domingo, 24 de janeiro de 2016

O macarthismo como álibi para o lobby

Por Luis Nassif, no Jornal GGN:

Já tinha anotado isso na série que escrevi sobre a revista Veja, anos atrás (https://sites.google.com/site/luisnassif02/). Cria-se primeiro o macarthismo. Depois, esconde-se atrás deles todas as jogadas. Basta revestir uma jogada comercial de anti-PT - como foi a parceria de Veja com Daniel Dantas - para justificar politicamente uma nítida jogada de apoio comprado. Basta reverberar o discurso anti-PT, como o faz Gilmar Mendes, para todas suas arbitrariedades jurídicas e comerciais serem ignoradas.

Mais que a Folha, o Estadão - que não é de jogadas - tornou-se prisioneiro desse maniqueísmo fazendo o jogo mais primário de lobby do grupo de operadores que joga no mercado de taxas.

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Antes da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), tentou de todas as formas caracterizar as pressões pela redução da Selic como manobra do PT. Isso em um dia em que até o Prêmio Nobel de Economia, Jospeh Stiglitz, criticou a rigidez do BC. Recorreu à velha chantagem sobre o presidente do BC Alexandre Tombini, de que qualquer vacilo na definição da Selic seria tratado como rendição ao PT.

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Na véspera da reunião do Copom, quando Tombini acenou que a alta de juros poderia não se concretizar - invocando as projeções do FMI - o jornal escancarou suas páginas para que o mercado saísse batendo em Tombini. Inclusive com a velha jogada do hiperdimensionamento do episódio. O jornal supostamente entrevistou dois supostos ex-diretores do BC que supostamente teriam afirmado que nunca, jamais houve supostamente uma declaração tão inoportuna de dirigente do BC.

Enfim, no dia da reunião do Copom, Tombini foi reduzido a pó.

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Consumada a decisão de não aumentar os juros, o mercado - como se diz no jargão - "realizou o prejuízo", isto é, tratou de lamber as feridas e pensar no futuro. Pior que Tombini é o BC sem Tombini.

Na edição de hoje, essa obra prima da tergiversação, da parte do grupo da renda fixa, usando o jornal como cavalo de umbanda:

Uma das manchetes principais diz: "Manutenção do juros fortalece Tombini, diz o mercado". E o lide é um primor: "A decisão do Copom de manter a taxa de juros em 14,25% ao ano, enquanto o mercado esperava elevação, afetou a credibilidade do Banco Central, mas não enfraquece o presidente Alexandre Tombini, segundo analistas consultados pela Broadcast".

Entenderam? A força do BC – e do seu presidente – reside na sua credibilidade, já que seu poder é medido pela facilidade com que induz o mercado a caminhar na direção pretendida. Como pode a credibilidade do BC ter sido afetada e seu presidente se fortalecer?A explicação é um clássico do nonsense: "Ele está politicamente forte, já que a mudança de posição atende a uma pressão do governo". Como assim? O sinal de que uma pessoa está politicamente forte é sua capacidade de resistir às pressões. Se o suposto mercado acredita que Tombini cedeu às supostas pressões, por definição ele está politicamente fraco.

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Não ficou nisso.

Pela undécima vez o jornal espalha terrorismo sobre o câmbio com uma manchete incorreta: "O dólar atinge o maior valor desde o Plano Real". Mais uma vez trata valor nominal como valor real. É a mesma coisa que afirmar que a assinatura do Estadão atingiu o maior valor desde o Plano Real.

Qual a intenção desse jogo? Quem está conduzindo a redação é uma jornalista de economia de larga experiência. O jornal conta com três belos (e honestos) colunistas de economia: Celso Ming, José Paulo Kpuffer e Fernando Dantas.

Mesmo supondo que quem redigiu a manchete não domine a economia, ainda assim há o precedente de poucos meses atrás, em que o próprio jornal admitiu como incorreta a comparação de valores nominais do câmbio.

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Na quadra atual das redes sociais, das profundas transformações da mídia, o único trunfo de que dispõem os jornalões é a seriedade e o discernimento. Quando a militância ideológica afeta até a objetividade da cobertura, para quê comprar? Melhor seguir o perfil de Revoltados On Line no Facebook.

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