segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Bom para os EUA não é bom para o Brasil

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Por Emir Sader, na Rede Brasil Atual:

A primeira declaração do primeiro ministro de Relações Exteriores da ditadura Juracy Magalhães, da UDN, o PSDB da época, não deixava dúvidas que a política internacional soberana de Santiago Dantas estava revertida radicalmente: "O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil".

Se adaptava a frase original, de que "O que é bom para os Estados Unidos é bom para a General Motors". Passávamos a ser uma espécie de empresa norte-americana, de filial dos Estados Unidos na América Latina, o que Ruy Mauro Marini chamou de subimperialismo norte-americano. Mais tarde, Richard Nixon disse: "Para onde for o Brasil, irá a América Latina", com a esperança que a política da ditadura civil-militar se estendesse pelo continente.

A ditadura mergulhou o Brasil no alinhamento subordinado aos Estados Unidos na guerra fria, assumindo todos os supostos da Doutrina de Segurança Nacional, que orientava a própria instalação da ditadura. A luta contra a subversão comunista – definida muito amplamente, a ponto de abarcar qualquer divergência com o regime militar – passou orientar a ditadura brasileira e sua política externa, absolutamente subordinada à dos Estados Unidos. A ponto que o Brasil foi o único país que enviou tropas para acompanhar as dos Estados Unidos para derrubar o regime democraticamente eleito da República Dominicana.

Depois de privilegiar as políticas de integração regional na América Latina e os intercâmbios Sul-Sul, com o governo surgido do golpe militar, as orientações impostas pelo ministro interino de Relações Exteriores, José Serra, retomam as relações bilaterais privilegiadas com os Estados Unidos. O ministro interino se reuniu com o secretário de Estado, John Kerry, assim como passou a defender as posições norte-americanas em relação à Venezuela, ao Mercosul à Unasul e à Celac, assim como em relação aos governos dos outros países vizinho, com aproximações grandes com o Paraguai e a Argentina, e de confronto com a Venezuela, a Bolívia e o Equador.

Na prática, o ministro interino retoma a orientação de que "o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil", que inclui o distanciamento em relação aos Brics e a aproximação com a Aliança para o Pacífico.

Mesmo na interinidade, o Brasil passou a desfazer toda projeção internacional que o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinha construído, promovendo relações de conflito agressivo com os antigos aliados, e de simpatia com os Estados Unidos. Bastou pouco tempo de interinidade, para que o Mercosul tenha sido neutralizado, as declarações do governo instaurem um clima de conflitos e agressividade com os vizinhos, de distância com os Brics.

Serra representa diretamente os interesses estadunidenses, que querem que o Brasil baixe o seu perfil internacional, se aproxime da Aliança para o Pacífico, constitua um eixo neoliberal e por livre comércio com o governo argentino, isole a Venezuela, a Bolívia e o Equador e desarticule os processos de integração regional.

O que é bom para os Estados Unidos é um Brasil intranscendente, que quando se expressa, seja apenas para referendar as posições norte-americanas, que constitua um bloco regional pró livre comercio, que ajude os Estados Unidos a isolar e, eventualmente, a derrotar os governos que mantêm posições soberanas na região.

O que é bom para o Brasil, ao contrario, é fortalecer as alianças Sul-Sul, os Brics antes de tudo. É priorizar os processos de integração regional, apoiar os governos progressistas, recuperar a capacidade de ação do Mercosul, apoiar os governos da Venezuela, da Bolívia, do Equador, para que possam resolver de forma soberana seus problemas e avancem no caminho que se definiram até aqui.

O que é bom para o Brasil é o que bom para a América Latina, para o Sul do mundo, para a soberania brasileira.

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