sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

A crise entre a falácia e o equívoco


Por Iago Montalvão, no site da UJS:


Temos visto crescer cada vez mais uma campanha midiática que tenta criar um clima de terror no país em relação à nossa economia. A tentativa desses setores é construir um falso cenário, cujo Brasil aparece como país isolado do mundo, de uma realidade completamente desconexa da economia e da crise mundial, responsabilizando exclusivamente a gestão do Governo Federal pelas dificuldades que hoje vivemos. Mas é só compreendendo o lugar do Brasil em meio à conjuntura internacional que poderemos entender as peculiaridades pelas quais passam a economia do nosso país.

Com uma breve comparação é possível contradizer os absurdos da imprensa: Dívida Pública do Brasil é bem menor do que a de outros países desenvolvidos. Em 2014 ficamos em 14° lugar, com uma dívida pública de 128% o valor do nosso PIB, enquanto que países como Japão (1° lugar), ficou com a dívida em 400% do PIB e os Estados Unidos (6° Lugar) com 233% do PIB. Nesse mesmo sentido, entre os anos de 2007 e 2014 (os anos de recessão, de crise econômica mundial, onde os países mais se endividam e os bancos mais lucram), o Brasil teve um aumento de 3% na Dívida Pública, enquanto a grande maioria dos outros países tiveram maior variação (com exceção de países subdesenvolvidos como Turquia e Indonésia que tiveram redução na Dívida), como o Reino Unido que teve um aumento de 50%, ou a Espanha com 92%! [1]

Além disso, há de se destacar que no ano de 2011, ano em que a crise mundial já atingia diversos países, mas que ainda não havia chegado com forças no Brasil, tivemos um superávit primário de 3,11% do PIB (isto é, o resultado da subtração de despesas e arrecadações do orçamento que servirá para pagamento de Juros da Dívida Pública), os Estados Unidos tiveram um Déficit primário de 7,8% do PIB e o Reino Unido de 5,7% (ou seja, houveram mais despesas do que arrecadação, com as contas públicas em negativo não houve sequer pagamento dos juros das dívidas) [2].

Essas são apenas algumas peças do complexo jogo econômico mundial, mas já podem nos colocar duas reflexões:

1- Quais interesses estão por trás de uma campanha midiática que sorrateiramente manipula as informações para construir a imagem de que no Brasil se faz pouco superávit primário, que não somos bons pagadores, de que o certo mesmo é guardar dinheiro para pagar juros à banqueiros? Enquanto que o resto dos países capitalistas desenvolvidos tem dívidas muito maiores, com maiores taxas de variação e que apresentam déficits primários em suas contas. Ainda que alguns países estejam agora diminuindo seus déficits, diz respeito à uma recuperação de economias que já foram devastadas, tiveram duros arrochos e recessão e agora tentam retomar o crescimento.

Claramente existe uma tentativa de desestabilização do governo, munidos da desinformação, para que se fragilize cada vez mais um projeto popular. Por um lado enfraquecendo o campo do governo da disputa política, abrindo espaço inclusive para um golpe em potencial, e por outro levando esse próprio governo a adotar políticas cada vez mais voltadas para os interesses do capital financeiro. E daqui vou à minha segunda reflexão.

2- É incompreensível que um governo que se edificou sobre bases populares, no momento de crise, gire sua política econômica, de maneira conservadora, para beneficiar o capital financeiro. E aqui temos três problemas gravíssimos: um esforço incólume do Governo para gerar superávit primário e pagar juros da dívida pública, um silêncio ensurdecedor em relação às ilegalidades na cobrança desses juros por parte dos bancos (não enfrentando por exemplo o debate de uma auditoria) e uma taxa de juros exorbitante, também muito superior às taxas de juros pelo mundo a fora.

Muitos economistas afirmam que em períodos de recessão é natural que a diferença entre arrecadação e despesas se reduzam e se tornem negativas, pois os investimentos diminuem, a circulação do capital, o crédito, etc. Na grande maioria dos países afetados pela crise, ao contrário do Brasil, houve um aumento da dívida pública pra que se garantissem os investimentos necessários pra que a economia não esfriasse, claro que como nesses outros países a recessão foi ainda maior, isso veio acompanhado com uma série de retiradas de direitos dos trabalhadores e arrocho, mas ainda assim não houve superávit e as dívidas aumentaram substancialmente.

Enfim, a narrativa que se criou no Brasil (em especial pela grande mídia) em torno da crise econômica e que tem sido capitulada em partes pelo governo, é a de que é necessário reduzir gastos, inclusive em programas sociais e áreas fundamentais (como educação, saúde e previdência) para ajustar as contas, acumular o superávit primário e pagar juros ilegais. Ao invés de garantir mais investimentos em obras, rodovias, ferrovias, portos, serviços, na indústria nacional, que aquecem e movimentam a economia, o Governo preferiu fazer um duro ajuste que está aumentando o desemprego, aumentando a inadimplência, retirando direitos e prejudicando áreas sociais importantes, mantendo uma altíssima taxa de juros, que só beneficia os investidores estrangeiros, e nem assim conseguimos uma boa avaliação do mercado. O que eles querem é engolir o Brasil, e enquanto não retomarmos o desenvolvimento, não superaremos a crise.

Referências:

1- http://www.cartacapital.com.br/revista/887/o-monstro-nao-e-tao-feio
2- http://estaticog1.globo.com/2014/01/superavit/images/mapa_superavit.jpg.

0 comentários: