domingo, 27 de março de 2016

Tucanos recorrem contra Doria. Fedeu!

Por Altamiro Borges

Na sua obsessão doentia para “sangrar” Dilma e “matar” Lula, a mídia partidarizada tem dado pouca atenção às brigas sangrentas no ninho tucano. Mas a coisa está feia no PSDB, o partido que os barões da imprensa desejariam que voltasse ao poder para restabelecer a “ordem neoliberal” e para garantir as fortunas em publicidade e outras regalias. Nesta quarta-feira (23), o vice-presidente nacional da legenda, Alberto Goldman, e o presidente do Instituto Teotônio Vilela, José Aníbal, anunciaram que irão entrar com uma representação no Ministério Público Eleitoral contra a candidatura de João Doria à prefeitura de São Paulo. Dependendo da decisão do MPE, os tucanos poderão ficar órfãos nas eleições na principal capital do país.

Apadrinhado pelo governador Geraldo Alckmin, o empresário-picareta e apresentador de tevê João Doria não teve adversário no segundo turno da prévia partidária, realizada no domingo retrasado (20). Dos 27 mil filiados do PSDB aptos a votar, somente 3.266 compareceram às urnas e ele obteve 3.152 votos – 68 votaram em branco e 46 anularam seus votos. Poucos dias antes, num gesto explosivo, o concorrente Andrea Matarazzo, o “vereador das abotoaduras de ouro” – apadrinhado de José Serra –, anunciou sua desfiliação da sigla e fez duros ataques a João Doria e a Geraldo Alckmin, denunciando compra de votos, uso de transporte ilegal e outras sujeiras no poleiro tucano. As bicadas, porém, não cessaram!

Agora, tucanos de alta plumagem anunciam que recorrerão ao MPE contra as prévias. A decisão foi tomada depois que a impugnação da candidatura de João Doria não foi analisada pela sigla antes da realização do segundo turno. Alberto Goldman e José Aníbal acusam João Doria, amancebado de Geraldo Alckmin, de uso de “propaganda irregular, transporte de eleitores e infrações da lei da Cidade Limpa”. Na ação, eles ainda argumentam que a prévia não teve quórum e que, por abuso de poder econômico e uso da máquina do Estado, a equidade da disputa interna foi quebrada. Em entrevista à Folha serrista, o ex-governador Alberto Goldman soltou os cachorros – ou os bicudos:

“Chega um João Trump da vida e, na base do volume de recursos de que dispõe, quebra a equidade que a disputa eleitoral tem que ter", esperneou, comparando o empresário-picareta ao pré-candidato republicano Donald Trump na disputa pela Casa Branca. Ainda de acordo com o jornal, que não escondeu sua torcida pelo serrista Andrea Matarazzo, “o questionamento do quórum é baseado no artigo 33 do estatuto do PSDB, que trata da realização das convenções e da formação dos diretórios do partido. Segundo o texto, para que a convenção tenha validade é preciso que pelo menos 30% dos filiados com direito a voto compareçam”.

Ainda sobre as bicadas sangrentas no ninho, vale conferir o editorial frustrado da Folha. Ele é hilário:

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PSDB x PSDB

Opinião - 22/03/2016

A notícia, nua e crua, parece piada pronta: mesmo com candidato único nas prévias do PSDB-SP, partido sai rachado após votação.

A sequência de eventos, como se sabe, não é tão simples assim. De fato João Doria não teve adversário no domingo (20), quando conquistou, em segundo turno, o direito de disputar a Prefeitura de São Paulo pelo PSDB. Mas isso se deveu apenas à desistência de Andrea Matarazzo, que anunciou sua desfiliação da legenda na sexta-feira.

Vereador mais votado da sigla em 2012, com 117 mil votos, Matarazzo fez críticas tão duras quanto merecidas ao descer do barco no qual navegou por 25 anos.

"Infelizmente, a ala liderada pelo [governador] Geraldo Alckmin não me deixou alternativa. Não tem espaço para mim num partido que se coaduna com a compra de votos, com abuso de poder econômico e com o tipo de manobras que fizeram", afirmou Matarazzo.

Referia-se, naturalmente, a expedientes condenáveis que teriam sido empregados por Doria durante a campanha. Sobraram indícios de irregularidade no pleito, enquanto o governador de São Paulo tratou de jogar todo o peso da máquina estatal a favor de seu preferido.

Se Matarazzo agiu como mau perdedor ao abandonar a disputa interna e procurar outra agremiação para concorrer à prefeitura, nem por isso deixa de revelar uma fratura partidária que vai muito além de sua pessoa.

Não é segredo que Alckmin e o senador José Serra enxergam no tabuleiro municipal um movimento estratégico para a corrida presidencial de 2018. Pode-se dizer, nesse sentido, que relegam a segundo plano os interesses da cidade.

De certo ponto de vista também os interesses do PSDB perderam prioridade. Alckmin vinha defendendo, ao longo desse processo, que a prévia constitui o sistema mais democrático de escolha.

Difícil contestar o argumento, a não ser pelo fato de que Doria foi votado por apenas 3.152 filiados, num universo de 27 mil. Ao todo, 3.266 tucanos foram às urnas, ou 12% do total. Se Alckmin buscava dar representatividade ao empresário, a missão não deu certo.

A julgar pelo tom agressivo adotado por João Doria em recentes depoimentos dirigidos a membros do PT, é melhor que o candidato tenha pouco respaldo interno. Seria um grande retrocesso para São Paulo acompanhar uma eleição pautada não em propostas, mas na intolerância e nos ataques pessoais.


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