sábado, 14 de fevereiro de 2015

"Guardem este nome": Eduardo Cunha

Por Cynara Menezes, no blog Socialista Morena:

Pouco conhecido da opinião pública, ainda atuando nos bastidores da Câmara, a figura do deputado federal Eduardo Cunha me chamou a atenção. Era tido como “gênio” por colegas que cobriam o Congresso e começava a galgar postos significativos na Casa. Escrevi algumas notas sobre ele em CartaCapital e, em fevereiro de 2013, quando ganhou a liderança do PMDB, eu o entrevistei para um pequeno perfil também publicado na revista.

De lá para cá, o deputado, que era calvo, ganhou cabelo e poder: se transformou no presidente da Câmara dos Deputados. Sua briga com a Globo (e a imprensa em geral) também arrefeceu desde que prometeu derrubar qualquer tentativa de regulação da mídia. Fundamentalista religioso, vai fazer o impossível para impedir pautas progressistas e mergulhar o País no obscurantismo. Não se subestima o inimigo. Regra básica na guerra e na política que, pelo visto, o PT não soube respeitar.

Vale a pena ler de novo.

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O poderoso Cunha e suas “brigas”

Henrique Eduardo Alves na presidência da Câmara foi dentro do esperado, Renan Calheiros no comando do Senado era tido como barbada, mas o que a presidenta Dilma Rousseff menos queria se concretizou. O deputado federal Eduardo Cunha, por quem Dilma não morre de amores há longa data, ganhou a liderança do PMDB. Guardem este nome: é um personagem forte nos bastidores de Brasília que agora, sob os holofotes, promete crescer –mesmo que não crie problemas para o governo, como se espera.

Aos 54 anos, calvo, grisalho e com uma coluna curvada que lhe confere alguns anos a mais sobre as costas, o carioca Eduardo Cunha está há tempo demais na política para continuar relativamente desconhecido. Em 1982, era um jovem admirador da candidata Sandra Cavalcanti e pensou em se lançar vereador pelo PTB, mas desistiu. Em 1990, aos 30 anos, assumiria a presidência da Telerj no governo Fernando Collor de Mello. Sete anos mais tarde, cometeu “a asneira”, como diz, de se juntar a Anthony Garotinho, em cujo governo se tornaria presidente da Companhia de Habitação e, em 2002, eleito deputado federal, seu porta-voz em Brasília.

Foi em virtude da aliança com Garotinho, com quem atualmente está “rompido”, conta, que viria sua inimizade com as organizações Globo, a quem acusa de perseguição por mantê-lo na mira de diversas denúncias nos últimos anos. Diz que processa vários jornalistas do jornal O Globo, entre eles um repórter veterano de Brasília com quem protagonizou, em 2011, um bate-boca público, via twitter, ao chamá-lo de “homossexual”. “Devo ter falado mesmo”, admite Cunha. “Por quê? Ele não se assume? Isso é segredo?”

Os veículos da Globo não lhe dão trégua também, afirma, por causa de um processo trabalhista que sua mulher, a jornalista Cláudia Cruz, moveu contra a emissora carioca. “Minha esposa era apresentadora da Globo e eles demitiram”, afirma Cunha. “Como ela era pessoa jurídica, a Globo não pagava direitos trabalhistas. Meti um processo e ganhei 5 milhões de reais.” O novo líder do PMDB não esconde de ninguém que gosta de briga. “Você dá beijo em quem te dá beijo. Sabe como é briga de rua, né? Você começa a brigar e não pára.”

Esse gosto pela briga, que atribui ao sangue italiano (seu sobrenome do meio é Cosentino), é que leva o deputado a enfiar em todas as medidas provisórias do governo uma emenda em favor do fim da prova obrigatória da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Virou folclore na Casa. Por que o senhor faz isso, é advogado? “Não, sou economista. Mas foi bom você ter me lembrado”, diz, e liga para a secretária. “Olha, faça a emenda da OAB em todas as MPs”, ordena, ao telefone. E novamente para mim: “Não existe isso em nenhuma outra profissão, é um absurdo. Me sensibilizei com essa causa e sou apaixonado pelas brigas que compro.”

Com Dilma Rousseff, seus problemas começaram em 2007, quando ela era ministra da Casa Civil do governo Lula. Dilma queria pressa na votação da prorrogação da CPMF; Cunha, relator do projeto, sentou em cima durante seis meses. Resultado: o governo perdeu e Dilma, claro, não gostou. Em 2011, já presidente, encarou de frente Eduardo Cunha ao trocar todo o comando de Furnas, ligado ao deputado, por nomes técnicos. No final do ano passado, Dilma enfrentaria a oposição do parlamentar justamente à sua “medida” dos olhos, a MP que tornou possível a redução da conta de luz.

Cunha não só nega ter atuado contra a aprovação da MP como que seja o representante do setor elétrico no Congresso Nacional. “Não tenho nenhuma relação com o setor elétrico, nada”, jura, de pés juntos, o deputado, repetindo um cacoete que retorna todas as vezes em que pronuncia alguma frase difícil de acreditar: fala de olhos fechados, fugindo do olhar do interlocutor. “A vida é isso, não é, querida? Sempre tem três versões, a das partes e a verdadeira”. Fecha os olhos. “Não corresponde à verdade que eu tinha cargos em Furnas.”

Mas como é que, como líder do PMDB, vai se relacionar com a presidenta, sendo que todo mundo fala que ela não gosta do senhor? É de olhos fechados que Cunha responde: “Sempre que a encontrei, ela me tratou com a maior gentileza.” Ganha a eleição para a liderança no domingo à noite, o governador Sérgio Cabral garantiu à presidenta novos tempos na relação de seu aliado Eduardo Cunha com ela. Mas, antes do desfecho, Dilma fez o possível para que o deputado não ganhasse –melhor dizendo, seu vice, Michel Temer, e Henrique Eduardo Alves, fizeram o possível.

Henrique, vizinho de prédio de Cunha em Brasília, com quem costumava tomar o café da manhã quase diariamente, chegou a trabalhar pela eleição do deputado Sandro Mabel para a liderança do partido. Quando, porém, viu que o peemedebista carioca ameaçava arrecadar votos para sua rival, Rose de Freitas, à presidência da Câmara, ele e o vice jogaram a toalha. Mabel contou apenas com os votos de parlamentares ligados aos senadores José Sarney e Renan Calheiros. Entre eles, o grupo conhecido como “menudos”, integrado por filhos de políticos e liderado pelo deputado Renan Filho, que agora ameaça criar um “PMDB do B” na Casa, sob o comando de Mabel e ignorando Cunha.

Difícil. Se Eduardo Cunha entrou na rota de colisão com a Globo, o mesmo não se pode dizer dos jornalistas que cobrem o Congresso –inclusive os da Globo. Nove entre dez repórteres o descrevem como “ótima fonte”, o que significa que não é moleza se tornar seu inimigo. Foi só arrumar confusão com Cunha que, coincidentemente, Renan Filho se tornou alvo da imprensa.Na quarta-feira 6, o jornal O Estado de S.Paulo revelou que “Renanzinho” teria usado recursos da verba indenizatória (dinheiro público) para pagar advogados que atuam para si próprio e o pai em causas privadas. O deputado afirmou não haver irregularidades. Quem teria sido a fonte?

Outra razão para os parlamentares não desejarem criar atrito com Eduardo Cunha são os contatos do novo líder com doadores de campanha no meio empresarial. “Ele ajudou financeiramente a campanha de metade do Congresso”, afirma um parlamentar. Evangélico, o líder do PMDB é ligado à rádio Melodia FM, na qual apresenta um programa, mas diz que a emissora não lhe pertence. “Não é minha, é de um amigo, Francisco Silva (ex-deputado federal), mas como ele está doente, praticamente… Eu coordeno a parte política da rádio”, diz.

Seu eleitorado é evangélico, de classe baixa. “Sou humilde, muito humilde. Tenho eleitorado pobre, não peço voto na zona Sul, não quero voto de rico”, esnoba. “Humilde”, mas ambiciosíssimo, Eduardo Cunha admite que quer voar alto. “Meu objetivo é crescer. Se eu não crescer, qual o estímulo que tenho para continuar?” E cargo executivo? “Nem pensar, esquece. É inviável ser administrador público neste país. Você fica quatro anos e passa 30 respondendo ação do Ministério Público, é só aporrinhação.”

De frente para o deputado, na sala de reuniões do amplo gabinete da liderança do PMDB na Câmara, há um painel com fotos de ex-líderes, como Tancredo Neves, Michel Temer, Luiz Henrique e Geddel Vieira Lima, um grande aliado de Cunha na disputa. Pergunto ao deputado com qual deles desejaria se parecer ao se tornar líder do partido na Casa. “Quero ter a temperança de Michel com o arrojo de Geddel.” É um poeta.

* Texto publicado originalmente na edição 753 de CartaCapital.

1 comentários:

Lucio de souza disse...

pelo jeito o homem e fera mesmo,mas tambem leal eu acho que ele quer o espaço dele e nao vai prejudicar o Brasil nao,agora nao adianta chorar ,agora que o PT e ruim em negociar nao tenha duvida tinha tudo pra colocar um da base nao conseguiram agora tem que engolir