sábado, 25 de fevereiro de 2017

Brasil pós-Serra: mais fraco e isolado

Por Mariana Serafini, no site Carta Maior:

Durante a rápida passagem pelo ministério das Relações Exteriores – apenas nove meses – a atuação de José Serra foi um fracasso completo. Tentou usar a chancelaria brasileira para fazer palanque ideologizado, discurso que além de não sustenta-lo muito tempo sob os holofotes, estagnou a política externa nacional. Sem a atenção dos Estados Unidos que tanto desejava e enfraquecido na América Latina, o ex-ministro deixa um dos piores legados dos últimos anos na pasta.

Na noite desta quarta-feira (22) o senador pelo PSDB de São Paulo enviou uma carta ao presidente Michel Temer para solicitar sua saída do ministério. No documento ele alegou problemas de saúde e se disse “honrado” em desempenhar este papel, mesmo que por curto período.

Na visão do professor de Relações Internacionais da PUC-SP, Reginaldo Nasser, a atuação de Serra no ministério foi um completo fracasso. “Ele apostou tudo quando entrou, mas não tem política externa nenhuma. Fez uma série de discursos para agradar um público de direita, falou mal do Foro de São Paulo, da Venezuela, mas nunca teve nada, não elaborou nada”.

Serra deixa o ministério depois de fracassar em sua investida contra a Venezuela no Mercosul, não conquistar a aproximação desejada com os Estados Unidos, ainda mais sob o comando de Donald Trump, e perder o protagonismo no Brics.

Na questão da Venezuela, Serra mostrou que não tem habilidade diplomática ao ser o pivô de um complô mal feito. Depois de uma série de investidas ruins, conquistou o voto dos demais países do bloco para expulsar Caracas. Porém, nesta semana, o Parlamento do Mercosul rejeitou, por unanimidade, a proposta dos chanceleres e vai recorrer junto ao Tribunal competente para manter o país de Nicolás Maduro.

Após protagonizar o processo de entrega da exploração do pré-sal ao mercado externo, o ex-ministro também não conseguiu manter a prometida aproximação com os Estados Unidos. E na América Latina, conquistou parceria apenas com a Argentina, sua aliada ideológica.

Se o objetivo do tucano, no ministério, era fazer palanque, também não foi bem sucedido. Depois de uma série de discursos exagerados, sem base para execução, perdeu a atenção da imprensa e dos aliados políticos. “Talvez ele tenha pensado que teria mais fôlego para fazer do Ministério de Relações Exteriores um palanque, criar factoides em torno da questão da esquerda na América Latina, mas são discursos que não têm durabilidade. Ele não tem um projeto e cometeu muitas gafes, foi um fracasso”, diz o professor.

O ex-chanceler Celso Amorim também não vê com bons olhos a atuação de Serra. Para ele, a política ativa e altiva do Brasil foi desmontada rapidamente após o golpe contra Dilma Rousseff. “O Brasil se isolou, só tem aproximação com países de semelhança ideológica, como a Argentina, mas não tem mais uma presença na América Latina, nem no mundo”. Ele destaca que o Brasil foi protagonista da integração continental e teve atuação fundamental no Brics, mas agora, perdeu espaço.

Para Nasser, a atuação de Serra no ministério está muito ligada à má administração do governo de Temer. “A perda de protagonismo do Brasil é um fracasso do governo Temer. O Serra é um dos representantes disso. Mas não significa que se entrar uma pessoa mais articulada vai mudar o cenário agora, depende do governo”.

Se o objetivo de Serra era trilhar um caminho para o executivo nas eleições de 2018, certamente o Ministério das Relações Exteriores não lhe proporcionou o espaço necessário depois deste isolamento político. “É o perfil do Serra sempre olhar para a frente do lugar onde ele está. E [no ministério] ele não apresentou nada. Só fez discursos e gafes”.

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