sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Racismo e estupro na USP serão punidos?

Por Altamiro Borges

A mídia privada deu grande destaque aos protestos de estudantes de medicina contra o programa “Mais Médicos”. Alguns deles foram histéricos e esbanjaram preconceito de classe e um anticomunismo tacanho. O estardalhaço da imprensa, em plena campanha eleitoral, visava desgastar a presidenta Dilma Rousseff. Não tinha qualquer preocupação com a saúde da população mais sofrida. Na semana passada, porém, o Ministério Público (MP) anunciou a abertura de inquérito para apurar as denúncias de racismo e estupros envolvendo alunos da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto (SP). A mídia “privada” – nos dois sentidos da palavra – simplesmente evitou dar destaque para a grave notícia!

O pedido de investigação partiu de movimentos sociais revoltados com as denúncias de discriminação racial e de abusos sexuais na faculdade. “O promotor Sebastião Sérgio da Silveira contou que a apuração, que já ocorre internamente na USP, a partir de agora também será realizada pelo MP. Ele chamará para depor estudantes e outros envolvidos e interessados, inclusive, do Diretório Acadêmico da Faculdade de Medicina. O resultado da investigação pode resultar na assinatura de um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) ou até mesmo em ação civil pública por danos morais coletivos”, registrou numa notinha o Estadão – que tanto alarde faz contra os profissionais cubanos do programa “Mais Médicos”.

As primeiras denúncias de racismo ocorreram em novembro e partiram de alguns alunos indignados. Nas redes sociais, eles descreveram a prática criminosa. O hino dos futuros médicos, conhecido como “Batesão”, tratava as mulheres como “pretas imundas” e era cantado nos jogos universitários e nas festas da faculdade. Na sequência, surgiu a informação de dois casos de violência sexual na área do campus. Protestos foram organizados em frente ao Ministério Público e à reitoria da Faculdade de Medicina, o que forçou a criação de uma comissão interna para apurar o escândalo. Uma militante do Coletivo Negro, formado para denunciar o racismo, chegou a ser ameaçada de morte e sofreu injúrias raciais.

Este tipo de "convivência acadêmica" talvez explique a rejeição raivosa de alguns profissionais deste setor ao programa “Mais Médicos”. Durante a campanha eleitoral deste ano, eles explicitaram sua visão de mundo, que nada tem de humanista. Eles agrediram os médicos cubanos e engrossaram a campanha de ódio a Dilma Rousseff. Diante da crise glicêmica sofrida pela presidenta num debate no SBT, em outubro, o médico gaúcho Milton Pires chegou a postar em sua página no Facebook: “Tá se sentindo mal? A pressão baixou? Chama um médico cubano, sua grande filha da puta!”. Pouco antes, em setembro, ele havia sido afastado do hospital em que trabalha sob a acusação de agredir uma colega de profissão.

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