sexta-feira, 1 de julho de 2016

A trincheira de combate da CPI da Merenda

Por Henrique Domingues, no site da UJS:

O combate a corrupção no Brasil virou uma espécie de norte estratégico para o povo. O recente acirramento político impulsionado pela atuação da mídia teve em seu epicentro os recentes casos de corrupção, com foco no governo federal e na esquerda brasileira. Setores conservadores e reacionários se valeram do sentimento de indignação popular com o desrespeito aos bens comuns e aplicaram um duro golpe à constituição cidadã de 1988 e ao Estado Democrático de Direito: impediram uma presidenta democraticamente eleita e sem crimes de responsabilidade de concluir o mandato.

Ainda no bojo do sentimento anticorrupção estudantes paulistas se levantaram contra as recorrentes práticas ilícitas que se materializaram na máfia que desviava dinheiro da alimentação escolar. As mobilizações culminaram na histórica ocupação do plenário da ALESP e em uma robusta vitória dos estudantes sobre o governo de Geraldo Alckmin, com a abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito que tem o objetivo de investigar os desvios da merenda.

Um forte esquema de blindagem foi articulado na criação da CPI. Oito dos nove membros são aliados do governo. O presidente da comissão deputado Marcos Zerbini é do PSDB, partido que há 21 anos dirige o Estado de São Paulo e é o principal citado nas delações da operação Alba Branca. De acordo com a Polícia Civil o esquema era operado diretamente do Palácio dos Bandeirantes, no gabinete da Casa Civil, ao lado de Geraldo Alckmin. Além do poder executivo, o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Fernando Capez, também do PSDB estaria envolvido nos desvios de merenda.

Dois dos três poderes paulistas estão envolvidos com o roubo da comida das crianças, o que justifica o forte controle do governo sobre a CPI. A mancha moral que o escândalo pode promover ao partido hegemônico no Estado há duas décadas, mesmo com a correlação de forças da ALESP, ainda não tem condições de ser calculada. Apesar de muitas vezes ser complacente com a corrupção em São Paulo, como foi com os escândalos do Metrô/CPTM e do Rodoanel, a população se levantou em defesa das crianças e de condições dignas de aprendizagem.

A luta política rompeu barreiras na mídia e inverteu a correlação de forças. O governo resiste e tenta ditar o ritmo dos trabalho da CPI, mas encontra muitas dificuldades com a alta pressão popular nas sessões e com a cobertura da grande mídia. É tempo de iniciar uma implacável temporada de caça aos ladrões de merenda e destruidores do patrimônio público. Extravasar o mármore da ALESP, tomar as ruas, dialogar com toda a população paulista e com a base de cada um dos 9 deputados que compõem a CPI, serão elementos decisivos para um desfecho vitorioso dessa notável jornada de lutas.

É inquestionável que a CPI da merenda é um grande instrumento da luta do povo paulista, mas como qualquer instrumento é preciso que se saiba usá-lo da melhor maneira. Só com criatividade e ousadia será possível consolidar um legado de combate a corrupção no Estado de São Paulo, que hoje é um dos principais entraves para o desenvolvimento nacional como um todo. Derrotar os tucanos em São Paulo é dar uma nova chance ao Brasil e a América Latina, pois é a elite paulista que lidera o conservadorismo e a luta pela manutenção do velho mundo.

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