domingo, 27 de novembro de 2016

Comunicação é fundamental para a esquerda

Foto: Raphael Coraccini
Por Bruno Hoffmann, no site do PT:

No debate “Os reflexos do golpe na sociedade”, promovido pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, no centro de São Paulo, na noite de quinta (25), o músico Tico Santa Cruz, o dramaturgo Sérgio Mamberti e a jornalista Laura Capriglione discutiram como o golpe de Michel Temer impõe retrocessos à cultura e como a comunicação pode ser uma arma valiosa para conquistar a população.

De acordo com Tico, que tem mais de 2,5 milhões de seguidores no Facebook, um dos grandes erros da esquerda nacional é o fato de, muitas vezes, apenas se comunicar dentro da própria “bolha”. Ou seja, apenas entre as pessoas que já têm pensamentos de esquerda.


“Quando dou palestras em escolas, não falo de combate ao capitalismo, mas de redução de danos que o capitalismo provoca. Se falar de outro jeito pode causar repulsa. A comunicação apenas para dentro da bolha é um dos nossos principais erros”.

Ele destacou que grupos de direita costumam se comunicar de forma mais simples, porém, ao mesmo tempo, sem aprofundamento da questão. A esquerda, em sua visão, deveria buscar um meio termo.

“O Bolsonaro, por exemplo, fala que ‘bandido bom é bandido morto’, sem refletir sobre as questões da violência no Brasil. Porém é entendido de imediato por uma parte da população. A esquerda tem de aprender a falar também de forma mais simples, mas dando espaço para o aprofundamento das ideias”.

Para ele, é preciso ampliar o debate e dialogar com todos os setores. “Temos que falar com os religiosos também, principalmente com os evangélicos. São pessoas que oferecem conforto à alma dos outros mas que, muitas vezes, estão isolados ou entregues a uma direita perigosa”.

“Os religiosos são importantíssimos para o Brasil. Muitos acreditam – e conseguem, de fato – prosperar socialmente por meio de sua fé. Devemos dizer que é importante prosperar, sim, comprar um carro novo, melhorar de vida, mas que seria muito melhor se todos prosperássemos juntos”.

O músico diz ter receio que as disputas eleitorais pelo Brasil possam estar cada vez mais à direita. “Se não melhorarmos a comunicação daqui para frente, a disputa será, como disse [Fernando] Haddad, entre a direita e a extrema direita. E eu não quero fazer campanha para o Alckmin contra o Bolsonaro em 2018”.

Uma das criadoras dos Jornalistas Livres, Capriglione concordou com Tico, mas destacou que, durante a luta contra o golpe da presidenta eleita Dilma Roussef a esquerda conseguiu se unir novamente, se rever, como há muito tempo não acontecia.

“Muitas vezes a esquerda fala para a bolha, sim. Mas antes de todo esse processo, nem isso estava acontecendo. Nós tivemos que reaprender tudo em um ano”.

Para ela, as redes sociais ajudaram a recuperar a capacidade de encontro entre os diversos grupos sociais. “Há uma mistura sensacional quando, por exemplo, a Gaviões da Fiel [torcida organizada do Corinthians] compartilha uma matéria dos Jornalistas Livres contra a Máfia da Merenda ou quando um grupo gospel faz o mesmo”, contou.

A política cultural do PT

Para Mamberti, os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma foram os primeiros a dar voz à diversidade cultural e classificou a política cultural de Lula como “muito importante para o Brasil”.

O projeto do PT para a cultura, explica ele, começou a ser construído durante a disputa eleitoral de 1994, quando, quase sem recursos, foi organizado pelo partido um encontro nacional de cultura. “Lula foi quem acreditou e deu força para a o encontro acontecesse”.

O artista afirma que “o intelectual Fernando Henrique Cardoso não tinha projeto cultural algum além da Lei Rouanet”. No debate, lembrou que representantes do governo FHC tomaram uma enorme vaia na Universidade Federal da Bahia (UFBA) ao apresentar o mote de seu projeto: “A cultura é um bom negócio”. Esse modelo indicava que a cultura deveria ser tratada com um viés mercadológico em vez de de um instrumento para a democracia.

Com Lula no poder, diz o ator, a situação mudou. “O Ministério da Cultura passou a ser frequentado pelos movimentos sociais, os grupos LGBTs, os povos indígenas. Essas pessoas nunca tinham tido voz. Lá, antes, só se entrava de gravata”.

Sobre Temer, Mamberti disse que é natural um governo autoritário tentar fechar os espaços à liberdade criativa. “A cultura é a identidade do País. No momento em que há um governo autoritário, arbitrário e ilegítimo, a primeira tentativa é a de eliminar o Ministério da Cultura e virar as costas para a identidade nacional”.

Para ele, porém, os estudantes e os trabalhadores começam a mostrar cada vez mais resistência às medidas de Temer.

“Eu fico emocionado quando vejo essa mobilização dos estudantes secundaristas, das universidades, dos trabalhadores e da sociedade civil. Eu tenho quase 78 anos e me sinto um estudante secundarista na luta”, brincou.

0 comentários: