sábado, 5 de novembro de 2016

Preta Gil e os racistas da mídia

Foto do site de Preta Gil
Por Altamiro Borges

Nesta terça-feira (1), a Polícia Civil de Sorocaba, no interior de São Paulo, finalmente deteve o casal de adolescentes que postou na internet ofensas racistas contra a cantora Preta Gil, em julho deste ano. A mãe da jovem também foi presa. Todos foram encaminhados à Delegacia de Investigações Gerais (DIG) para prestar esclarecimentos e foram liberados. Os menores podem ser punidos com medidas socioeducativas. Já a mãe da menor, se condenada, está sujeita à pena de dois a cinco anos de prisão. Os envolvidos no caso, que teve forte repercussão na mídia, foram localizados por meio do endereço de IP do computador.  Segundo o delegado Acácio Aparecido Leite, titular da DIG, o trio faz parte da chamada "Máfia Maliciosa", um grupo que costuma postar mensagens racistas nas redes sociais.

A investigação de mais este caso repugnante de racismo na internet foi iniciada após a cantora fazer um boletim de ocorrência em uma delegacia do Rio de Janeiro. A partir da denúncia, a polícia carioca solicitou à polícia paulista o cumprimento dos mandados. Ao todo, pelo menos cem pessoas no país que comentaram as fotos e as mensagens de ódio racial estão sendo investigadas. Preta Gil não é a única celebridade a sofrer ataques nas redes sociais. Recentemente, as atrizes globais Taís Araújo, Cris Vianna e Maria Sheron Menezzes, a cantora Negra Li e a jornalista Maria Julia Coutinho foram vítimas desta onda de ódio racial. Em março passado, a polícia prendeu três homens que ofenderam Taís Araújo. Eles ficaram na cadeia por apenas três dias.

A esponja racista na TV Globo

A demora na apuração e a impunidade dos criminosos acabam incentivando as práticas racistas. Mas há outro fator que explica a atual onda de ódio na internet. É o papel da própria tevê - uma concessão pública explorada por empresários inescrupulosos -, que segue com sua programação de baixo nível e de incentivo a vários tipos de preconceito. Em maio último, por exemplo, a TV Globo foi denunciada no Ministério Público pelo uso de uma esponja que imitava um negro com black power. O utensílio doméstico apareceu no "Mais Você", de Ana Maria Braga, e ganhou maior destaque no "Big Brother Brasil". O MPF pediu reparação por danos morais e a exibição de uma retratação pública da Globo.

"A representação do cabelo 'black power' como esponja de pia faz clara alusão ao estereótipo racista do 'cabelo para ariar panela' ou 'cabelo Bombril', servindo apenas para reforçar o preconceito, ainda intrínseco a muitos setores da sociedade, desde a abolição da escravatura", alertaram os procuradores Renato Machado e Ana Padilha Oliveira, autores da ação. Apesar do processo e das críticas dos internautas e do movimento negro, a TV Globo decidiu manter a esponja no programa. Ela só não foi usada para a limpeza porque um dos participantes do BBB, um negro, ficou indignado com o objeto. A ação do MPF, porém, não deu em nada e o assunto sumiu rapidamente do noticiário.

Machismo e homofobia na tevê

Além do ódio racista, a televisão brasileira estimula outros tipos de preconceitos. Em abril passado, o apresentador Ratinho, do SBT, deu um chute na sua assistente de palco, Milene Pavorô. A agressão machista, transmitida ao vivo, gerou uma onda de revolta nas redes sociais. "O chute que você levou doeu em todas nós! A violência contra a mulher, mesmo que disfarçada de 'brincadeira', precisa ter um basta", reagiu uma internauta. Também no SBT, Patricia Abravanel usou o programa dominical do seu pai, Silvio Santos, em maio último, para afirmar que os homossexuais "não são normais". De imediato, a hashtag #AnormalÉTeuPreconceito foi para o topo do Twitter e a herdeira do SBT pediu desculpas por seus comentários homofóbicos. "Sou amiga dos gays", afirmou a cínica. 

No mesmo mês de maio, Otaviano Costa, apresentador do "Vídeo Show" da TV Globo, também fez comentários odiosos contra os travestis. Na sequência, ele postou vídeo em seu Instagram para pedir desculpas à comunidade LGBT e disse que não sabia que o termo "traveco" é agressivo. Nestes e em outros casos, os preconceituosos da mídia nunca sofreram qualquer retaliação. O Judiciário, tão bem relacionado com os donos da mídia, nunca puniu as barbaridades difundidas pelas emissoras de tevê. Possivelmente, estas cenas serviram de motivação aos apologistas do ódio detidos em Sorocaba.

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