sábado, 16 de setembro de 2017

A “caixinha” milionária do Temer

Por Mauricio Dias, na revista CartaCapital:

É curiosa a trajetória de Adhemar de Barros e a de Michel Temer, duas referências políticas de São Paulo de quem todo mundo ouviu falar, a partir do comportamento de ambos no trato com o dinheiro público, após alcançarem ou se aproximarem do poder.

Adhemar intrometeu-se pela prefeitura de São Paulo e o governo paulista. Disputou a Presidência da República, nos anos 1950, e perdeu. Temer, vice-presidente da República, costurou o golpe contra Dilma Rousseff e venceu.

Com quem e quando foi implantado o caixa 2 nas eleições? Adhemar de Barros talvez seja o responsável por isso. Das costelas dele nasceu o lema “rouba, mas faz”. Deu em pizza. Nasceu um samba criado por Benedito Lacerda e Herivelto Martins. Dois mestres da MPB impulsionados por uma boa remuneração. Michel Temer está às voltas com esse problema sem saber como responder.

Ele carrega o peso de 14 caixas com dinheiro vivo, descobertas pela Polícia Federal, guardadas em um apartamento em Salvador, que, contadas e recontadas, alcançaram 51 milhões de reais. No lugar havia rastros, mais precisamente as digitais, de Geddel Vieira Lima.

Em depoimento na Operação Lava Jato o empresário Emílio Odebrecht, figura influente nas eleições mais recentes, fez referência aos anos 1960 e 1970, quando a empreiteira do pai dele entrou no jogo. As influências dessas empresas foram articuladas durante a formação do governo de Juscelino Kubitschek, sob o lema, “50 anos em 5”. Beneficiou todos os círculos empresariais.

JK mudou o processo das campanhas eleitorais. Usou o avião, as emissoras de rádio e as nascentes televisões. Ganhou a disputa ao custo de contaminar as eleições. O caixa 2, nos anos 1960 e 1970, cruzou intacto a ditadura militar, com o consentimento dos generais. Alguns deles diretamente beneficiados. Outros movidos pela possibilidade de alcançar o poder pela via eleitoral. É nesse atoleiro que está afundado Michel Temer. Não há saída.

Rodrigo Janot despediu-se do cargo de procurador-geral da República, ao apresentar para o Supremo Tribunal Federal uma segunda denúncia contra Michel Temer. Desta vez por crimes de organização criminosa e obstrução à Justiça.

Era possível, há muitos anos, dizer que Adhemar de Barros roubava, mas fazia. De Temer talvez se possa dizer somente que ele não faz. Mas rouba.

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