terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Temer vai bancar a caloteira no Trabalho?

Por Altamiro Borges

Na segunda-feira (8), o juiz Leonardo da Costa Couceiro, da 4ª Vara Federal de Niterói (RJ), suspendeu a nomeação e a cerimônia de posse da deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ) como nova ministra do Trabalho do covil golpista de Michel Temer. Ele alegou que a escolha da parlamentar desrespeita a moralidade administrativa. Lembrou que a filha de “Bob” Jefferson, que não nega a origem, já foi condenada pela Justiça do Trabalho por não pagar os direitos trabalhistas para dois motoristas. O juiz ainda estabeleceu multa de R$ 500 mil pelo descumprimento da sentença. De imediato, o governo ilegítimo acionou a Advocacia-Geral da União (AGU) para questionar a legitimidade da decisão, argumentando que ela fere a autonomia dos poderes.

Mas será que o usurpador Michel Temer, já tão rejeitado pela sociedade, vai bancar a caloteira do Ministério no Trabalho? Desde o anúncio da sua nomeação não param de surgir denúncias contra Cristiane Brasil. Além de sacanear os motoristas – que tinham jornadas superiores a 12 horas e não recebiam horas extras, férias e 13º salário –, agora veio à tona a informação de que em 2016 a deputada protocolou um projeto de lei para impedir que a Justiça do Trabalho use bens de sócios de empresas falidas para pagar dívidas trabalhistas. Na justificativa do PL-5646, ela argumenta que “os trabalhadores são a força motriz da economia”, mas são “as empresas os meios que habilitam esta força a operar”. Para a deputada, ao bloquear os bens dos sócios, a Justiça “desestimula a criação de novas empresas”. Baita trabalhista que Michel Temer escolheu para comandar o Ministério do Trabalho!

Além de caloteira, Cristiane Brasil também é acusada de ser corrupta – como o pai chorão e orgulhoso. Os delatores da Odebrecht denunciaram aos procuradores da midiática Lava-Jato que ela garfou R$ 200 mil no Caixa-2 durante seu período como vereadora. Já nesta terça-feira (9), o jornal O Globo revela que “a deputada federal se hospedou no hotel da Força Aérea Brasileira na ilha de Fernando de Noronha (PE), durante o réveillon. O local, mantido com verba pública, é reservado a autoridades como o presidente de República e militares. Por meio de nota, a FAB informou que Cristiane Brasil enviou solicitação ao Comando da Aeronáutica sobre a possibilidade de hospedagem no hotel de Trânsito de Fernando de Noronha e que ‘o pedido foi atendido, pois havia disponibilidade de vaga’. Comunicou, porém, que ela viajou até a ilha por contra própria”. Em tom de ironia, o jornal lembra que “Fernando de Noronha é um dos destinos mais concorridos e caros durante as festa de fim de ano com pacotes que podem superar R$ 35 mil. Entre os famosos que também escolheram a ilha como destino estão a atriz Bruna Marquezine e o jogador Neymar”.

Já a Folha informa que “caso Cristiane Brasil seja impedida de assumir o cargo por outras decisões judiciais, a equipe do presidente avalia que seria melhor ele indicar outro nome, para não criar um novo desgaste na imagem do governo. O principal cotado é o deputado federal Sérgio Moraes (PTB-RS), que em 2009 causou polêmica ao dizer que estava ‘se lixando para a opinião pública’”. Como se observa, o covil golpista virou uma autêntica suruba. Sobre este cenário patético, vale conferir o artigo de André Singer, publicado na Folha no sábado (6), antes das novas denúncias contra a “sinistra” do Trabalho.

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Nomeação mostra o Brasil de Cristiane

O governo Michel Temer passa por má fase, com dificuldade para achar quadros de reposição aos que deixam o navio intempestivamente. Não obstante, sempre encontra um modo de prestar serviços ao país. No caso, o de revelar, cruamente, a que ponto nos trouxe a crise que entra em seu quinto ano.

O prêmio concedido a Roberto Jefferson, presidente do PTB, com a nomeação da filha, Cristiane Brasil, para a pasta do Trabalho, mostra que o sucesso das operações anticorrupção pouco alterou os costumes políticos nacionais. Como se sabe, ao conceder a entrevista que deflagrou o mensalão, em 2005, Jefferson se autoincriminou. Para denunciar José Dirceu e o PT, teve que reconhecer a própria culpa. Passados 13 anos, cumprido um de prisão em regime fechado, lá está ele, impávido, de volta ao poder por meio da descendente.

A própria deputada escolhida aparece na delação da Odebrecht à Lava Jato, além de enrolada com processos trabalhistas (se bem que isso pode trazer conhecimento útil no posto que ocupará). Pai no mensalão; filha na Lava Jato. Nada disso importa. Sob o comando de Jefferson, o PTB deu 14 votos na Câmara pelo impeachment de Dilma, 14 contra o afastamento de Temer e promete outros tantos para a reforma da Previdência. É dando que se recebe.

E se alguém acha que essas agremiações clientelistas estão com os dias contados até a eleição de 2018, deveria ler com atenção o noticiário corrente. Fernando Henrique mandou dizer a Alckmin que ele precisa ser capaz de colar os cacos fisiológicos. Kassab, chefe de um deles, sinaliza que o PSD está disposto a conversar, apesar de ter um pré-candidato, Henrique Meirelles, no seu partido. O ministro Marun, homem de Eduardo Cunha, indica que o MDB também pode apoiar o governador paulista, apesar das mágoas, uma vez que este não se jogou a favor de Temer na hora do aperto, como fez Jefferson.

Enfim, a velha política vai se rearrumando. É possível até que da profusão de novos grupos —à direita, ao centro e à esquerda— saia alguma novidade interessante, mas o Congresso de 2019 não será muito distinto do que está aí. A classe política é o resultado de lenta sedimentação. Não será destruída nem construída do dia para a noite.

Há um erro fundamental em achar que processos espetaculares teriam o condão de substituir a camada atual de legisladores por uma nova em folha. Os políticos profissionais refletem a sociedade da qual emergem. Eles não mudarão enquanto esta não mudar.

PS: de acordo com Fernanda Calgaro, do "G1", o deputado do PSD-RJ que deve assumir com a vacância de Brasil foi condenado "por exploração sexual de menor". O parlamentar diz que a condenação foi política.


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