domingo, 13 de dezembro de 2015

Porque não se deve levar Serra a sério

Por Luis Nassif, no Jornal GGN:

Tempos atrás encontrei um alto quadro do governo Alckmin em um evento em Santos. Nele, teceu críticas a José Serra. No almoço, voltamos a conversar sobre Serra, ele sempre muito crítico. Na despedida, pediu: "Pelo amor de Deus, não coloque nada disso no Blog, senão Serra vai me retaliar através dos jornais".

O mesmo me disse um alter ego de Aécio Neves durante a campanha de 2014. Serra não desperta nem respeito nem paixão política, mas ódio e medo.

Para um governo que se pretenderia de conciliação, o que Serra tem a oferecer é a capacidade de montar dossiês e obter respaldo dos jornais para qualquer denúncia. Sua tentativa de liquidar com a imagem do Gabriel Chalita está aí para quem quiser conferir.

Hoje, na Folha (http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/12/1715763-farei-o-possivel-para-ajudar-um-eventual-governo-temer-diz-serra.shtml) , a maneira como Serra se oferece a Michel Temer lembra a impetuosidade de um adolescente que se diz apaixonado para levar o dote da noiva. Dirige-se ao coordenador do partido que mais praticou a barganha política, no apoio a Lula, a Dilma e a quem mais for, para prever, com Temer, uma nova era sem barganhas. E graças aos seus dois grandes articuladores políticos, Eliseu Padilha e Moreira Franco, que se consagraram no parlamento justamente pela capacidade de atender às barganhas.

Faz parte da hipocrisia comum ao jogo político, mas há limites para tudo.

No que interessa, o que Serra teria a oferecer?

No PSDB, sua influência é nula. É literalmente detestado tanto pela ala aecista quanto alckmista. No plano intelectual, quando o partido dispunha de quadros, era abominado tanto pelos mercadistas - que se espantaram com sua falta de conhecimento econômico nas discussões do real - quanto pela ala paulista da FGV-SP, quando caiu a ficha sobre ele.

Na distante hipótese de se tornar um Ministro da Fazenda de um eventual governo Temer, qual seria seu desempenho?

1- As primeiras medidas seriam atender os grandes lobbies de petróleo. Aliás, quando a crise se instalou no governo Dilma, houve uma furiosa corrida entre ele e Eduardo Cunha, para ver quem ofereceria na frente o projeto de lei revogando a Lei do Petróleo.

2- Em cada agravamento da crise econômica, se esconderia, como se escondeu na crise das enchentes que assolaram o estado, na crise da Polícia Civil, na própria crise do Real, no duro ano de 1995, e deixaria a bomba explodir no colo do presidente. E, em off, acusaria Temer de o estar boicotando, como fazia nos tempos em que era Ministro de FHC.

3- Nas crises, há a necessidade de um discurso otimista para amenizar a travessia. O discurso político permanente de Serra, desde que começou na vida pública, é defensivo, de criação de inimigos externos para justificar sua apatia. Em um governo que se pretenderia de conciliação, imagine-se esse discurso diuturno de confronto como álibi para a não-ação.

4- Seu conhecimento macroeconômico é insuficiente. Em 2008, em plena crise industrial, acelerou a implantação da substituição tributária em São Paulo, aumentando a carga fiscal. E ainda teve a caradura de criticar o Banco Central de Henrique Meirelles por ter aumentado os juros em plena antevéspera da crise.

5- Se Temer imagina que Serra tenha alguma ascendência sobre o empresariado paulista, desista. Delfim tem. Serra é detestado. Para serem recebidos por ele, empresários teriam que ameaça-lo com passeata na frente da Fazenda, como fizeram os industriais da Abimaq no auge da crise de 2008.

6- Não teria ideias a oferecer. Seus mandatos de prefeito e governador atestam a pobreza de ideias, projetos e ousadia. Na Prefeitura, o novo passou na frente do seu nariz e ele não percebeu: o movimento dos ciclistas, da humanização da cidade, que tinha – na época – em Soninha sua melhor tradução. No final, em vez de ficar com a cara moderna de Soninha, liquidou com seu futuro político deixando-a com a cara rancorosa dele, Serra.

7- Trabalho duro? Nem pensar. No governo de São Paulo, sua rotina consistia em sair dos aposentos às 11 da manhã, montar eventos fora do Palácio, chegar no gabinete às 3 da tarde, conversar com um ou dois secretários apenas – sempre os mesmos – e, depois, mergulhar nos jornais para a relação diária de telefonemas às chefias, queixando-se dos repórteres.

8- Quando o desgaste público se ampliasse, seria um prato cheio para escândalos. Se Dilma, Levy e Nelson Barbosa sofrem as pressões que sofrem, tendo vida limpa, o que sucederia com Serra, com seu enorme passado de episódios controvertidos?

Por que não se deve levar a alternativa Michel Temer a sério? Porque o próprio Serra demonstra como seria o embate pelo poder, caso a tese do impeachment fosse vitoriosa.

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