quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Mídia tucana esconde greve no Paraná



Por Altamiro Borges

O Paraná está vivendo dias de convulsão social. O governador Beto Richa (PSDB) tentou impor um “pacotaço de maldades” contra o funcionalismo público e detonou uma onda de revolta no Estado. Várias categorias paralisaram suas atividades. Os grevistas ocuparam a Assembleia Legislativa. Nesta quinta-feira (12), os deputados que tentaram aprovar o projeto, “às escondidas”, foram transportados em camburões da polícia. Apesar do clima de tensão, a sociedade brasileira simplesmente desconhece estes fatos. A mídia privada, sempre tão seletiva na sua cobertura jornalística, faz de tudo para invisibilizar a greve e para proteger o governante tucano. Os protestos não são manchete nos jornalões nacionais e nem destaque na TV Globo. Os blogueiros paranaenses, sempre tão perseguidos pelo censor Beto Richa, são os únicos que furam o bloqueio informativo.

O blog de Esmael Morais, por exemplo, transmite ao vivo as assembleias e protestos das categorias em greve. Ele também acompanhou a ocupação da Assembleia Legislativa e postou o vídeo sobre a fuga dos deputados. Conforme informou nesta quinta-feira, a combativa greve do funcionalismo pode até “afrouxar a tanga” do grão-tucano. “Depois de bombas, tiros com balas de borracha, cães contra professoras e o furo de bloqueio policial por uma massa ensandecida, o governador Beto Richa (PSDB) retirou o ‘pacotaço de maldades’ da pauta da Assembleia Legislativa do Paraná. Os deputados governistas chegaram de camburão da PM e entraram em um anexo do legislativo pelas portas dos fundos. Diante da tomada total do espaço pelos manifestantes, os parlamentares encerram a ‘sessão secreta’ e se retiraram do local também dentro do rabecão policial”.

O advogado Tarso Cabral é outro blogueiro que tem acompanhado atentamente a mobilização no Paraná. Ele postou vários textos demonstrando a ilegalidade do “pacotaço de maldades” e deu ampla divulgação à nota de repúdio assinada pelos senadores Gleisi Hoffmann (PT) e Roberto Requião (PMDB), e pelos deputados federais Ênio Verri (PT), João Arruda (PMDB), Zeca Dirceu (PT), Christiane Yared (PTN), Toninho Wandscheer (PT) e Aliel Machado (PCdoB), contra a utilização dos fundos da previdência pública para cobrir o rombo nas contas do Paraná. Reproduzo a nota abaixo – já que ela não teve qualquer repercussão na chamada mídia imparcial deste Brasil varonil:

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O propalado recuo do governador Beto Richa em relação a alguns pontos de seu pacotaço, como o fim de quinquênios e anuênios, corte de auxílio-transporte, e suspensão do PDE, se realidade, deve-se, inegavelmente, à mobilização dos professores e de outras parcelas do funcionalismo. Mas, ao tempo que cumprimentamos os professores por esta possível conquista, é vital, como o ar que respiramos, que a mobilização continue, porque está em curso um assalto muito mais devastador contra o funcionalismo público paranaense.

A utilização dos oito bilhões de reais dos fundos da Paranaprevidência para o pagamento de salários e outras despesas, como propõe o governador, é um golpe certeiro contra a aposentadoria dos professores e demais servidores públicos estaduais. Esses recursos, acumulados nas últimas três décadas, são um patrimônio inviolável do funcionalismo paranaense. Aliená-lo, permitindo que o governador use-o para o pagamento de dívidas e da folha, trará como consequência previsível, o aniquilamento da Paranaprevidência.

A incompetência e a irresponsabilidade do atual governo estadual escancaram-se à vista de todos. Por todos os cantos, faz-se água. Não há remendo que estanque a sangria. Só para fornecedores e pequenos empreiteiros são mais de dois bilhões de reais de calote. Daí a fúria arrecadadora. No entanto, o aumento do IPVA e do ICMS, o arrocho dos salários e os cortes de benefícios não serão suficientes para cobrir o rombo.

O dinheiro que poderia, por algum tempo, representar efetivo alívio financeiro para o governador, é o dinheiro da Paranaprevidência, aqueles oito bilhões de reais de propriedade do funcionalismo público estadual, que vão garantir o pagamento da aposentadoria dos servidores e o bem-estar de suas famílias. O governador não tem direito de se apossar desse dinheiro. Os deputados não podem cometer o crime de votar uma barbaridade como essa. A aprovação dessa excrescência será, sem nenhuma dúvida, a maior violência praticada contra o funcionalismo público paranaense.

Esse é o verdadeiro foco do pacotaço de Beto Richa. O resto é simples fumaça, para distrair os funcionários públicos do que interessa.

Professores, servidores públicos, paranaenses, vamos continuar a mobilização para impedir que o governador meta a mão grande nos fundos da previdência estadual. Ele já dilapidou o Paraná e agora quer também suprimir o direito à aposentadoria.

Brasília, 10 de fevereiro de 2015

Senadora Gleisi Hoffmann (PT)
Senador Roberto Requião (PMDB)
Deputado Federal Aliel Machado (PCdoB)
Deputada Federal Christiane Yared (PTN)
Deputado Federal Ênio Verri (PT)
Deputado Federal João Arruda (PMDB)
Deputado Federal Toninho Wandscheer (PT)
Deputado Federal Zeca Dirceu (PT)


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As postagens dos blogueiros e a nota dos parlamentares confirmam o caos vivido pelo rico Estado do Paraná. Elas também explicam a radicalidade da greve e dos protestos das várias categorias do funcionalismo público. Apesar disto, a mídia privada – nos dois sentidos da palavra – não dá qualquer repercussão à grave situação. Ela faz de tudo para proteger os tucanos – seja censurando menções ao ex-presidente FHC na midiática operação Lava-Jato da Polícia Federal, ou escondendo a gravíssima crise da falta de água em São Paulo para garantir a reeleição de Geraldo Alckmin, ou tentando invisibilizar a poderosa greve contra o tucanato no Paraná. A seletividade e parcialidade da mídia nativa é algo repugnante, como demonstra o texto abaixo postado por Gustavo Magnani, no blog “Litera Tortura”:

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30 mil funcionários em greve, nenhuma palavra no Jornal Nacional!

A escolha de pauta nos grandes jornais brasileiros é muito interessante, veja bem:

No Paraná, 100% das escolas estaduais estão em greve. Três, das quatro universidades estaduais, também. Policiais e bombeiros, não, porque sua greve é inconstitucional.

Há poucos dias, os ônibus de Curitiba pararam. Pelo governo estadual.

Nesta semana, Beto Richa (PSDB) propôs um “pacote de maldades” para ser aprovado em critério de urgência pelos seus deputados mandados. Entre os desejos, além de aumentar impostos, Richa quer pegar 8 bilhões da Previdência Paraná. Pegar (pra não dizer roubar) porque esse dinheiro tem dono. Esse dinheiro é do contribuinte. [Entenda todo o pacotaço aqui]

Entre tantos feitos, Beto deu calote em professores, bombeiros, policiais e outras classes, não pagando férias, atrasando décimo terceiro, demitindo professores PSS que haviam sido aprovados, além de faxineiros, merendeiros, porteiros etc.

Para o leitor entender, se uma escola abrir hoje, ela abre sem merenda.

Por outro lado, sorte da escola que abre, porque várias foram fechadas.

Qual governo, em pleno 2015, fecha escolas?

Qual jornal, em pleno 2015, com a internet aí, omite o caos que está acontecendo?

Talvez as informações sejam irrelevantes…

Talvez, como sempre acontece quando o bico do pássaro é grande, estejam acobertando. Como o e-mail que vazou, da diretora da globo mandando tirar o nome de FHC dos vt’s sobre a Lava-Jato. Curioso que dois dias depois do e-mail vazar, fizeram uma matéria colocando o nome do FHC, em todos os jornais. Imparcialidade, sempre.

Ontem, além do que já foi escrito e dos outros absurdos que você pode descobrir, caso se interesse pela política paranaense, mais de 20 mil professores e funcionários públicos, de diferentes cidades, ocuparam a Assembléia Legislativa do Estado do Paraná, dando um corre nos deputados de situação, que fugiram pela porta dos fundos.

[Minha mãe, professora há mais de 25 anos, com outros professores de Guaíra, viajou mais de 660 km, para estar no protesto, tamanha a gravidade do assunto.]

Os professores permanecem na ALEP.

Hoje, Beto Richa conseguiu que decretassem a expulsão deles do local.

A PM, em vídeo divulgado lá na nossa página, se recusou a cumprir tal ordem e foi embora.

Em comentário, a docente e leitora do site, Thais Vanessa Schmitz, escreveu: “A PM do PR também está sofrendo com um calote do governador e desvalorização. Para eles é inconstitucional fazer greve, mas estão nos apoiando, um deles mesmo disse: eu sei que vocês estão lutando por nós também.”

Entretanto, nada está garantido. Como se fosse piada, os parlamentares irão votar o projeto amanhã, a portas fechadas, no restaurante da Câmara.

Será que a população não vai invadir? Será que não teremos confrontos?

Tudo isso, absolutamente tudo isso [e muito mais], não parece importar aos grandes jornais, sendo transmitido apenas pela televisão local.

A pergunta que não quer e não pode calar é: e se fosse um governo petista?

Eu respondo:

Se fosse um governo petista, este site atuaria da mesma maneira. Infelizmente, porém, não podemos dizer isso da grande mídia, que não abre o bico sobre tais assuntos, porque o mesmo bico que abre é o bico que é atingido.

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