quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Brasileiros rejeitam venda da Eletrobrás

Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:

Apesar de o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso participar ativamente da política brasileira emitindo opinião sobre quase tudo, desde que deixou a Presidência da República ele nunca mais foi incluído em uma pesquisa de intenção de voto para o cargo que ocupou entre 1995 e 2002.

Não, não se trata de discriminação por parte da mídia. Muito pelo contrário…

FHC foi recentemente lembrado pelos meios de comunicação até para se tornar presidente de novo via eleição indireta, caso Michel Temer perdesse o cargo por conta das provas de corrupção que surgiram contra si. Mas o tucano jamais foi incluído em pesquisa de intenção de voto simplesmente porque a opinião dos brasileiros sobre ele seria desmoralizante.

De todos os problemas de governança que tornaram o ex-presidente tão impopular, o processo que ficou conhecido como “privataria tucana” ocupa destaque. Entre 1995 e 2002, FHC vendeu as ditas “joias da coroa” do patrimônio público brasileiro por preço considerado vil por grande parte dos analistas, mas não é por isso que o povo reprovou as privatizações.

Agora, Michel Temer dá asas à sua ilegitimidade e anuncia que pretende empreender um “mega processo de privatizações”, a começar pela Eletrobrás em um processo que, por certo, chegará à Petrobrás.

Antes de demonstrar que Temer, mais uma vez, age á revelia da vontade dos brasileiros, vale abordar, primeiro, uma pesquisa Ibope levada a cabo em 2007. Em seguida, outros dados bem mais recentes serão acrescentados.




À época, a maioria do eleitorado brasileiro (62%) apareceu em pesquisa como sendo contra a privatização de serviços públicos feita por quaisquer governos, segundo apuração feita pelo jornal O Estado de São Paulo em parceria com o instituto Ipsos.

Apenas 25% dos brasileiros aprovava as privatizações. A percepção era a de que as privatizações pioraram os serviços prestados à população nos setores de telefonia, estradas, energia elétrica e água e esgoto.

Detalhe: as mais altas taxas de rejeição (73%) estavam no segmento de nível superior e nas classes A e B. Mas nem sempre foi assim.

Em dezembro de 1994, uma pesquisa Ibope sobre privatização de bancos estaduais mostrou que 57% eram a favor de privatizá-los total ou parcialmente e só 31% eram contrários. Em fins de março de 1995, outra pesquisa Ibope atestou que 43% dos brasileiros eram a favor das privatizações e 34% eram contrários.

Os mais criticados, segundo a pesquisa, eram os serviços prestados pelas concessionárias de energia elétrica (pioraram para 55% e melhoraram para 31%) e água e esgoto (54% e 29%, respectivamente) e as de telefonia (51% e 37%) e de estradas (47% e 36%).

Dali em diante, conforme as privatizações foram acontecendo, isso mudou muito. Em 2007, uma robusta maioria já achava que a qualidade dos serviços prestados por empresas privatizadas tinham piorado.

Aí os picaretas que apoiam Temer e o roubo de patrimônio público vão dizer que de 2007 muita coisa mudou, o Brasil deixou de ser “petralha” etc., etc. Mas não procede. Pesquisa recente revela que o percentual dos que reprovam privatizações permanece inalterado.



A maioria dos brasileiros continua contra a privatização de empresas estatais. A constatação é de uma pesquisa do Instituto Paraná Pesquisas, feita com exclusividade para o site O Financista.

A pesquisa ouviu 2.020 pessoas maiores de 16 anos em 158 cidades de 24 Estados, mais o Distrito Federal em julho do ano passado. Do total, 60,6% dos entrevistados declararam-se contra privatizar as estatais; 33,5% são favoráveis; e outros 5,9% não souberam ou não opinaram.

A questão apresentada aos participantes foi: “Com o objetivo de melhorar a situação econômica do Brasil, o governo Michel Temer planeja vender, ou seja, privatizar algumas empresas e ativos estatais. O Sr(a) é a favor ou contra essa medida?”

A enquete também avaliou a posição dos entrevistados em relação à venda das principais estatais federais. Apesar de todo o desgaste na imagem da Petrobras, epicentro da Operação Lava Jato, os brasileiros apoiam sua permanência nas mãos do governo: 63,3% são contra sua privatização; 31,1%, a favor; e 5,6% não souberam ou não opinaram.

A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos também enfrentaria resistências, caso o governo a transferisse para o controle privado: 62,4% são contra sua venda; 32,3%, a favor; e 5,3% não souberam ou não opinaram.

A privatização dos bancos públicos é a que desperta maior rejeição. Quando indagados sobre uma eventual privatização do Banco do Brasil ou da Caixa Econômica, 67,5% dos participantes declararam-se contrários; outros 26,8% são a favor; e 5,7% não souberam ou não opinaram.

Assim mesmo, a privataria 2.0 deve ser levada a cabo. Mesmo contra a vontade do povo. E não só pelo PMDB de Michel Temer; o PSDB, mais uma vez, está na contramão da vontade popular e certamente estará apoiando outra grande queima de patrimônio público.

Eis que surge a pergunta: por que políticos, que vivem da opinião do eleitorado sobre si, afrontam com tanta desenvoltura àqueles que podem aposentá-los?

Não é difícil entender por que. Certamente Temer, seu partido e os aliados tucanos esperam lucrar de outra forma que não através do voto popular. O que $erá que o$ privateiro$ irão ganhar de$ta vez? Deve $er um prêmio muito bom para fazê-lo$ mandar o eleitorado pa$tar, não é mesmo?

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