quinta-feira, 25 de junho de 2015

O "pai dos burros" e os órfãos da mídia

Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:

Não é raro, no jornalismo, os “focas” não perceberem que deixam para o final a informação que vale mais do que tudo o que vai sendo dito pelos seus narradores “oficiais”.

A repórter Cleide Carvalho, de O Globo, usou deste recurso para, com imensa sutileza, chamar de pouco versados no vernáculo os coleguinhas que embarcaram, por sua fissura condenatória, na ridícula história de “ordem para destruir o e-mail” que teria sido dada pelo empresário Marcelo Odebrecht a seus advogados e apreendida pela Polícia Federal.

“Segundo o dicionário Houaiss, consultado pelo GLOBO, destruir não significa apenas destroçar, causar perda ou desfazer algo, mas também “produzir efeito negativo sobre (algo)”, desarmar ou desfazer a tática de um adversário.

Como o e-mail está nos autos do processo, é obvio que o “destruir” não era físico, mas jurídico.

Se a Cleide tivesse citado o Aurélio, está lá: “reduzir a nada”…

Mas importou pouco ou coisa alguma.

Nem mesmo que fosse totalmente ilógico o camarada mandar “destruir” fisicamente um e-mail que está no processo, digitalizado e com “n” cópias.

Até a Folha que, a princípio, não “embarcou” no expediente pueril, agora se “redime” deslocando para a manchete a nota que diz que o bilhete “revela a tática da defesa” – para os produtores de escândalos seletivos.

Uma chusma de repórteres ingênuos, entremeada por alguns sujeitos que se entregaram de pena e alma à Polícia e ao MP em troca de colocarem suas canequinhas sob os vazamentos que produzem nem quer saber de nada produzem o absurdo como fato real.

E, nas redações, encontra editores capazes de fazer qualquer coisa tem o maior escândalo do dia…

Imagino os delegados se perguntando se “este tal Houaiss não era um esquerdista? Não era filiado ao PSB e pior, cotado como candidato a vice de Lula em 89?”

Então deve ter feito isso no dicionário para encobrir a empreiteira e livrar o Lula…

Como? Houaiss morreu em 1999?

Isso não vem ao caso…

Minha geração – que não tinha nem o Google – cansou de ir ao “pai dos burros”: Aurélio, Caldas Aulete…quando chegou o Houaiss foi um maná dos céus.

A nova, ao menos em parte, está órfã.

PS. A matéria da Cleide, com o advogado Ricardo Sayegg, sobre as barbaridades jurídicas da apreensão das notas aos advogados é ótima. Mas como ninguém liga mesmo para lei, nesta época infeliz da vida brasileira…

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