segunda-feira, 28 de agosto de 2017

A agenda da democratização da comunicação

Por Cristiane Sampaio, no jornal Brasil de Fato:

A democratização da comunicação deve constar na lista de prioridades do próximo governo do Brasil, segundo o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad. Para o petista, que também foi ministro da Educação no governo Lula, o tema é fundamental para o fortalecimento da democracia no país.

“O debate sobre a comunicação já tardou tanto quanto o da reforma política. Está passando dos limites da irresponsabilidade, da omissão frente a isso. Essa agenda tem que estar na ordem do dia do próximo governo, se for um governo progressista, democrático e comprometido com a causa popular”, afirmou.

Haddad foi um dos convidados da abertura do seminário “Os desafios da comunicação nas administrações públicas”, que ocorre este fim de semana - entre os dias 25 e 26 - em São Luís, no Maranhão. Ele ressaltou que, no Brasil, apenas sete famílias detêm o monopólio dos meios de comunicação, controlando a agenda política nacional.

Para o petista, a desconcentração da propriedade desses veículos é um desafio relacionado à educação da população, que precisa ter acesso a uma diversidade de conteúdos e opiniões. O ex-prefeito acrescentou que a sociedade como um todo tem o direito de conhecer o trabalho desempenhado pelos veículos da mídia alternativa, que, para ele, necessitam de mais espaço no mundo da informação.

“A concentração da propriedade é contra a democracia, atrapalha a democracia. Nós temos que educar as pessoas para receberem, de forma autônoma e livre, essa informação turbinada por esses novos expedientes, para que as pessoas possam se valer da comunicação para aprofundar a democracia”, defendeu Haddad.

Embate

Já o deputado federal Edmilson Rodrigues (PSOL-PA), ex-prefeito de Belém, destacou o comportamento dos empresários da grande imprensa contra iniciativas políticas identificadas com as ideias de esquerda. “Eles estão dispostos a destruir qualquer projeto de mudança”, criticou o psolista, citando ainda a relevância dos veículos alternativos para a disputa de narrativa no território midiático.

Seguindo a mesma linha de raciocínio, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), abordou o comportamento dos grandes jornais locais diante das diferentes gestões públicas no estado.

Ele citou um levantamento do site “Manchetômetro” a respeito do jornal “O Estado do Maranhão”, controlado pela família Sarney, clã político de expressão nacional. Em 2014, por exemplo, houve 298 capas dedicadas ao então governo da peemedebista Roseana Sarney. Dessas, 66% eram consideradas positivas e apenas 5% tinham teor negativo em relação à gestão.

No ano seguinte, quando Dino assumiu o cargo, o site contabilizou um total de 299 capas relacionadas ao governo, sendo 8% delas positivas e 53% negativas. As que ficam de fora dessas duas categorias são consideradas pela plataforma como “neutras”.

“É, de fato, uma manifestação da luta de classes, nua e crua. (…) É uma violência simbólica que a gente sofre com esses oligopólios governando frações do estado, quaisquer que sejam elas, com uma perspectiva diferente de inclusão social, de justiça social, de transformação”, considerou o governador.

“Antipolítica”

A criminalização da política, tema dos mais candentes na atualidade, também foi apontada por Dino como algo relacionado ao discurso hegemônico orquestrado pela grande mídia e outros atores. Para o governador, a imagem da política é comprometida perante a sociedade por conta de uma forma dualista de perceber o Estado e o mercado.

“Esta é, por exemplo, a narrativa da Lava Jato: o Estado é o espaço dos vícios; o mercado é o espaço das virtudes. E é essa narrativa que gera um subproduto que nos atinge. Ora, se nós somos a expressão dos vícios, nada do que dizemos é confiável”, apontou.

Dino acrescentou que tal discurso serve a interesses conservadores para manter a lógica da luta de classes. “A antipolítica é a nova farsa da dominação no Brasil”, concluiu o comunista.

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