terça-feira, 7 de junho de 2016

Manifesto francês e a rejeição ao golpe

Por Altamiro Borges

A rejeição ao "golpe dos corruptos" no Brasil cresce no mundo inteiro. Quase todos os dias ocorrem atos de protestos em embaixadas brasileiras no exterior. Até na abertura da conferência mundial da Organização Internacional do Trabalho (OIT) na semana passada, em Bruxelas, o diplomata amestrado do ministro José Serra foi vaiado e não conseguiu concluir sua fala. A própria mídia internacional, menos envolvida na conspiração nativa, já formou um consenso de que o processo do impeachment da presidenta Dilma foi criminoso. Nesta segunda-feira (6), o jornal New York Times publicou duro editorial concedendo "a medalha de ouro" por corrupção à equipe de Michel Temer. Também nesta semana foi lançado um manifesto de intelectuais franceses contra o golpe no Brasil. Confira:

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Contra o golpe de Estado constitucional, afirmamos nosso apoio e nossa solidariedade à democracia e aos movimentos sociais brasileiros

Os movimentos sociais brasileiros estão sendo diretamente atacados. Eles estão sujeitos a uma ofensiva política de grande amplitude que leva o Brasil a um extenso período de regressão democrática. Desde o início de maio, Dilma Rousseff, Presidenta eleita com 54 milhões de votos, foi afastada do poder pelas duas câmaras do Congresso Nacional. Parlamentares, deputados e senadores amplamente envolvidos em casos de corrupção, instauraram um processo de impeachment contra a presidente, acusando-a de irregularidades contábeis para camuflar o déficit nas contas públicas. Essa prática, rotineira de todos os governos brasileiros, não constitui nenhum dos crimes de responsabilidade previstos pela Constituição brasileira.

É por esse motivo que os movimentos sociais, os sindicatos e todas as forças progressistas do país caracterizam a destituição de Dilma Rousseff como golpe de Estado institucional.

A Operação Lava Jato, escândalo de corrupção ligado à empresa nacional de petróleo, Petrobras, envolvendo políticos brasileiros e construtoras no financiamento de campanhas eleitorais, indignou, merecidamente, o povo brasileiro. Todos os partidos políticos estavam envolvidos em tal operação, e os deputados de direita que lideraram a campanha contra a presidente estão dentre os mais comprometidos nesse escândalo. Se apoiando nas mobilizações populares, a direita avaliou que tinha chegado o momento de iniciar uma grande ofensiva para eliminar o Partido dos Trabalhadores (PT), cujas vitórias eleitorais eles nunca aceitaram. O processo de impeachment contra Dilma Rousseff contou com o apoio de poderosas igrejas evangélicas, que possuem grande influência dentro do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), assim como dentro de diversos outros partidos de direita menores, que juntos possuem a maioria em ambas as câmaras do Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado Federal).

A prática do golpe de Estado legal parece ser a nova estratégia das oligarquias latino-americanas. Após Honduras e Paraguai, foi a vez do Brasil. Essas novas formas de golpe de Estado sem o uso de armas se apoiam sobre uma classe política conservadora e neoliberal. Apesar dos ganhos sociais obtidos nos anos 2000 na América Latina, a direita e a extrema direita continuam sendo forças políticas poderosas, capazes de mobilizar grandes grupos através do apoio dos meios de comunicação dominantes, que por sua vez são completamente controlados pelos conglomerados industriais e pelas oligarquias nacionais. Alguns chegam a pedir a abolição do programa social Bolsa Família e das medidas implementadas pelo PT para reduzir as desigualdades.

O atual presidente interino, Michel Temer (líder do PMDB), já formou seu governo, composto unicamente por homens brancos, ricos e de meia-idade. Logo em seus primeiros dias, o governo de Temer aboliu o Ministério da Cultura e o Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, e anunciou uma redução significativa nos gastos do Sistema Único de Saúde (SUS), equivalente à Seguridade Social na França.

A direita brasileira está comprometida com uma agenda de extrema radicalização. Ela fala sobre a necessidade de "erradicar" o PT e, especialmente, os movimentos sociais que o apoiaram, tais como os sindicatos de trabalhadores e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Mesmo que muitos deles critiquem a política econômica, social e ecológica conduzida pelo governo do PT, os movimentos sociais se opõem ao que é de fato um golpe de Estado constitucional. Sobretudo porque o eventual retorno da direita ao poder pode significar uma grande ofensiva contra as conquistas sociais, e provavelmente até mesmo a criminalização das dissidências e das ações sociais, práticas que eram a norma antes da eleição de Lula em 2002.

Em apoio à democracia brasileira, afirmamos junto aos movimentos sociais brasileiros:

"NÃO AO GOLPE, FORA TEMER!"

Para assinar: https://www.change.org/p/soutenir-les-mouvements-sociaux-br%C3%A9siliens-contre-le-coup-d-etat-constitutionnel-au-br%C3%A9sil

Para ler a versão em francês: https://www.autresbresils.net/Contre-le-coup-d-Etat-constitutionnel-Nous-affirmons-notre-soutien-et-notre?var_mode=calcul

· Christophe Aguiton, Attac France

· Claire Angelini, artiste et cinéaste

· Christian Azaïs, LISE - CNRS / CNAM

· Geneviève Azam, économiste, membre du conseil scientifique d’Attac

· Luc Boltanski, sociologue, directeur d’études à EHESS

· Pierre Beaudet, Université d’Ottawa

· Susana Bleil, sociologue, maître de conférence à l’université du Havre

· Stella Bierrenbach, artiste

· Erika Campelo, Autres Brésils

· Mathias Cassel aka Rockin’ Squat, chanteur

· Bernard Cassen, président d’honneur d’Attac, secrétaire général de Mémoire des luttes

· Henryane de Chaponay, CEDAL

· Jean-François Claverie, Observatoire des Changements en Amérique Latine

· Thomas Coutrot, économiste, membre du conseil scientifique d’Attac

· Mazé Torquato Chotil, chercheuse et écrivaine

· Dr Fabien Cohen, chirurgien dentiste de santé publique, secrétaire général de France Amérique Latine

· Bernard Dreano, Assemblée européenne des citoyens

· Jean-Pierre Duret, réalisateur

· Marilza de Melo Foucher- docteur en Économie, journaliste et blogueuse

· Afrânio Raul Garcia Jr., antropologue, CESSP/EHESS

· Susan George, présidente du Transnational Institute

· François Gèze, éditions La Découverte

· Franck Gaudichaud, Président de France Amérique Latine, universitaire

· Jean-Marie Harribey, économiste, Université de Bordeaux.

· Jean-Jacques Kourliandsky, chercheur à Institut de Relations Internationales et Stratégiques (IRIS-Paris)

· Kamal Lahbib, Forum des alternatives Maroc

· Jean-Louis Laville, sociologue

· Frédéric Lebaron, sociologue, professeur à l’Université de Versailles-Saint-Quentin-en-Yvelines

· Gustave Massiah, Cedetim/Ipam, membre du Conseil international du Forum social mondial

· Gilles Maréchal, Pacé, économiste, consultant

· Gérard Mauger, directeur de recherche émérite CNRS

· Patrice Pinell, directeur de recherche, CESSP

· Louis Pinto, sociologue

· Ignacio Ramonet, journaliste Le Monde Diplomatique

· Messaoud Romdhani, Forum Tunisien pour les Droits Économiques et Sociaux (FTDES)

· Pierre Salama, économiste, professeur émérite université Paris XIII

· Andrea Santana, réalisatrice

· Alexis Saludjian, professeur IE- UFRJ

· Glauber Aquiles Sezerino, sociologue, Autres Brésils

· Christophe Ventura, enseignant à l’Institut d’études européennes de Paris 8, Mémoire des luttes

· Patrick Viveret, philosophe, citoyen impliqué

· Freddy Vitorino, producteur

· Eric Toussaint, CADTM

· Célina Whitaker, Collectif Richesses

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