadura, o país amarga de novo um momento de enorme instabilidade partidária. Depois das eleições, com ou sem dificuldades legais para a formação de novos partidos ou para realinhamento partidário dos atores políticos, será inevitável que isso aconteça.

O problema é que deve acontecer uma reestruturação partidária à imagem e semelhança da ocorrida a partir de 1979, quando a formação de partidos seguiu mais a lógica de interesses regionais de grupos políticos, ou o interesse pessoal de lideranças, do que propriamente o alinhamento ideológico.

Ainda assim, como os partidos – à exceção do PT, o único que construiu e manteve uma estrutura partidária mais orgânica -, no modelo atual, não conseguem sobreviver muito tempo longe do poder, que alimenta os apoios a nível regional, o realinhamento deve ocorrer muito mais em torno do governo eleito do que propriamente uma rearticulação da oposição. A oposição, se não apresentar uma alternativa menos udenista para os políticos que estão se desinfileirando de propostas mais radicais, corre o risco de inchar o PMDB – um jeito de aderir ao governo recém-eleito e provavelmente com maioria parlamentar sem dizer que está aderindo.

O problema é que, o que sobrar de oposição, terá uma força mínima dentro do Congresso. A tentação do udenismo, nessa situação, aumenta muito. A instabilidade partidária, nesse caso, pode ser um fator de desestabilização da própria democracia.

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Quando o meliante grita: “Pega o ladrão!”

Reproduzo artigo de Lula Miranda, publicado no sítio Carta Maior:

Reflitamos um pouco sobre a confusão que pode ficar na cabeça do cidadão comum, do trabalhador, da dona de casa, do estudante, do aposentado acerca dessa falsa polêmica propagandeada nos dias que correm, com alarde e estridência, pela grande imprensa. A saber: somos nós “do lado de cá” [das esquerdas] que somos “antidemocráticos”, “chavistas” e tentamos “controlar”/ “tutelar” [sic] a mídia ou é, em verdade, essa mesma mídia dos grandes veículos, que é, ela sim, antidemocrática, oligopolizada, parcial, “de direita” e a serviço de um “golpismo” despudorado ora em curso; somando esforços e cumplicidade com a oposição conservadora, e se utilizando, inclusive, de meios espúrios para tentar vencer o presente pleito “no tapetão”, “no grito”? Qual das duas versões tem respaldo na realidade e compromisso fidedigno com a tal verdade factual? Que “versão” prevalecerá? Existem nuances? A verdade vencerá. A verdade nos libertará dos que hoje tentam, como em tempos idos, nos subjugar.

Relato a seguir um episódio ocorrido comigo para ilustrar e lançar um pouco de luz sobre esse caso e assim facilitar a compreensão do cidadão comum do que está por detrás dessa bem urdida ambigüidade lógica (não seria o velho “duplipensar”?), agora estrategicamente plantada em manchetes tão alarmistas e exageradas quanto destituídas de sentido. À falta da chibata, com essa grita pretendem nos calar pelo hálito quente e pestilento da intimidação da “autoridade”? Pelo medo? Não mais nos intimidarão com o simples estalido do couro; não nos calarão.

Passeava ao entardecer, tranqüilamente, com minha mulher pelas ruas arborizadas do bairro onde resido, ouvindo o canto dos sabiás, quando, de repente, o cantar dos pássaros deu lugar aos gritos desesperados de uma senhora: “Roubou meu celular! Socorro! Ele roubou meu celular!”. Num átimo, fomos retirados, abruptamente, da nossa realidade idílica e tranqüila por aquele pedido de socorro.

Ao direcionar meu olhar e atenção para aquela nova realidade que me/nos engolfava, avistei a senhora, mas também percebi um jovem que passava bem próximo a mim correndo e também gritando: “Pega o ladrão! Pega o ladrão”! Pude perceber, à distância, sua fisionomia crispada [a lhe trair e denunciar a culpa?], e ainda pude ver/perceber quando ele, à sorrelfa, colocou um celular [seria o roubado?] no bolso de trás da sua calça. Quando consegui “amarrar” a lógica um tanto confusa daquela cena de forma definitiva, e assim compreender o que se passava diante de meus olhos, o jovem já havia “sumido” na esquina mais próxima. Restou-me então a tarefa de dissuadir aquela senhora do impulso de prosseguir em perseguição ao meliante e consolá-la quanto ao objeto surrupiado.

Perceberam a lógica da minha argumentação? Onde a malandragem e o ilusionismo de certos jornalistas pretendem nos levar? Qual o ardil dos velhacos que ora nos acusam? Eu que os acuso, velhacos!

Sabemos todos que é função primordial da imprensa fiscalizar os poderes instituídos e zelar pela boa gestão da coisa pública. É da essência do jornalismo – e, com o perdão do pleonasmo retórico, é fundamental/essencial que assim seja. A liberdade de expressão e de imprensa é, principalmente para nós da chamada “imprensa alternativa”, algo sagrado, “o princípio dos princípios”.

Lembro-lhes ainda, sem alarde, jactância ou malícia, outros princípios que me/nos são caros e que, “utópicos”, “idealistas” buscamos: imparcialidade, pluralismo, transparência, compromisso inegociável com o leitor e com o Estado Democrático de Direito. Portanto, mentem, covardemente [pois falam da altura de impérios já em ruínas], os que pretendem nos impingir a pecha de “autoritários” e “antidemocráticos”. É grosseira aleivosia e infâmia. Mais uma.

Por que (re)clamamos contra o jornalismo praticado pelo grandes veículos? Simplesmente não podemos aceitar, bovinamente, que apenas os atos e funcionários do governo do presidente Lula sejam investigados e sofram esse verdadeiro bombardeio de denúncias – coincidentemente às vésperas de uma eleição. Furtiva coincidência, não? Por que agora não aparecem também denúncias envolvendo autoridades dos governos municipais e estaduais, e de outros partidos? Todos os cidadãos – de todos os partidos e classes sociais – se incorrerem em atos delituosos deverão ser submetidos à investigação, inquérito e julgamento. Porém, o princípio da presunção da inocência deve ser preservado e respeitado. Ninguém pode ser condenado por uma denúncia, por uma manchete de jornal.

Não nos calaremos, (re)clamaremos novamente e sempre, por exemplo, quando associarem indevida e criminosamente malfeitos diversos à candidata Dilma Rousseff em manchetes de capa dos “jornalões” e nas chamadas dos noticiários da TV. Malfeitos esses que, sabe-se de antemão, são nitidamente descabidos. Visam, tão-somente, trazer prejuízos eleitorais à candidata.

Pergunta-se: o franco favorecimento de determinado candidato pelos meios não seria um crime eleitoral, haja vista querer corromper/conspurcar a livre manifestação do eleitor? Sim, trata-se de flagrante crime contra a democracia. Não poderíamos mesmo nos calar diante desse estado de coisas, desse “denuncismo” seletivo e estrategicamente oportunista. Isso fede a golpe. Já assistimos a esse filme, muito recentemente, na Venezuela e em Honduras. Já vimos esse filme, aqui mesmo, no pleito de 2006!

Então fica a pergunta: quem são os “autoritários” de fato, os “antidemocráticos”, os “golpistas? Tal carapuça não caberia mais confortavelmente na cabeça dos “do lado de lá” [Folha, “Estadão”, Globo, Veja etc.]?! Os mesmos que serviram à ditadura – é fato. Não seriam “golpistas”, em verdade, as vivandeiras que ainda servem aos fantasmas dos quartéis e que hoje fazem sua pregação, contaminada pelo ódio, a militares de provecta idade, já na reserva? Os que mimetizaram o mandonismo e arrogância de parte de nossa elite [para sorte do país, uma parte insignificante dessa elite, registre-se]. Os que não se conformam com os rumos democráticos que o Brasil segue – um novo Brasil, um país para todos os brasileiros.

“Eles”, como que condenados ao atavismo maldito daqueles que mandavam antes deles, estavam/estão habituados a empunhar a chibata dos tempos de escravidão; acostumados com os préstimos de seus capitães-do-mato; seus capatazes; seus sabujos; seus “pelegos”, que permitiam, seja nas fábricas ou nos escritórios, a exploração dos trabalhadores à exaustão. Sim, claro, como conseqüência disso, “eles” também não gostam de sindicalistas – e não fazem a menor questão em esconder esse “detalhe” tão revelador do quê e de como pensam.

A grande imprensa se comporta hoje tal qual o meliante desse episódio do cotidiano relatado acima. Agora, de forma “malandra”, grita a plenos pulmões: “Pega o ladrão! Pega o ladrão!”. E, em meio ao alarido e confusão dos incautos, pretende, sorrateiramente, passar com sua malícia criminosa e seguir impunemente. Porém, muitos já estão se dando conta de quem é o ladrão da história. “Eles” pretendem roubar a nossa utopia. Não passarão!

E que os intolerantes não ousem mais jogar seus perdigueiros no encalço dos justos. Que os escroques, travestidos de lobistas, a serviço das máfias e das Gestapos da política e da imprensa, sejam previamente identificados e escorraçados de toda a administração pública. Seus capitães-do-mato, seus pitbulls, seus reis e ratos de esgoto são apenas espectros do passado. Não mais nos assustam.

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Razões para a hostilidade crescente

Reproduzo artigo de Venício Lima, publicado no Observatório da Imprensa:

O processo eleitoral e a indisfarçável partidarização revelada na cobertura jornalística dos principais veículos da grande mídia provocaram, nas últimas semanas, reações cada vez mais explícitas e contundentes por parte do próprio presidente da República. Por outro lado, o atual governo chegará ao seu término enfrentando uma hostilidade crescente por parte desses veículos. A virulência dos ataques de editoriais e colunistas contra o governo e o próprio presidente Lula encontram poucos e raros paralelos na história política brasileira.

A hostilidade entre alguns veículos e o governo é agora, mais do que antes, inegavelmente recíproca e pública.

Razões intrigantes

Nesse contexto, diante da proximidade das eleições e da provável vitória da candidata apoiada pelo atual governo – aos quais esses veículos fazem oposição explícita – é inevitável que surjam questões que não só busquem compreender o que vem acontecendo no processo eleitoral, mas, sobretudo, questões prospectivas de como poderão ser as relações da grande mídia com o próximo governo.

Uma questão, em particular, desafia o senso comum: afinal, quais razões teriam levado os principais grupos da grande mídia a fazer oposição sistemática a um governo que continua a contar com maciço apoio popular?

Um observador da mídia que não tem acesso a informações dos bastidores do poder – nem propriamente político, nem midiático – por óbvio, também não tem como responder a essa pergunta. Todavia, é intrigante a constatação do que está a ocorrer.

No Brasil, ao contrário do que acontece em alguns países da América Latina, os oito anos de governo Lula não representaram a mais remota ameaça à grande mídia. Em nossos vizinhos, apesar da oposição de grupos dominantes de mídia, foram democraticamente eleitos governos que tomaram a iniciativa de rever e/ou propor nova regulação para o setor de comunicações, desafiando interesses historicamente enraizados. Aqui nada disso ocorreu.

A grande mídia nativa não foi objeto de qualquer regulação ou saiu derrotada de qualquer disputa em relação às políticas públicas do setor de comunicações. Basta verificar que nos projetos (ou mesmo pré-projetos) e programas nos quais ela considerou estarem seus interesses ameaçados, houve recuo do governo Lula e/ou os projetos não lograram aprovação no Congresso Nacional.

Exemplos: a criação do Conselho Federal de Jornalismo (em 2004); a transformação da Ancine em Ancinav (em 2005); a criação das RTVIs (em 2005); a guinada em relação ao modelo de TV Digital (de 2003 para 2006); a nova regulação das rádios comunitárias que apesar de recomendações geradas em dois grupos de trabalho não saiu do papel (2003 e 2005); a regulação da TV paga através do PL 29 (2007) que até hoje tramita no Congresso Nacional; o recuo nas propostas relativas ao direito à comunicação constantes da terceira versão do Plano Nacional de Direitos Humanos (2009); o anunciado projeto de uma Lei Geral de Comunicação de Massa que nunca se materializou; etc. etc.

A única medida de política pública – aliás, prevista no artigo 223 da Constituição de 1988 – que logrou ser implementada pelo governo Lula foi a criação de uma empresa pública de comunicação, a EBC (Empresa Brasil de Comunicação), que, embora ridicularizada pela grande mídia, é complementar a ela e não representa qualquer ameaça.

Por outro lado, a realização da 1ª Conferência Nacional de Comunicação, em dezembro de 2009 – que tem efeitos apenas propositivos –, foi não só boicotada como satanizada nos principais veículos de comunicação do país.

O que teria provocado, então, tamanha hostilidade dos grupos dominantes de mídia?

Vivemos em plena liberdade da imprensa. O governo não deixou de aplicar vultosos recursos em publicidade oficial paga destinada exatamente à grande mídia. Apesar disso, além da oposição política publicamente admitida inclusive pela presidente da ANJ, a grande mídia insiste em anunciar que o atual governo constitui uma permanente ameaça à liberdade de expressão e que o seu partido padece de uma obsessão autoritária e stalinista de controlar a imprensa.

Outras questões

Diante de tamanho enigma, outras questões igualmente inquietantes carecem também de resposta.

Qual será o comportamento desses veículos depois das eleições? Que tipo de relação é possível se construir entre eles e o novo governo, especialmente se for eleita a candidata que enfrentou sua oposição sistemática? Que comportamento esperam esses veículos do novo governo?

E mais: o que acontecerá com a credibilidade de veículos de mídia que (1) praticam "jornalismo investigativo" seletivo, em relação apenas a uma das candidaturas e (2) transformam suspeitas e denúncias em "escândalos políticos midiáticos, mas raramente a Justiça consegue estabelecer a veracidade das acusações?

Levando-se em conta o que está acontecendo, não só na América Latina, mas, inclusive, no processo eleitoral em curso para as eleições legislativas nos Estados Unidos, é ainda de se perguntar: a quem interessa a radicalização do processo político?

As razões verdadeiras não são fáceis de ser detectadas. Talvez seja mesmo, como se diz na conhecida fábula, "da natureza do escorpião".

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quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A eleição agora é entre Dilma e a mídia

Reproduzo artigo de Paulo Henrique Amorim, publicado no blog Conversa Afiada:

Amigo navegante telefona preocupado: o PiG vai ao Tribunal Superior Eleitoral para impedir a vitória da Dilma no tapetão. Há certo perigo aí.

A procurador eleitoral é a Dra. Cureau, sempre imparcial, que quer calar o Mino Carta. Marco Aurélio de Mello, que, em 2006, como presidente do TSE, ameaçou não dar posse ao Lula, é titular do TSE. Gilmar Dantas (Gilmar Mendes) é suplente no TSE, ele que tentou, com as tropas do Estadão, dar o Golpe de Estado da Direita.

O jenio (José Serra) tem mais chance no TSE do que no voto. E a UDN só ganha eleição no tapetão — no Golpe.

Acontece que a Dilma perdeu a paciência. Dilma não é Lula.

Na resposta à Folha, ela se pôs ao lado de Leonel Brizola, autor de outro vídeo histórico — o editorial que Brizola obrigou o Roberto Marinho a ler. Os filhos do Roberto Marinho sabem disso — o temperamento da Dilma está mais para Brizola do que para Lula.

A Dilma não vai esperar o Golpe sentada em cima das mãos. Dilma tem um aliado importante. Já imaginou o Lula na rua, a pregar uma greve geral para garantir a posse da Dilma? Lula não é Jango. Isso parece uma insensatez? Insensatez é o que o PiG faz hoje no Brasil.

A eleição não é mais entre a Dilma e o Serra, que foi atropelado pela própria insignificância. A eleição é entre a Dilma e o PiG.

A Judith Brito disse que a Associação Nacional dos Jornais, que preside em nome do Otavinho, é a oposição. Ela provavelmente não sabia que tinha entrado para a História do Golpe, que tinha escrito uma página do Livro de Ouro da extrema direita brasileira.

O PiG não tem mais volta. Ele destruiu todas as pontes que o ligavam à Democracia e ao Estado de Direito. O PiG é o PiG da Argentina e da Venezuela. Vai fazer o quê? Demitir a Eliane Catanhêde para se aproximar da Dilma? A urubóloga, o Merval, o Waack, o Ali Kamel, o do Golpe de 2006? Não tem como.

O ultimo recurso será entrar com um pedido de anulação da eleição no TSE, redigido por um jurista de prateleira, como, por exemplo, Yves Gandra Martins. O que o PiG quer? Uma Guerra da Secessão? Uma “Revolução” de 32, para se separar de Vargas?

O PiG está miseravelmente isolado. Deve representar uns 5% da população brasileira — seus leitores. Na tem uma passeata do Cansei na rua. Não tem uma Marcha com Deus pela Família e a Propriedade. Não tem um Carlos Lacerda.

A Fiesp não está no Golpe. A Febraban não está no Golpe. A Associação Comercial … associação comercial, qual? Acabou a União Soviética e não assusta mais as mal-amadas. A Igreja Católica afundou-se com seus próprios pedófilos e não tem autoridade moral para derrubar nem prefeito. Os americanos estão atolados no Afeganistão e nas dividas. Não vão mandar a Frota que derrubou o Jango. E o Obama acha o Lula “o cara”.

Não tem Manifesto dos Coronéis. Não tem mais seu redator, o grande democrata Golbery e seu fantoche, o George Washington do Elio Gaspari, o general Geisel. Não tem o Ipês (o Millenium do Jabor, convenhamos…)

Tem alguém na tribuna da Câmara a pedir o Golpe, como o Padre Godinho, da UDN de São Paulo? Cadê o jovem deputado da UDN da Bahia, Antonio Carlos Magalhães, a dizer que o Lula é ladrão? Eles morrem de medo do Lula.

Quem o PiG representa? Quer dar o Golpe em nome de que? Em defesa de quem? De seus próprios interesses? A quem interessa defender o interesse do Otavinho, a não ser o próprio Otavinho? Quantas lágrimas serão derramadas no dia em que a Folha fechar? Provavelmente só as do Clóvis Rossi.

O PiG não tem mais como conversar com a presidenta Dilma, depois desse desabafo, hoje, no Rio. Não adiante produzir manchete na Folha para o jenio e o Gonzalez reproduzirem no programa eleitoral. Não dá em nada.

A pesquisa tracking da Vox Populi desmoralizou o Datafalha e o Globope. A Sensus idem. Os institutos mineiros acabaram com o blefe, a chantagem.

O Tribunal Superior Eleitoral vai dar o Golpe em nome de que? Da quebra dos 30 milhões de sigilos da filha do Serra? Do filho da Erenice? Do tucano que sumiu com a Caixa (2?) do Serra?

Como diz o Vasco: acharam um monte de Vavás e o Daniel Dantas está solto. Esse é o problema grave: o PiG perdeu a importância. Ele só serve para dar Golpe. Para desestabilizar o país. Com o Lula, o PiG podia achar que levava o Brasil à beira do precipício e, na hora “h”, o Lula conciliava. A bonomia do Lula não deixava o caldo virar.

A Dilma não é o Lula. O Otavinho que se cuide. Os filhos do Roberto Marinho que se cuidem. Eles vão fechar o negócio do pai.

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A última luta contra a ditadura

Reproduzo artigo de Miguel do Rosário, publicado no blog Óleo do Diabo:

A julgar pelos editoriais, a imprensa brasileira se acha uma vítima trêmula e indefesa, pronta para ser devorada pelo bicho papão totalitário. Claro que há o constrangimento de ter apoiado a ditadura, contra o mesmo bicho papão, mas se ele (o papão) não existia antes e mesmo assim justificou-se um golpe de Estado, não é tão difícil inventar novamente o mesmo inimigo; dessa vez não exatamente para dar um golpe, mas algo mais fácil, como queimar um candidato e eleger outro. Considerando que esses jornais transformaram-se em poderosos conglomerados econômicos à sombra do regime militar, pode-se especular que nossa batalha contra os desmandos desses grupos consiste na última luta dos brasileiros contra o fascismo que pendurou nossa liberdade e nossas esperanças, por vinte longos anos, num pau de arara.

Como empresas privadas, os jornais têm liberdade para defender ou atacar seja quem for, mas a Constituição ficaria grata se evitassem desrespeitar o direito dos indivíduos à honra e à privacidade e, sobretudo, se se esforçassem em conter seus ódios pessoais e tratassem as instituições democráticas e seus representantes com um mínimo de decoro e respeito. Não pedimos isenção. Ao contrário, pedimos honestidade em declarar sua preferência partidária, como fazem os jornais norte-americanos, o que ajudaria os leitores a separar notícia de opinião e entender melhor o que estão lendo.

Conhecemos a imprensa de outros países e francamente não observamos em lugar nenhum do mundo (com exceção dos EUA, onde imprensa deixa bem claro de que lado está) um engajamento partidário tão enlouquecido e agressivo como vemos no Brasil.

A imprensa de fato tornou-se um quarto poder, mas à diferença dos outros poderes, goza de uma liberdade quase selvagem. Pode incentivar as pessoas a tomarem remédios que não precisam, espalhar informações falsas sobre partidos, destruir a reputação de inocentes, pressionar juízes a emitir ordens de prisão (ou de habeas corpus), desestabilizar governos… E quando setores da sociedade, como as associações de medicina, por exemplo, iniciam debates para criar leis que regulamentem o uso de informações sobre saúde, os grupos de mídia não apenas se recusam a dialogar como lançam pesadas acusações contra os que desejam o debate. Eles se pretendem intocáveis. A liberdade de imprensa converte-se, portanto, em objeto de luxo de uso exclusivo de meia dúzia de proprietários de jornais e tv.

Não temos ilusão quanto aos defeitos de nossa classe política e seus representantes, mas também não nos iludimos quanto à perseguição seletiva praticada por uma imprensa desde sempre identificada com ideais conservadores – e portanto com os partidos afinados com esses ideais.

Protestamos, em suma, contra hábitos sinistros que estão se arraigando em nossa imprensa, como fazer acusações sem provas e prejulgar pessoas e instituições de maneira açodada, desrespeitando o princípio da presunção da inocência. Com seu poder, a mídia consegue intimidar inclusive juízes, produzindo outra aberração contra a democracia, que é obstruir o direito de todo cidadão ou empresa de ter um julgamento isento e livre, longe das paixões políticas.

Protestamos, principalmente, contra a tentativa de interferir no processo eleitoral, através da criação de factóides que vão parar diretamente, às vezes no mesmo dia, na página de alguns candidatos. Denúncias devem ser feitas, claro, mas embasadas num mínimo de provas e fundamentos lógicos. Os escândalos que pipocam não nascem da intenção louvável de aprimorar o funcionamento da máquina pública, e sim do desejo mal disfarçado de produzir estragos políticos no adversário da vez.

Enfim, quando vemos a mídia engajada em campanhas partidárias, e ainda lançando suspeitas de que há forças querendo censurá-la ou silenciá-la (o que é mentira); e, para culminar, participando de seminários no Clube Militar, como o que deverá acontecer dia 23 de setembro deste ano, intitulado “Democracia Ameaçada”, muitos cidadãos começam a se questionar, preocupados, se haveria alguém imaginando um golpe, seja um violento, com uso de armas, seja um “pacífico”, como fizeram em Honduras no ano passado, onde o presidente eleito, após decisão do Supremo Tribunal Federal (convertido assim num poder quase monárquico, acima da soberania popular), foi preso pelo exército e conduzido para fora do país. Todos, incluindo o golpe contra Chávez, em 2002, tem algo em comum: a cumplicidade entre oposição conservadora e corporações midiáticas.

Falamos apenas dos jornais. Quanto à mídia televisiva, os fatos são muito mais graves, porque são concessionárias de serviço público, e há leis que proibem a veiculação de material entendido como propaganda partidária.

Quando chamamos a imprensa de golpista, portanto, referimo-nos não só a seu papel fundamental na preparação do golpe de 64 e na consolidação política do regime militar, como também no esforço constante, até hoje, para derrubar ou eleger governantes a partir de artifícios nada éticos de manipulação da notícia.

Reiteramos nosso apreço pela liberdade de imprensa e de expressão, mas observamos que estas liberdades não são direitos exclusivos dos donos de jornal: elas também valem para o leitor, que não deve ser enganado; e para o jornalista, que deve ter direito a trabalhar sem se submeter aos caprichos ideológicos do patrão.

Por fim, convidamos a todos a se libertarem do vício triste de pensar com a cabeça alheia, e a conhecerem a blogosfera política, onde se trata a informação com muito mais profundidade: ela é verificada, checada, conferida novamente, revirada de todos os lados, discutida, rechaçada, e de novo aceita; e onde, principalmente, respeita-se a inteligência do leitor e procura-se fazer com que ele a use efetivamente, pensando politicamente por si mesmo.

Somos os representantes da edição fluminense de uma articulação nacional, os Blogueiros Progressistas, ou seja, de esquerda, e nossa luta mais importante, nas últimas semanas, tem sido desmontar as manipulações midiáticas que visam confundir e influenciar o eleitorado, deturpando a vontade popular.

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A guerra aberta da mídia

Reproduzo artigo de Wladimir Pomar, publicado no sítio Correio da Cidadania:

Se antes poderia haver alguma dúvida, entre alguns setores da campanha Dilma, de que a guerra contra a candidata petista se tornaria aberta, suja e sem qualquer limite, talvez a última semana tenha sido a demonstração clara de que tais dúvidas não passavam de ilusões infantis.

Veja, Globo, Folha de S.Paulo, Estadão e outros órgãos da famosa grande imprensa, o chamado quarto poder, não demonstram qualquer preocupação em serem vistos como a artilharia pesada dessa guerra. Suas manchetes diárias e semanais são sempre, inexoravelmente, a pirita garimpada em investigações cuja credibilidade dificilmente pode ser comprovada. Para quem criou o escândalo da Escola Base e outros, forjados nas cozinhas das redações, que diferença faz criar estes, em que se joga o destino da política que essa grande imprensa defende?

"Cartas abertas", assinadas por "personalidades" que talvez não saibam que seus nomes estão sendo utilizados, repetem pela Internet os antigos e surrados argumentos anti-Lula e anti-PT, que pareciam enterrados desde 2002. Bolsões reacionários de militares da reserva saem a público para ameaçar golpes. FHC compara Lula a Mussolini e apela a forças ocultas para barrar a caminhada do petismo. E, em drops da imprensa, repetem-se os comentários que sustentam as possíveis semelhanças do governo Lula com Vargas e seu fim.

Se a campanha Dilma e a direção do PT continuarem ignorando esse conjunto de sinais de desespero de uma direita reacionária que tinha como certa sua volta ao governo, o caminho para o segundo turno e até para uma derrota podem estar traçados. Essa direita não vai se contentar com a saída de Erenice da Casa Civil e quase certamente jogará novos pacotes podres sobre a mesa, na expectativa de que o governo, o PT e a campanha Dilma continuem cometendo erros, e ignorando a natureza da atual ofensiva oposicionista.

Os dados do Instituto Datafolha, divulgados no dia 16/9, parecem moldados de forma que o PT e a campanha Dilma continuem acreditando que vencerão no primeiro turno, sem necessidade de qualquer reação maior. Dilma marcou 51% das preferências eleitorais, enquanto Serra se manteve com 27% das intenções de voto, e Marina seguiu com 11%. Aparentemente, o melhor dos mundos.

No entanto, podem-se descobrir algumas surpresas nessa pesquisa, desde que se coloque de lado a euforia e se busquem as tendências reais. Entre os eleitores bem informados, a intenção de votos em Dilma desceu para 46%, enquanto em Serra subiu para 33%, e em Marina para 14%. Com isso compreende-se por que a grande imprensa vem martelando incessantemente para ‘informar’ o eleitorado sobre os ‘fatos’ que tem criado nos bastidores, mesmo que tais ‘fatos’ não passem de falsificações. Se conseguir que o conjunto do eleitorado se deixe convencer por essas informações falsas, o segundo turno estará configurado.

É significativo que Dilma tenha caído na preferência do eleitorado, em caso de segundo turno, em estados como Rio Grande do Sul e Paraná, assim como em Brasília. E que sua subida em outros estados e cidades importantes tenha se mantido dentro da margem de erro. Este pode ser um sinal de que o ritmo de crescimento da candidatura Dilma foi afetado pelas denúncias e escândalos criados pela aliança do tucano-pefelismo com a grande imprensa, embora ainda não de forma avassaladora.

Nos próximos quinze dias antes das eleições, se a campanha Dilma e o PT não forem suficientemente ágeis para criar mobilizações massivas, passar ao contra-ataque na diferenciação entre seu projeto político e o projeto de Serra e Marina, e gerar fatos políticos de repercussão, a corrosão da candidatura Dilma pode chegar àquele nível procurado pelo quarto poder.

Feito isso, a grande imprensa continuará convencida de que é capaz de moldar a opinião pública com mentiras e falsificações, da mesma forma que Goebbels e outros gurus da comunicação de massa acreditavam. E, certamente, configurado o segundo turno, virá com armas ainda mais letais. Se a meta da campanha Dilma é evitar que isso aconteça, esta é a semana decisiva para revirar o jogo.

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Mídia tenta forçar o segundo turno

Reproduzo artigo de Renato Godoy de Toledo, publicado no jornal Brasil de Fato:

A menos de um mês das eleições presidenciais, a campanha de José Serra (PSDB) realiza uma tabela com os principais órgãos de imprensa, numa escalada de denúncias contra supostas irregularidades atribuídas a petistas. De concreto, até o momento, sabe-se que o sigilo fiscal do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, e da filha e do genro de José Serra, foram violados. No entanto, o próprio candidato admitiu que sabia das violações desde janeiro.

No final do ano passado, uma reportagem veiculada pelo SBT mostrava a venda de dados sigilosos por camelôs no centro de São Paulo. A matéria repercutiu com políticos o acontecimento. Entre eles, destacou-se a declaração de José Serra, afirmando ter tomado conhecimento do assunto e que deveriam investigar o caso. O tom das declarações da época são feitas de forma amena; nem de perto se comparam à atual indignação do candidato.

Por outro lado, a revista CartaCapital apontou que uma ex-empresa da filha de José Serra teria quebrado o sigilo de mais de 60 milhões de brasileiros. A notícia, no entanto, não foi repercutida por nenhum órgão da grande imprensa.

Após sucessivas rodadas de pesquisas de intenção de voto, foi constatado que a candidatura Dilma Rousseff (PT) estabilizou-se na casa dos 50%, enquanto Serra encontra-se mais perto dos 20% do que dos 30%. As constantes investidas da campanha, portanto, não surtiram efeito.

Parece haver um caminho “natural” das notícias: a denúncia surge numa revista semanal, é repercutida nos jornais impressos, ganha a manchete nos telejornais e é martelada durante toda a semana na campanha de José Serra.

Conspiração, sim

Para Venício Lima, professor de comunicação da Universidade de Brasília (UnB), sempre que algum membro da academia aponta para uma ação articulada dos meios de comunicações, alguém o critica por defender uma “teoria da conspiração”. “Mas o fato é que conspirações existem, e às vezes funcionam. No caso da cobertura do escândalo do mensalão, o [professor da USP] Bernardo Kucinski comprovou que havia uma articulação e um comando. Hoje, não posso dizer que exista algum dado concreto que comprove essa articulação, mas um observador atento pode perceber que há um dueto: os ‘jornalões’ publicam uma manchete e ela aparece no horário eleitoral”, explica.

Um exemplo dessa afirmação de Venício é a manchete da Folha de S. Paulo do dia 5 de setembro de 2010: “Consumidor de luz pagou R$ 1 bi por falha de Dilma”. A manchete foi criticada pela ombudsman do jornal, Suzana Singer, e gerou uma sátira ao jornal no Twitter. A hashtag #DilmaFactsByFolha foi a mais utilizada em todo o mundo e levou jornais como o inglês The Independent a noticiarem o assunto.

O professor de Direito Constitucional da PUC de São Paulo, Luiz Tarcísio Teixeira Ferreira, aponta que há motivação política na maneira como as quebras de sigilo vêm sendo abordadas, ainda que estas representem uma violação. “A mídia está certa em divulgar o fato, a população está certa em exigir que sejam punidos os responsáveis. Agora, o que não se pode é transformar esse fato em bandeira de luta eleitoral. O que eu vejo é que determinados veículos de comunicação estão exacerbando essa questão por conta dos interesses no candidato de oposição. A Veja e a Folha de S. Paulo têm esse perfil, como se não houvesse mais nada importante para ser divulgado em matéria de eleição, a não ser a violação do sigilo”, opina.

Efeito 2006?

Venício estudou os escândalos políticos midiáticos que pautaram os debates nas eleições de 2006 e aponta que há algumas semelhanças entre o que foi feito naquele momento com o atual cenário. “[O sociólogo John B.] Thompson, da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, identifica várias situações em que os escândalos políticos midiáticos surgem com o intuito de provocar um estrago na reputação de pessoas que participam do processo. Não tenho nenhuma hesitação em dizer que se trata de um escândalo político midiático, mas não sei dizer se ele pode ter os mesmo efeitos de 2006”, aponta.

Em 2006, às vésperas da eleição presidencial, surgiu o chamado escândalo dos “aloprados”, em que alguns agentes ligados ao PT foram presos tentando comprar um dossiê contra o então candidato ao governo paulista José Serra. A revista Carta Capital denunciou que o Jornal Nacional, da Rede Globo, optou por se dedicar somente ao assunto e à divulgação da foto com o dinheiro dos petistas em detrimento de anunciar o acidente aéreo da companhia Gol. A vitória de Lula no primeiro turno era dada como certa, mas, após essa notícia e a exploração da cadeira vazia do petista no debate da TV Globo, às vésperas do pleito, Geraldo Alckmin (PSDB) conseguiu forçar um 2º turno.

“É muito difícil estabelecer uma comparação com 2006. Mas, pode-se dizer que, hoje, a mídia não tem mais o mesmo poder de 2006. E temos esse contrapoder que é a internet. Há muito mais informações políticas disponíveis hoje, e a internet atinge um tecido social muito maior”, analisa Venício.

O especialista comenta que o fato de as denúncias publicadas na mídia e pautadas na campanha de Serra ainda não terem afetado o desempenho da petista nas pesquisas pode estar relacionado com a falta de um apelo imagético. “Há quem considere que esses escândalos carecem de imagens, como no caso do dinheiro dos aloprados. Neste caso, não há uma imagem que confere um poder muito maior”, comenta. (Colaborou Aline Scarso, da Radioagência NP)

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Mídia sente o golpe e reage

Reproduzo artigo de Cláudio Gonzalez, publicado no sítio Vermelho:

Um grupo de personalidades, a maioria acadêmicos de direita ligados ao PSDB, lançou nesta quarta-feira (22) o "Manifesto em Defesa da Democracia". Apesar de usar a palavra “democracia” no nome do manifesto, o texto é um verdadeiro editorial de solidariedade à candidatura presidencial de José Serra e à grande mídia. Em uma risível contradição, o texto diz que o presidente Lula "ameaça a democracia" ao intervir com suas opiniões no processo eleitoral.

Articulado pelo empresariado que comanda os grandes jornais paulistas –os mesmos que deram apoio ao golpe de 64 e à ditadura militar-- o manifesto pró-mídia é uma tentativa destes grupos empresariais da comunicação de responder ao ato convocado há duas semanas pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé. O ato será realizado nesta quinta-feira (23), no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, e tem como objetivo protestar contra a parcialidade e o jogo sujo da grande imprensa nesta reta final da campanha eleitoral.

O manifesto pró-mídia ganhou a assinatura de gente que escreve regularmente, alguns mediante pagamento, em jornais e revistas da direita paulista como a Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e a Veja. Entre os 59 nomes que assinam o texto, estão o ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega e acadêmicos ligados ao PSDB, como José Arthur Gianotti e Marco Antônio Villa. O resto são artistas e profissionais liberais vinculados à campanha presidencial de José Serra ou à igreja católica.

O manifesto pró-mídia mistura uma série de questões ligadas à “liberdade de expressão”, à democracia e ao ideário neoliberal. Mas, em síntese, seu foco é acusar o presidente Luis Inácio Lula da Silva de ser uma ameaça à democracia. Pedem que Lula recolha-se durante o período eleitoral e não dê opinião sobre a disputa em curso. "É constrangedor que o Presidente da República não entenda que o seu cargo deve ser exercido em sua plenitude nas vinte e quatro horas do dia. Não há "depois do expediente" para um Chefe de Estado. É constrangedor também que ele não tenha a compostura de separar o homem de Estado do homem de partido, pondo-se a aviltar os seus adversários políticos com linguagem inaceitável, incompatível com o decoro do cargo, numa manifestação escancarada de abuso de poder político e de uso da máquina oficial em favor de uma candidatura”, diz o manifesto da direita midiática, em uma evidente contradição com a defesa da liberdade de expressão. Afinal, pedir que o presidente se exima de participar do processo eleitoral, um direito legítimo e constitucional de qualquer homem público, é uma contradição que expõe ao ridículo os autores do manifesto.

Além de contraditório, o manifesto também é calunioso. Diz que o governo financia “a ação de grupos que pedem abertamente restrições à liberdade de imprensa”. Fossem instados a apontar quem são estes “grupos”, certamente os autores do manifesto não teriam resposta a dar ou teriam que mentir, pois simplesmente acusam o governo de algo que não existe.

Num dos trechos do manifesto, chegam ao cúmulo de defender a “herança” do governo Fernando Henrique Cardoso, exigindo que se reconheça o trabalho daqueles “que construíram as bases da estabilidade econômica e política, com o fim da inflação, a democratização do crédito, a expansão da telefonia e outras transformações que tantos benefícios trouxeram ao nosso povo”.

O lançamento do manifesto foi ao meio-dia, na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo, num ato esvaziado, que não despertou o interesse nem dos alunos da Faculdade.

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Velha mídia quer guerra aberta e total

Reproduzo artigo de Rodrigo Vianna, publicado no blog Escrevinhador:

Com o candidato da imprensa desnorteado, sem programa e sem rumo, restou a ele e ao aparato midático que o apóia o apelo ao medo.

Arnaldo Jabor agora deu para pregar a guerra. Que é isso, companheiro? Outro dia vi o Jabor no cinema. Deveria ter me dirigido a ele, e dado um cascudo no pescoço dele? O que é isso? A raiva é capaz de coisas incríveis.

“Carta Maior” recolheu alguns exemplos de ódio, a escorrer das páginas de decadentes jornais brasileiros. Confiram:

Dispositivo midiático lança ordem unida

Editorial do Estadão, 21/09: “… sem o menor pudor Lula alimenta no eleitorado de baixa renda e pouca instrução – seu público-alvo prioritário – o sentimento difuso de que quem tem dinheiro e/ou estudo está do “outro lado”, nas hostes inimigas. Mas a verdade é que o paladino dos desvalidos nutre hoje uma genuína ojeriza por uma, e apenas uma, categoria especial de elite: a intelectual, formada por pessoas que perdem tempo com leituras e que por isso se julgam no direito de avaliar criticamente o desempenho dos governantes. Por extensão, uma enorme ojeriza à imprensa….”

Arnaldo Jabor, 21/09: “… Lula não é um político – é um fenômeno religioso. De fé. Como as igrejas que caem, matam os fiéis e os que sobram continuam acreditando. Com um povo de analfabetos manipuláveis, Lula está criando uma igreja para o PT dirigir, emparedando instituições democráticas e poderes moderadores.(…)A única oposição que teremos é o da imprensa livre, que será o inimigo principal dos soviéticos ascendentes. O Brasil está evoluindo em marcha à ré! Só nos resta a praga: malditos sejais, ó mentirosos e embusteiros! Que a peste negra vos cubra de feridas, que vossas línguas mentirosas se transformem em cobras peçonhentas que se enrosquem em vossos pescoços, e vos devorem a alma. Os soviéticos que sobem já avisaram que revistas e jornais são o inimigo deles. Por isso, “si vis pacem, para bellum”, colegas jornalistas. Se quisermos a paz, preparemo-nos para a guerra…”

Caetano Veloso, 20/09: “É como se fosse assim uma população hipnotizada. As pessoas não estão pensando com liberdade e clareza…”

Merval Pereira, Globo, 21/09: ” … popularidade de Lula hoje lhe dá essa sensação de poder absoluto. Daí a desqualificar a grande imprensa e querer influenciar diretamente o eleitorado, sobretudo o das regiões mais pobres do país, através dos programas assistencialistas, e a tentativa de controle da mídia regional através de verbas de publicidade.[...] Para os que não se submetem a essa política, fica cada vez mais evidente que um eventual governo Dilma vai tentar aprovar no Congresso uma legislação especial que permita o controle dos meios de comunicação através dos mais diversos conselhos, o chamado controle social da mídia, a exemplo do que já acontece na Venezuela de Chávez e a Argentina dos Kirchner está tentando. A reação desmesurada da candidata oficial a uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo que mostrou problemas em sua gestão à frente de uma secretaria no governo do Rio Grande do Sul dá bem a medida de sua tolerância à livre circulação de notícias críticas..”

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O que representa esta derrota da direita

Reproduzo artigo de Emir Sader, publicado em seu blog no sítio da Carta Maior:

A direita tinha sido vitoriosa ao longo da história brasileira, desde 1964. Nesse momento interrompeu um governo que democratizava o país do ponto de vista econômico, social e político, incentivava a consciência nacional e a identidade cultural brasileira, para instaurar uma ditadura militar, que promoveu o maior processo de concentração de renda que o Brasil já tinha conhecido.

Esgotada a ditadura, a direita conseguiu limitar os alcances da democratização, que reinstaurou um regime político liberal, mas sem afetar os pilares das relações de poder no Brasil: não foi democratizada a posse da terra, o poder dos bancos, das grandes corporações, da mídia. Esgotado também o impulso democratizador, durante o governo Sarney, foi implementado o modelo neoliberal, primeiro com Collor e depois, diante da queda deste, no governo Itamar, com FHC. Nova e grande vitória da direita, ainda mais que conseguiu que algum proveniente da oposição à ditadura se responsabilizasse por impor esse modelo – que caracteriza a direita no mundo contemporâneo.

O triunfo de Lula, caso este tivesse sido cooptado e mantido o modelo herdado de FHC, teria sido também outra vitória, indireta, com a mão do gato, para a direita. Se a versão da ultra esquerda tivesse sido certa, o Lula teria revigorado o neoliberalismo, dando-lhe umas mãos de cal de políticas assistencialistas e controlando o movimento popular. Teria sido o melhor administrador do neoliberalismo.

Mas a realidade não foi essa. O modelo foi readequado, o Estado retomou sua função de indutor do crescimento econômico, que foi recolocado em pauta, depois de ter sido abolido pelo governo FHC. Instaurou-se ao longo do mandato do Lula um modelo de desenvolvimento econômico e social, alterando, pela primeira na história brasileira, a desigualdade social – e de forma significativa.

A política externa assumiu a soberania nacional como principio fundamental, deslocou o eixo das alianças do norte para o Sul do mundo, privilegiando em particular os processos de integração regional e contribuindo para a construção de um mundo multipolar.

A direita conseguiu sobreviver com o governo Lula, seus interesses não foram profundamente afetados, mas perderam o manejo direto do Estado, das estatais, a promiscuidade com a presidência e viram, ao contrário dos seus gostos, o Estado utilizar recursos para políticas sociais, desenvolver relações de fraternidade política com países vizinhos, limitar o espaço do mercado, amplamente estendido na década anterior.

A direita econômica prefere o Serra, mas sem o extremismo da direita política. De qualquer forma, ambas serão derrotadas com a vitória da Dilma e de um projeto nacional, de uma sociedade de inclusão, de um governo para todos. Estavam acostumados a se valer do Estado a seu bel prazer para seus próprios interesses.

A direita partidária e midiática – hoje confundida – é a maior derrotada. Perdeu capacidade de influência, sai com os seus partidos e seus órgãos da imprensa reduzidos à sua mínima expressão. Ainda mais que os órgãos da mídia, depois do ano de Copa do Mundo e de eleições e da nova crise de legitimidade destas eleições, depois da descida para a metade da tiragem em uma década, devem ter outra queda grave, com a conseqüente crise financeira.

Os partidos opositores sofrerão uma grande crise de identidade, devendo se diferenciar entre os negociadores – tipo Aécio – e os extremistas, como o DEM e políticos remanescentes como Tasso Jereissatti, deslocados pela derrota e pelo sucesso do governo Lula.

Sofrem este ano a maior derrota política em décadas, com perspectiva de um lento e prolongado processo de recomposição, que ainda não parece delinear o perfil novo que venham a assumir.

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Revendo para baixo a votação de Serra

Reproduzo artigo de Luiz Carlos Azenha, publicado no blog Viomundo:

O presidente do instituto Vox Populi, Marcos Coimbra, está revendo a previsão que fez em artigo publicado na revista CartaCapital de que José Serra teria 33% dos votos no primeiro turno das eleições presidenciais.

O cientista político diz que fez a previsão baseado em três premissas:

1. A presença relevante de Serra junto ao eleitorado paulista (40% dos votos do estado, que representam 10% do total);

2. O fato de que ele representa o voto antipetista (cerca de 10% do eleitorado brasileiro);

3. O voto de “respeito” de cerca de 10% do eleitorado nacional (governador de São Paulo, ministro da Saúde, etc.).

Somando tudo isso, Serra teria 30%, ou 33% dos votos válidos.

Porém, no terceiro quesito, os 10% não estão se confirmando, talvez pelo modo como a campanha foi conduzida.

Faltando 12 dias para a eleição, considerando os números disponíveis nas pesquisas, inclusive os do tracking diário do Vox Populi, divulgado pelo IG e pela TV Bandeirantes, Serra deve ficar mais próximo de 25%.

Coimbra vê um avanço de Marina Silva em várias regiões, prevendo que ela fique nos dois dígitos (algo em torno de 12%).

Considerando que os grandes movimentos eleitorais em um país como o Brasil envolvem a decisão de milhões de eleitores, Coimbra prevê uma decisão em primeiro turno. Ao contrário do que dizem outros analistas, ele afirma que a decisão de votar em Dilma Rousseff foi resultado de um processo relativamente longo de amadurecimento e de comparação que não fica sujeito a uma ou outra manchete de jornal, um ou outro episódio da campanha.

Para o Senado, os números do Vox indicam uma perda não só quantitativa da oposição, mas também qualitativa, já que nomes importantes ficarão de fora — Coimbra citou Cesar Maia, no Rio de Janeiro, mas eu acrescentaria Arthur Virgílio que corre risco no Amazonas e outros. De novidade, afirma Coimbra, o risco de José Agripino Maia não se reeleger no Rio Grande do Norte.

Nas eleições estaduais o quadro, de acordo com o presidente do Vox Populi, também é de preocupação para os candidatos do PSDB/DEM. A não ser por Antonio Anastasia, em Minas Gerais, nenhum candidato da oposição está em crescimento — quando muito conseguem manter a estabilidade. Como, neste caso — ao contrário da eleição presidencial, onde os números são estáveis — há candidatos a governador em queda e ascensão, poderemos ter surpresas em 3 de outubro.

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Ato público contra a imprensa golpista

Reproduzo artigo de Eduardo Guimarães, publicado no Blog da Cidadania:

Semana passada, participei de almoço no restaurante Sujinho, no centro de São Paulo, com blogueiros que o candidato a presidente José Serra imortalizou ao dizê-los “sujos”. Naquele almoço, surgiu a idéia de se fazer um ato público de repúdio à recaída de setores da “grande” imprensa no golpismo renitente que caracteriza tais setores desde o limiar do século passado.

Pretendia simplesmente divulgar o release do ato público que terá lugar no próximo dia 23, às 19 horas, no auditório do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, na rua Rego Freitas, 530, próximo ao Metrô República, centro da capital paulista. Todavia, como já começam a tentar desqualificar a iniciativa, acusando-a de pretender algum tipo de “censura” a “indefesos” impérios de comunicação, vale abordar o assunto com as minhas próprias palavras.

Em primeiro lugar, devo explicar o por que dessa iniciativa da Comissão Organizadora do Encontro dos Blogueiros Progressistas ter levado a proposta do ato a sindicatos e partidos políticos, já explicando que, de tal ato, encabeçado pelo Centro de Estudos da Mídia Barão de Itararé, participarão as agremiações PT, PC do B, PSB e PDT, bem como as centrais sindicais CUT, FS, CTB e CGTB, além do MST, da UNE e dos próprios blogueiros progressistas.

A avalanche de denúncias que surgiu da tabelinha entre José Serra e veículos de comunicação como a Globo, a Folha de São Paulo, a Veja e o Estadão, lembrou àqueles blogueiros, desde o primeiríssimo momento, que tais veículos têm uma longa ficha corrida no que diz respeito a participarem de complôs golpistas contra governos legitimamente eleitos.

O último desses complôs entre meios de comunicação e políticos de direita redundou no golpe militar de 31 de março de 1964. Os mesmos Globo, Folha e Estadão, ao menos, em aliança com empresários, partidos conservadores e chefes militares perpetraram um golpe de Estado que jogou o Brasil em uma ditadura que durou mais de duas décadas.

Para quem não acredita, basta buscar exemplares desses jornais daquela época que lerão pedidos e até ultimatos em favor da derrubada ilegal de um governo detentor de indiscutível mandato popular como era o de Jango Goulart.

Esses golpes midiáticos, aliás, não ficaram no passado, ao menos do ponto de vista geopolítico. Recentemente (em 2002), na Venezuela, a mídia de lá, com a qual a daqui se parece cada vez mais, cooptou militares e empresários, seqüestrou o presidente da República, fechou o Congresso, o Judiciário e estabeleceu a censura. Tudo muito típico.

A imprensa golpista daqui, de currículo como o que se viu acima, babava de inveja de sua congênere venezuelana.

Veículos como a Veja, anteciparam-se aos fatos e comemoraram a derrubada do presidente Hugo Chávez. Posteriormente, apoiariam e endossariam outro golpe, que, à diferença do venezuelano, vingou. Quem acompanhou o que disse essa “imprensa” durante o golpe em Honduras, não tem qualquer dúvida de que ela continua tão golpista quanto em 1964.

Diante disso, não se pode ficar de braços cruzados. A avalanche de denúncias frágeis e espalhafatosas contra a candidata a presidente que detém uma vantagem eleitoral imensa sobre o candidato da imprensa golpista sugere que essa gente, mais uma vez, começa a ter idéias… heterodoxas, digamos assim.

Vêm sendo freqüentes artigos de colunistas amestrados dos jornais e revistas supra mencionados relativizando o saber das maiorias e pregando que a decisão delas não estaria acima de tudo, dando a entender que isso inclui o direito à escolha de quem nos governará entre 2011 e 2014.

O momento político exige capacidade do cidadão de se integrar a esforços coletivos, dispondo-se a contribuir, muitas vezes, de forma anônima, visando a que a causa maior vingue. Sendo assim, convido os leitores deste blog a comparecerem ao ato contra a imprensa golpista que blogueiros progressistas, partidos e sindicatos realizarão na próxima quinta-feira.

Para concluir, vejo-me obrigado a dizer que se você, leitor, puder comparecer e não o fizer por mero comodismo, por favor não reclame depois se esses ideólogos do golpe, que se autoproclamam “imprensa”, fizerem mais uma das suas. “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.

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terça-feira, 21 de setembro de 2010

Imprensa no centro do debate eleitoral

Reproduzo artigo de Ricardo Kotscho, publicado no blog Balaio do Kotscho:

Sou de um tempo muito antigo, como vocês sabem, quando a imprensa ainda publicava notícias. No momento em que a própria imprensa vira notícia, como está acontecendo agora na campanha eleitoral, alguma coisa está errada.

“Em evento, Dilma acusa Folha de parcialidade”, destaca a Folha de S. Paulo, em sua primeira página desta terça-feira.

Manchete do site do jornal O Globo abrindo o dia: “Após ataques de Lula, MST e centrais sindicais se juntam contra a imprensa”. Várias entidades do movimento social, informa o jornal carioca, marcaram para quinta-feira, no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, um “Ato contra o golpismo midiático”.

Até os quartéis já entraram na roda. Na mesma quinta-feira, no Rio de Janeiro, foi marcado pelo Clube Militar, tradicional reduto das fardas mais reacionárias, um debate sobre “A democracia ameaçada: restrições à liberdade de expressão”. Jornalistas convidados: os democratas Reinaldo Azevedo, da Veja, e Merval Pereira, de O Globo.

O clima que se vive neste momento decisivo da campanha presidencial de 2010, a apenas 11 dias das eleições, pode ser resumido no convite para o ato de São Paulo:

“Conduzida pela velha mídia, que nos últimos anos se transformou em autêntico partido político conservador, essa ofensiva antidemocrática precisa ser barrada”.

A escalada da radicalização, que colocou a imprensa no centro do debate eleitoral como parte e não apenas testemunha do processo, começou há cerca de quatro semanas, quando as pesquisas mostraram um quadro estabilizado, indicando decisão no primeiro turno, baseada a trilogia de capas do “polvo” da revista Veja e a série de reportagens da Folha para desconstruir a imagem e a campanha da candidata Dilma Rousseff.

O auge se deu no último fim de semana, com o discurso do presidente Lula, num comício em Campinas, em que ele fez seu mais violento ataque à grande imprensa nesta campanha.

“Nós somos a opinião pública (…) Não vamos derrotar apenas nossos adversários tucanos. Vamos derrotar alguns jornais e revistas que se comportam como partido político e não têm coragem de dizer que são um partido político”.

Na segunda-feira, no Rio, a própria candidata Dilma, acusada pelo jornal de favorecer uma empresa em 1994, também perdeu a paciência com a Folha e partiu para o ataque:

“Eu queria fazer um protesto veemente contra a parcialidade do jornal Folha de S. Paulo. Eu fui julgada pelo Tribunal de Contas do Estado e todas as minhas contas foram aprovadas (…) A matéria é parcial e de má fé!”, acusou ela, de dedo em riste, em seu primeiro desabafo na campanha.

Curioso é que, enquanto subia a temperatura no confronto entre o PT e a imprensa, o candidato tucano José Serra se afastava do tiroteio, preferindo apresentar novas promessas ao eleitorado a cada dia. A mais recente foi oferecer o 13º aos beneficiários do Bolsa Família.

Serra já tinha prometido dobrar este benefício e elevar o salário mínimo para R$600, além de asfaltar a Transamazônica e construir 400 quilômetros de metrô. Como ninguém da imprensa lhe indagou de onde virão os recursos, caso seja eleito, o candidato parece ter gostado da nova estratégia.

Melhor assim. O clima de beligerância dos últimos dias não contribui para melhorar a nossa democracia nem as nossas vidas. Está na hora de todo mundo baixar a bola e deixar o eleitor decidir com tranquilidade o que ele quer para o futuro do país.

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CUT contra o golpismo midiático

Reproduzo entrevista concedida ao jornalista Leonardo Wexell Severo, publicada no sítio da CUT:

Na próxima quinta-feira (23), a partir das 19 horas, centrais sindicais, movimentos sociais e blogueiros progressistas realizam no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo um ato “Em defesa da democracia e contra o golpismo midiático”.

Organizado pelo Centro de Estudos de Mídia Barão de Itararé, o evento já tem confirmada a presença da CUT e das várias centrais sindicais, além da UNE, do MST e representantes de partidos populares.

Em entrevista para o Portal do Mundo do Trabalho, o secretário nacional de Administração e Finanças da CUT, Vagner Freitas, ex-presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo Financeiro (Contraf-CUT), sublinha a relevância da manifestação, “no momento em que os grandes conglomerados privados de mídia atuam para tentar manipular a disputa eleitoral, se comportando não como meio de comunicação ou imprensa, mas como partido político, em favor do candidato da privatização, do arrocho salarial e da precarização de direitos”.

Nesta reta final da disputa eleitoral, a mídia decidiu ir para o tudo ou nada, pisando no acelerador da manipulação em favor da candidatura demotucana. Qual a sua avaliação sobre tamanho destempero?

Estamos num momento em que os grandes conglomerados privados de mídia atuam para tentar manipular a disputa eleitoral, se comportando não como imprensa, meios de comunicação, mas como partido político a favor do candidato da privatização, do arrocho salarial e da precarização de direitos. Frente ao que chamam de incapacidade da candidatura demotucana de fazer oposição ao governo Lula, a Folha de S.Paulo cobra até em editorial que se explicite a divergência, incentivando a busca da desqualificação do PT, de Lula, de Dilma, requentando questões passadas ou promovendo factóides midiáticos referentes a pessoas do governo.

Empunham então, abertamente, a bandeira da candidatura da reação neoliberal, mas, do alto da sua hipocrisia, com “imparcialidade”…

Assumem o papel de partido político, pois acham que o PSDB não está conseguindo cumprir. Em vez de orientar, propiciando ao eleitor uma análise imparcial dos programas e propostas de cada partido, a chamada grande mídia adota uma postura partidarizada. Isso tem a ver com as visíveis dificuldades do PSDB e do DEM para sustentar sua visão neoliberal privatista, de redução de salários e direitos, de desvalorização dos serviços e dos servidores públicos.

A mídia venal tenta identificar a luta pela democratização da comunicação com cerceamento da imprensa. O que achas disso?

Mais do que absurdo, é ridículo tentar imputar às centrais e movimentos sociais que lutam pela democratização da comunicação o comportamento que sempre foi deles, de negação de espaço ao contraditório. Somos completamente favoráveis à liberdade de expressão, esta é a nossa história, de combate à ditadura. O PT e a CUT cresceram neste momento junto com a luta por liberdades democráticas, pela ampliação de espaços para a sociedade ter voz. Infelizmente, o que temos hoje é uma ditadura da mídia sobre a opinião pública, uma tentativa de modelar gostos e vontades em favor dos interesses do grande capital. Agora, liberdade de imprensa não significa que tudo possa ser divulgado e nada possa ser questionado.

A mídia não é um quarto poder e deve estar, como tudo na democracia, sujeito a questionamentos, não é uma bula papal. As pessoas devem arcar com o que dizem, responder pelos seus atos, inclusive juridicamente. Ninguém pode sair por aí acusando sem provas. Do contrário, qualquer um poderia mentir, difamar e caluniar impunemente. Infelizmente, muitas vezes por omissão da Justiça, isso é o que acaba ocorrendo. Este é um outro ponto, o papel do judiciário, que não pode ter candidatura ou preferência.

É público e notório que a mídia venal tem um candidato. Como vês este alinhamento?

Eu não tenho problema nenhum com o fato da grande mídia ter um candidato, mas acho que deveria explicitar ao invés de tentar camuflar. Na Europa e nos EUA é assim: grandes jornais assumem abertamente sua posição e dialogam com o leitor de forma clara, alinhados. Aqui, reafirmo, o problema é que não deixam espaço para o contraditório, pois estão todos afinados com a mesma visão, o que tem empobrecido o debate.

E pelo que se pode projetar das ruas, esses setores golpistas serão derrotados novamente. Como disse o presidente Lula, em 2002, ao vencer, que o povo derrotou a opinião pública. Na verdade, a opinião publicada…

O fato é que a mídia não está conseguindo se contrapor ao projeto democrático popular desenvolvimentista em curso, que recuperou o papel do Estado, que dialoga com os movimentos sociais, com um patamar mais coletivo de organização da sociedade e da economia, que prioriza a nossa soberania. O outro lado é o projeto político dos grandes conglomerados internacionais, do retrocesso, da submissão ao estrangeiro.

E o que dizer de profissionais que se comportam como meros papagaios do dono do jornal ou da emissora, tentando desqualificar a manifestação da próxima quinta-feira como “ato contra a imprensa”?

Esta avaliação divulgada por alguns setores nada mais é do que uma exposição do seu rancor, pois obviamente não somos nós que impedimos a livre expressão, que deixamos de levar informação, que criminalizamos movimentos sociais. Por isso, o nosso mais profundo e rotundo repúdio a esta faceta golpista da grande mídia que, independentemente de quem vença as próximas eleições, precisará ser democratizada.

Pelo noticiário, esta mídia tenta vender a ideia de que a população eleger a maioria da coalizão que apoia o presidente Lula é ser contra a democracia, que o fato do governo se preocupar prioritariamente com os mais necessitados e dialogar com trabalhadores e empresários é populismo, e outros absurdos. Felizmente, com a nossa mobilização, organização e consciência, é uma página que será virada, para o bem da informação de todos os brasileiros.

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Por que a mídia resolveu jogar sujo?

Reproduzo artigo de Vinicius Wu, publicado no sitio Carta Maior:

Revisitemos as declarações de Serra e de diversos articulistas da grande mídia simpáticos à sua candidatura ao longo de 2009 e início deste ano. Sem esforço, perceberemos que sua estratégia eleitoral baseava-se na tese do “contraste de biografias”. Inebriado por sua vaidade, Serra alimentou a certeza de que a comparação de sua trajetória política com a de Dilma seria a senha para a vitória. Ocorre que o povo brasileiro rejeitou a fulanização do debate. Optou por contrastar os projetos de Brasil disponíveis e sepultou as pretensões tucanas nestas eleições.

Mas o drama da oposição não termina aí. Afinal, estamos diante de um processo ainda mais complexo, que está na origem da impotência política da oposição hoje. Diante do atual cenário, tiveram de optar entre a resignação diante da derrota e o surto golpista que assistimos nos últimos dias. Compreender os motivos que desencadearam este processo é o que buscaremos nas próximas linhas.

Mudança do léxico político brasileiro

As eleições de 2010 encerram a profunda alteração do léxico político brasileiro em curso desde o embate eleitoral de 2002. A crise do paradigma neoliberal possibilitou uma mudança radical dos termos e dos conceitos através dos quais se organiza a luta política no país.

Se nas eleições de 1994 e 1998 o debate eleitoral orbitava em torno do tema da “estabilidade”, desde 2002 vivemos um profundo deslocamento do debate em direção aos temas do desenvolvimento, da inclusão social e distribuição de renda. Ou seja, a disputa política passou a se desenvolver a partir de temas estranhos ao receituário neoliberal. Esta foi a grande derrota política do bloco conservador proporcionada pela vitória de Lula em 2002.

Portanto, o debate político nacional nos últimos anos passou por uma verdadeira metamorfose que desencadeou: 1. Uma mudança de problemática: da manutenção da estabilidade econômica e do ajuste fiscal para a busca do desenvolvimento e da justiça social; 2. uma alteração da lógica argumentativa: a defesa das privatizações e do enxugamento do Estado cedeu lugar ao combate às desigualdades e ampliação do alcance das políticas públicas e; 3. uma mudança de conceitos: crescimento econômico, papel indutor do Estado, distribuição de renda, cidadania etc. passam a integrar, progressivamente, o discurso de todas as correntes políticas do país.

Este é o grande legado político da “Era Lula” e diante do qual as respostas da direita brasileira foram absolutamente insuficientes até aqui.

O novo protagonismo dos pobres

Paralelamente ao processo supramencionado, foi sendo desenvolvida uma nova consciência das camadas populares no país, que identificaram em Lula a expressão viva de seu novo protagonismo. O operário do ABC paulista alçado à condição de Presidente mais popular da história da República é a síntese perfeita da nova condição política dos “de baixo”.

Ao afirmar recentemente que “nós” somos a opinião pública, o Presidente Lula não está cedendo a nenhuma tentação autoritária, como desejam alguns mal intencionados articulistas da grande mídia. O que está em jogo é o fim da tutela dos “formadores de opinião” sobre a formação da opinião nacional. Este é o motivo do desespero crescente da mídia monopolista do centro-sul do país.

Há uma revolução democrática em curso no Brasil e ela altera profundamente a forma como os pobres se relacionam com a política. O país vivencia uma inédita e profunda reestruturação de seu sistema de classes. As implicações deste processo para o futuro da nação ainda não são mensuráveis.

A grande mídia e a oposição não compreenderam que o país entrou em um novo período histórico e, desta forma, correm o risco de ficarem falando sozinhas por um bom tempo.

As pessoas não estão votando em personalidades, como supunham os próceres da campanha Serra. Estão votando no futuro - no seu futuro e no futuro do país.

A disputa eleitoral de 2010 não ficará marcada pelo “confronto de biografias”. Esta é a eleição da aposta no “Devir-Brasil” no mundo, como sugere Giuseppe Cocco. O país recompôs a esperança em seu futuro e deseja ser grande. Os brasileiros querem continuar mudando e, principalmente, melhorando suas vidas.

E o eleitor brasileiro não está “inebriado pelo consumo” como afirmou, revoltado, um dos mais preconceituosos articulistas da grande mídia. Os seres humanos fazem planos, sonham, imaginam uma vida melhor para si e para seus filhos. As pessoas estão sim - e é absolutamente legitimo que o façam - votando com a cabeça no seu próximo emprego; no seu próximo carro ou eletrodoméstico; no seu próximo empreendimento; na faculdade dos seus filhos; em seus filhos... É uma opção consciente. Não querem retroagir, preferem a continuidade da mudança conduzida por Lula, por mais que esperneiem os articulistas sempre bem pagos da grande mídia.

A “Conservação” da mudança

Talvez, nem o próprio Presidente Lula tenha se dado conta de uma outra - e também decisiva - derrota imposta ao bloco conservador. Trata-se da apropriação e ressignificação de um dos conceitos mais caros ao neoliberalismo.

Lula tomou para si a primazia da estabilidade. A defesa da estabilidade (quem diria?!) passa ser tarefa da esquerda brasileira. Mas não a estabilidade neoliberal, e sim uma nova estabilidade; a da continuidade da mudança.

O slogan da campanha Dilma não poderia ter sido mais adequado: “Para o Brasil seguir mudando”. Esta é a perfeita síntese da opinião popular no atual período; continuar mudando para que permaneçam abertas – e se ampliem – as possibilidades de mobilidade social, de emancipação e prosperidade econômica. A mensagem é simples e foi acolhida pela maioria do povo brasileiro: “conservar” a mudança e não retroagir.

A “venezuelização” do comportamento da grande mídia

Derrotados em seus próprios conceitos; perplexos diante de uma ampla maioria que lhes vira as costas (só 4% da população rejeitam Lula); impotentes diante de uma nova realidade, que se impõe diante de seus olhos, só lhes resta o golpe, que não tem força pra dar.

E se não podem “restaurar a democracia” à força, resta-lhes, então, trabalhar para que a disputa política no próximo período se dê em outros termos. Como imaginam que estarão livres da força de Lula a partir de Janeiro de 2011, iniciam uma virulenta campanha de difamação, deslegitimação e questionamento da autoridade daquela que deverá ser a primeira Presidenta do país.

Desejam fazer do Brasil uma nova Venezuela, onde posições irreconciliáveis travam uma luta sem tréguas, instaurando um clima de instabilidade e insegurança generalizado. Querem que oposição e governo não dialoguem. Preferem a radicalização ao entendimento. Concluíram que esta é a única maneira de derrotar as forças populares no futuro. Precisam retirar de nossas mãos o primado da estabilidade. Querem, de fato, venezuelizar o Brasil.

Mal se deram conta de que quase ninguém sairá vencedor em Outubro confrontando-se com Lula. Em todas as regiões do país, candidatos oposicionistas bem sucedidos resolveram absorver Lula e o sucesso de seu governo. Raros serão os candidatos oposicionistas que vencerão com discurso de oposição.

A “venezuelização” que pretendem esbarrará na força política que se assenta na emergência de um novo Brasil, que estamos a construir, e na fé de nosso povo em um futuro diferente daquele que imaginaram as oligarquias deste país.

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