terça-feira, 22 de novembro de 2016

Economia afunda e desmoraliza Temer e mídia

Por Altamiro Borges

O "golpe dos corruptos" foi embalado com a falsa promessa de que bastaria derrubar Dilma Rousseff para a economia voltar a crescer. Michel Temer e Henrique Meirelles, o fajuto "salvador da pátria", prometeram o retorno da confiança do "deus-mercado", dos investimentos e dos empregos. Já a mídia privada, principal protagonista da conspiração golpista, reforçou estas falácias e passou a divulgar só notícias positivas sobre a economia. Antigos "urubólogos", que na gestão petista alardeavam o caos e difundiam o pessimismo, tornaram-se servis otimistas de plantão. Passados sete meses, porém, até o "midiota" mais tacanho já percebe que foi feito de otário, sendo usado como massa de manobra. Na vida real, o país afunda em acelerada recessão e as perspectivas para o futuro são as mais sombrias.

Nesta segunda-feira (21), Fabio Kanczuk, secretário de política econômica do Ministério da Fazenda, confirmou a tragédia. Ele anunciou que o covil golpista revisou para pior a sua projeção para o PIB (Produto Interno Bruto) de 2016 e de 2017. Para este ano, a estimativa é de que a economia vai encolher 3,5% - a previsão anterior era de queda de 3%. Já para o próximo ano, a expectativa é que o PIB cresça apenas - menor do que a projeção anterior, de 1,6%. Ele mesmo elencou como um dos motivos para o desastre a "falta de confiança" das empresas - aquela mentira antes apresentada como verdade pelo Judas Michel Temer e pela mídia chapa-branca.

Estadão lamenta ociosidade na indústria

Antes da confissão oficial do governo, a Fundação Getúlio Vargas já havia divulgado números bem preocupantes sobre a situação do país. Segundo dados do Monitor do PIB, elaborado pela FGV, no terceiro trimestre deste ano a economia encolheu 0,99% em relação ao trimestre anterior. Foi o sétimo recuo seguido. Em relação ao terceiro trimestre do ano passado, o PIB diminuiu 3% - o que confirma que o Brasil afunda em grave recessão. "Esses resultados mostram uma resistência à recuperação da economia maior do que a previamente esperada”, afirmou a nota oficial do instituto. E não é preciso ir longe para constatar a tragédia. Basta olhar para a pasmaceira das indústrias e do comércio.

No último sábado (19), o jornal Estadão - um dos entusiastas do covil golpista - publicou uma matéria que revela o caos no setor produtivo. Segundo a reportagem, assinada por Márcia De Chiara, "a indústria brasileira atravessa seu pior momento em pelo menos 16 anos. De janeiro a outubro, a ocupação média das fábricas está em 73,9%, o menor índice desde 2001, quando a FGV começou a fazer o levantamento. Nesses 16 anos, a média histórica de ocupação de capacidade da indústria é de 80,9%. 'A grande ociosidade na indústria mostra a profundidade da crise econômica', diz a coordenadora da Sondagem Industrial do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, Tabi Thuler Santos".

Segundo a FGV, dos 19 segmentos pesquisados, 80% estão com a ocupação baixa ou extremamente baixa. O setor em pior situação é o de automóveis. Em outubro, as montadoras utilizaram 55,9% da capacidade das fábricas, menor nível mensal de ocupação também em 16 anos. A japonesa Honda, que investiu R$ 1 bilhão numa nova fábrica em Itirapina (SP), por exemplo, continua com sua planta fechada e sem perspectivas de usá-la no curto prazo. O Estadão até descarta uma recuperação já no próximo ano. "Um dos efeitos da grande ociosidade na indústria, segundo especialistas, é adiar pelo menos para 2018 a retomada do investimento na produção, com abertura de fábricas e contratações". 

Folha agora teme pelos golpistas

Também a Folha parece desanimada. Em editorial publicado no domingo (20), intitulado "Otimismo abalado", o jornal admitiu o fiasco - mas sem fazer autocrítica da sua servil posição anterior. Em tom de lamúria, opinou: "Marca do início da gestão de Michel Temer, a esperança na recuperação da economia vai dando lugar a prognósticos mais sombrios. A melhora dos índices de confiança a partir do segundo trimestre não foi suficiente até agora para suplantar obstáculos concretos para volta do crescimento... Cresce entre analistas do setor privado o temor de resultados ainda piores... O investimento privado ainda patina, em razão dos estoques excessivos e da falta de demanda".

Diante deste cenário, a Folha golpista prevê dias difíceis para Michel Temer. "A crise econômica e a resistência da inflação dificultam o ajuste das contas públicas. A situação falimentar dos Estados é mais um sinal de alerta, que pode favorecer o acirramento de protestos. Os riscos para o governo federal são evidentes, uma vez que opera num ambiente de baixa popularidade. Paira sobre ele a ameaça de rápida erosão de seu capital político, nos próximos meses". Como remédio, o jornal da famiglia Frias - que sempre defendeu a linha dura, inclusive a dos generais na ditadura - prega que o governo acelere as destrutivas reformas neoliberais, principalmente a da Previdência Social.

Se até a mídia privada, que protagonizou o "golpe dos corruptos" e apostou as suas fichas no sucesso econômico do covil golpista, já dá sinais de desânimo, o Judas Michel Temer que se cuide. Como bem apontou André Singer, em artigo na Folha, o usurpador pode estar sendo aos poucos descartado, o que lhe reservaria um futuro tão sombrio como o do ex-presidente José Sarney. Vale conferir o texto publicado no sábado passado (19):

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Governo Temer pode sofrer sarneyzação

Os fracos resultados econômicos no trimestre terminado em setembro somados ao desarranjo mundial provocado pela vitória de Donald Trump formam quadro perigoso para o Brasil. A situação já indicava dificuldades estruturais para uma volta dos empregos. Agora, a incerteza produzida pelo trumpismo deverá congelar as decisões de investimento ao redor do planeta até que, empossado, o novo ocupante da Casa Branca mostre o que realmente vai fazer.

Diante dessa mudança conjuntural, o governo Temer parece inerme, perdido na ilusão de que a austeridade bastará para recolocar o "país nos trilhos", como gosta de dizer o presidente. Governar requer alterar rotas quando o horizonte muda. Na ausência de resposta, o caos ameaça tomar conta.

A curta semana pós-proclamação da República foi típica de avião sem piloto na cabine de comando. Enquanto a sociedade se agitava de maneira furiosa - seja pela legítima revolta dos funcionários públicos cariocas, seja pela amalucada invasão da Câmara Federal por nostálgicos do regime militar -, instituições do âmbito judiciário continuavam a triturar o mundo político. Desta vez caíram os ex-governadores Anthony Garotinho e Sérgio Cabral, além de surgirem novas denúncias contra o PSDB de São Paulo.

Emblema de toda a confusão, o Rio de Janeiro ficou parecendo uma Grécia em escala subnacional, na qual estivesse em curso também uma megaoperação Mãos Limpas. No meio do furdunço, o Planalto repetia o discurso monocórdio de que a volta do crescimento depende de mais arrocho, entoando o mantra "acalma mercado" da reforma previdenciária.

Até que ponto os luminares do PMDB acham que os prejudicados vão aguentar em silêncio? Pode ser que, sustentado pela maioria parlamentar que derrubou Dilma Rousseff, o Executivo consiga até fazer passar a pretendida mudança na idade mínima para aposentadoria. Mas se os empregos não reaparecerem, Michel padecerá de rápida sarneyzação. Convém lembrar que o ex-presidente José Sarney conseguiu vencer no Congresso constituinte a difícil batalha em favor do mandato de cinco anos para si, o que não o impediu de deixar a Presidência com uma das maiores rejeições registradas desde o retorno dos civis ao poder.

A seguir assim, a dupla Temer/Meirelles, que pretendia emular a dobradinha Itamar/FHC, acabará abrindo a porta para algum salvacionista de ocasião, como diria Chico de Oliveira. Com a Lava Jato pondo abaixo as estruturas partidárias, torna-se fácil o surgimento, filiado a qualquer microlegenda, de um messias que prometa colocar ordem na bagunça - tal como Fernando Collor de Mello jurava dar um fim à inflação em 1989. Venceu.

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