sábado, 30 de janeiro de 2016

Doria, o 'sem vergonha', é abatido no ninho

Por Altamiro Borges

João Doria, o golpista do fracassado movimento "Cansei", está prestes a sofrer mais uma desilusão na política. Apoiado pelo governador Geraldo Alckmin, ele se lançou como pré-candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo. Animado, o bravateiro pensou que estava diante das câmeras da Band, onde apresenta um programa enfadonho de "negócios". De forma criminosa, ele chegou a rotular o ex-presidente Lula de "sem-vergonha" e "cara-de-pau". Sua excitação, porém, durou pouco tempo. Nos últimos dias surgiram várias denúncias contra o picareta neoliberal. Há quem garanta que é "fogo amigo", disparado por tucanos de alta plumagem incomodados com o arrogante novato no ninho. Há boatos, também, de que o tiroteio vai crescer, abatendo no nascedouro o sonho do "sem-vergonha".


Nesta semana, a Folha tucana - que nunca disfarçou suas ligações com o vampiro José Serra, rival de Geraldo Alckmin na eterna rinha do PSDB - publicou duas matérias bombásticas contra João Doria. A primeira revelou que o falastrão privatista, que adora satanizar o papel do Estado, pediu favores ao presidente da Apex Brasil, a agência do governo federal de fomento às exportações. Já a segunda confirma que o empresário neoliberal adora mamar nas tetas do Estado. Valer conferir as reportagens de Daniela Lima, publicadas no domingo (24) e na quarta-feira (27):

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Doria pediu favores a chefe de agência do governo Dilma

Fim de semana em uma luxuosa casa em Campos do Jordão (SP), com direito a spa e massagens na recepção, aperitivos diante da lareira e até jantar de aniversário de um cantor famoso.

Foi essa a programação que o empresário João Doria Júnior, pré-candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, ofereceu a autoridades públicas em 2015.

A pelo menos um dos seus convidados, Doria também fez pedidos de favores pessoais.

Os registros do convescote estão em e-mails enviados por funcionários de Doria aos integrantes da comitiva, em julho do ano passado.

Entre os destinatários das mensagens do tucano estava David Barioni, presidente da Apex Brasil, agência do governo federal responsável pelo fomento à exportação.

Meses antes, Barioni havia recebido outra mensagem.

A mulher do pré-candidato tucano à prefeitura, Bia Doria, enviou, em abril, um pedido para que a Apex patrocinasse uma exposição de suas obras no exterior.

Ela é artista plástica e, no e-mail, diz ter obtido incentivo da Lei Rouanet para captar até R$ 1,7 milhão.

Na mensagem, Bia diz que seguiria "em busca de empresas". "Mas está difícil alguma me falar sim", conclui na comunicação.

Ela ainda ressalta que o marido estava copiado na mensagem e poderia expressar, portanto, alguma contrariedade, se houvesse, ao pedido de patrocínio.

A sequência da conversa, obtida pela Folha, mostra que Doria se manifestou em seguida, dando aval à investida. "Nenhuma objeção. Pelo contrário", escreve o empresário.

"Barioni, aqui ao meu lado, vai avançar neste tema com você", arremata.

Procurada pela reportagem, as assessorias da Apex Brasil e do Grupo Doria confirmaram o pedido de patrocínio feito por Bia Doria, mas disseram que o valor solicitado pela artista acabou não sendo liberado.

A Apex afirmou ainda que o e-mail de seu presidente é público e, portanto, "acionado por várias entidades e empresas que encaminham propostas de projetos e patrocínios" e que uma análise de sua área técnica negou o pedido de Bia.

AMIZADE

João Doria e Barioni disseram, por meio de suas assessorias, que são amigos há mais de duas décadas e que a isso se devem os convites para estadia na casa de veraneio do empresário, em Campos do Jordão.

A proximidade dos dois fica evidente em algumas mensagens.

O presidente da Apex chega a se dirigir a Doria como "meu guru", ao responder um e-mail no qual o empresário pede para ele captar contatos de "potenciais investidores" no Brasil.

A ideia, disse Doria, era reunir um "mailing" para um evento que seria promovido pelo empresário no exterior, em maio daquele ano.

O pré-candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo - que disputa a indicação no partido com o vereador Andrea Matarazzo e o deputado federal Ricardo Tripoli - usa termos cordatos, como "amigo", ao se dirigir a Barioni e chega a dar conselhos sobre a estratégia de comunicação a ser adotada pela agência pública na divulgação de seus programas.

Em uma das mensagens, de junho de 2015, Doria opina sobre a escolha de uma rádio na qual a Apex veicularia propagandas.

Questionada pela reportagem, a Apex disse que sua estratégia de comunicação só é debatida pela "diretoria e o conselho deliberativo da agência".

Já o Grupo Doria disse que "nunca houve consulta" sobre a estratégia de comunicação a ser adotada pela Apex.


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Doria recebeu R$ 951 mil de agência do governo federal chefiada por amigo

Sob o comando de David Barioni, a Apex Brasil, agência do governo federal responsável pelo fomento à exportação, passou a dedicar mais recursos e atenção aos eventos promovidos pelo Grupo Doria, do empresário e pré-candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, João Doria Júnior.

Ao longo de dez anos, entre 2005 e 2014, a Apex patrocinou seis eventos do Grupo Doria. Só no ano passado, quando Barioni assumiu a chefia do órgão, cinco iniciativas do empresário receberam apoio financeiro da agência. O suporte da Apex rendeu, em 2015, R$ 950,5 mil ao Grupo Doria.

Não houve investimento semelhante da agência nos anos anteriores. Em 2005, por exemplo, a Apex patrocinou um evento de Doria, ao custo de R$ 90 mil. Em 2006, a agência ajudou um outro ato, com R$ 100 mil. Depois, o Grupo Doria só voltou a receber recursos da Apex em 2013: R$ 628 mil. Em 2014, a Apex pagou R$ 338 mil ao grupo.

Mesmo em valores corrigidos o volume de recursos empregados em 2015 é substancialmente maior do que o gasto nos anos anteriores.

Em comparação com 2013, por exemplo, quando houve o maior investimento da agência em eventos do Grupo Doria antes da chegada de Barioni, os R$ 950,5 mil pagos no ano passado representam um crescimento de 25%, descontada a inflação.

O Grupo Doria promove encontros entre empresários no Brasil e no exterior. Sob Barioni, a Apex patrocinou um desses eventos, em Nova York, do qual participaram o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ambos do PSDB.

A agência também aparece como apoiadora de fóruns, como o de Agronegócio, em setembro do ano passado. Alckmin também marcou presença e discursou contra a recriação da CPMF.

A Apex é vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Doria, por sua vez, é um crítico do governo Dilma Rousseff.

Em entrevistas recentes, disse que a petista não tinha condições de recompor o país, que a corrupção se propaga como "uma metástase" e que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva era um "sem vergonha, cara de pau".

O tucano diz ser amigo do atual presidente da Apex há mais de 20 anos. Como mostrou reportagem da Folha publicada no último domingo (24), ao longo do ano passado Doria fez pedidos de favores pessoais e ofereceu recepção luxuosa ao chefe da Apex em sua casa de veraneio em Campos do Jordão.

O evento ocorreu em julho. Além de Barioni, Doria ofereceu estadia em sua casa de veraneio para o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Armando Monteiro, chefe do órgão ao qual a Apex é vinculada.

OUTRO LADO

A assessoria da Apex informou que o aumento no volume de recursos destinados a eventos do Grupo Doria se deve a uma "estratégia, cujo objetivo é tornar a Apex-Brasil mais conhecida, e capacitar empresas a contribuir com a balança de exportação". "O grupo Lide [de Doria] congrega centenas de empresas de setores tradicionalmente apoiados pelas ações da Apex."

O ministro Armando Monteiro (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) confirmou que foi à casa de veraneio de João Doria Júnior "atendendo a convite de caráter pessoal". "O ministro nunca tratou de questões relacionadas à Apex", diz.

A equipe de Doria afirmou que "nos últimos 13 anos realizou eventos com a participação da Apex". "Ao longo deste período, o Ministério do Desenvolvimento Exterior, da Indústria, Comércio e Serviços [sic] foi comandado por quatro ministros. As relações sempre foram institucionais".

Sobre a visita de Monteiro à casa de veraneio, disse que Doria "preserva o direito de não prestar informações, por se tratar de sua vida pessoal".

Eventos do Grupo Doria patrocinados pela Apex

2005
Doria 10º Meeting Internacional
R$ 90 mil

2006
Doria 11º Meeting Internacional
R$ 100 mil

2013
Doria 18º Meeting Internacional
R$ 330 mil

Business Trip Emirados Árabes Unidos
R$ 298 mil

2014
Business Trip Marrocos
R$ 90 mil

Doria 19º Meeting Internacional
R$ 248 mil

2015
Programa De Fortalecimento Empresarial Das Relações Brasil - EUA
R$ 179 mil

Like The Future
R$ 72 mil

4º Fórum Nacional de Agronegócios
R$ 230 mil

20º Meeting Internacional
R$ 379,5 mil

Seminário Jovens Empreendedores e Seminário Mulheres Empreendedoras
R$ 90 mil 


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Não é a primeira vez que o "sem-vergonha" e "cara-de-pau" João Doria é denunciado por se apropriar de forma suspeita de recursos públicos. Em setembro do ano passado, ele foi acusado de ter recebido R$ 1,5 milhão em publicidade do amigo Geraldo Alckmin para as suas revistas - que circulam apenas em rodas da elite paulistana. Outras denúncias de relações promíscuas com os governos de plantões já circularam em notinhas pela mídia - que sempre abafou os escândalos envolvendo o nome do chefe golpista do grupo "Lide", que reúne centenas de empresários, muitos deles sonegadores e gatunos.

As denúncias só ganharam agora alguma visibilidade em decorrência das sangrentas bicadas no ninho tucano. Há cinco candidatos disputando a indicação da sigla para concorrer à prefeitura de São Paulo em outubro próximo - cada um deles ligado a um dos caciques do PSDB. São corriqueiras as tramas, baixarias, vazamentos e dossiês produzidos pelos ardilosos tucanos. Além disso, a própria mídia já percebeu que o picareta João Doria, conhecido pela ostentação e pela imaturidade política, não tem condições competitivas para a eleição na maior cidade do país. Teme que sua frágil candidatura ajude na reeleição do petista Fernando Haddad. Estes dois fatores explicam os petardos dos últimos dias.

Desmascarado e temendo nova decepção na política, o "sem-vergonha" e "cara-de-pau" parte para o desespero. Seus ataques levianos e histéricos contra Lula inclusive deverão causar maiores dores de cabeça. Na semana passada, os advogados do ex-presidente interpelaram judicialmente o postulante tucano. Na petição, eles solicitam que João Doria preste esclarecimento sobre as suas declarações e argumentam que o líder petista "tem sido vítima de atos criminosos que buscam associá-lo, de forma irresponsável e mendaz, à prática de condutas irregulares ou ilegais". Se o Judiciário funcionasse de fato no Brasil - não sendo um aparelho partidarizado -, o chefete do "Cansei" seria punido por suas bravatas criminosas - e também por suas relações incestuosas com os poderes públicos.

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1 comentários:

Unknown disse...

Fundamental sua atuação Miro
Parabéns