segunda-feira, 4 de setembro de 2017

FHC, entre o cinismo e o delírio

Por Jeferson Miola

FHC, presidente de honra e oráculo do PSDB, exibe sintomas claros de alguém em desconexão com a realidade. No artigo Uma candidatura agregadora [O Estado de SP, 3/9/2017], seu raciocínio oscila entre o cinismo e o delírio.

O partido dele, o PSDB, é co-autor do golpe de 2016 que derrubou Dilma, e sócio-fundador do “governo de ladrões” [cleptocracia, no grego] liderado pelo conspirador e golpista Michel Temer.

A despeito disso e das cenas escatológicas de corrupção da quadrilha que assaltou o poder, porém, FHC rememora o nascimento do PSDB como oposição às “práticas de conduta reprováveis” do PMDB [sic], e critica o que chama de “presidencialismo de cooptação” – justamente aquele do qual seu partido é o principal avalista e beneficiário.

Dono de um cinismo imbatível, FHC preconiza que “O importante agora será constituir um pólo democrático e popular que olhe para as eleições de 2018 com visão de futuro”.

Para ele, o PSDB não deve abandonar o governo de ladrões antes de 2018: “Se existirem divergências mais profundas e substantivas, que sejam explicitadas antes de um eventual ‘desembarque’ ”.

Na sua visão, o PSDB deve continuar dando sustentação a Temer porque “é inegável que houve avanços nas áreas econômicas e nas da educação, da habitação e da infraestrutura, assim como na política externa”.

São hilárias tantas baboseiras escritas pelo “príncipe dos sociólogos” num artigo tão breve; é difícil crer que até mesmo os peessedebistas mais fanáticos e sectários possam levá-lo a sério.

Não é crível que alguém que defendeu o congelamento dos gastos sociais pelos próximos 20 anos para transferir fortunas monumentais ao sistema financeiro, causando o extermínio da população pobre, escreva que “a bandeira da igualdade ganha enorme força diante da desigualdade gritante prevalecente e deverá implicar em mais e melhor educação, saúde e segurança”.

Soa falso FHC proclamar que“a moralidade pública e privada é um requisito para que as pessoas possam voltar a crer nos que governam”, quando o presidente do seu partido, Aécio Neves, continua presidindo o PSDB [licenciado, porém de fato], mesmo depois de ser flagrado recebendo R$ 2 milhões em propinas para repassar ao proprietário do helicóptero apreendido com 455 kg de pasta-base de cocaína [escândalo nunca investigado e apurado pela PF e MP tucanos].

Com esta trajetória cínica e delirante, FHC mancha sua biografia e perde o respeito formal e protocolar como ex-presidente do país, por mais nefasto que tenha sido do ponto de vista nacional e popular.

Não há inconveniente em se debater uma candidatura futura – ou “agregadora”, como defende FHC – desde que se debata isso com honestidade e seriedade.

FHC, contudo, com oportunismo quer dar um salto em direção ao futuro para escamotear as responsabilidades do tempo presente, pelas quais ele e seu partido devem responder:

- foram perpetradores da farsa do impeachment para derrubar ilegalmente a Presidente Dilma através do parecer do senador tucano Antonio Anastasia, das Minas Gerais de Aécio Neves;

- os parlamentares tucanos foram relatores da reforma trabalhista que viabilizou o pacto de dominação escravocrata no Brasil [Ricardo Ferraço/ES no Senado e Rogério Marinho/RN na Câmara];

- o senador tucano José Serra/SP foi autor da Lei que permitiu a entrega da exploração das áreas do petróleo de águas profundas [pré-sal] para as petroleiras estrangeiras;

- o deputado tucano Paulo Abi-Ackel, das Minas Gerais do Aécio Neves, elaborou o parecer que impediu o STF de julgar Michel Temer flagrado cometendo crime de corrupção no Palácio Jaburu;

- no Itamaraty, os tucanos atuam como cônsules dos EUA na América do Sul, defendendo os interesses norte-americanos em detrimento da integração regional e da inserção soberana do Brasil no mundo.

[isso tudo sem mencionar a atuação dos tucanos no Judiciário – Gilmar, Dallagnol, Moro, PF etc]

FHC e os tucanos carregarão à eternidade a marca de sangue nas mãos pelo golpe do qual foram veículo para a concretização da influência e dos interesses estrangeiros no país.

Se tivesse um milímetro de honestidade intelectual e política, FHC deveria pedir desculpas ao povo brasileiro, ao invés de proclamar idéias delirantes e desconexas no debate público.

Quem começa ler o artigo do FHC fica com a impressão de que ele vai concluí-lo propondo a expulsão do Aécio Neves do PSDB, a saída do PSDB do governo de ladrões chefiado pelo Temer, a retirada do apoio para a destruição da previdência social.

Mas não, FHC não faz isso; por isso sua credibilidade é nula.

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