terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Ary Fontoura renunciará à Globo?

Por Altamiro Borges

A mídia monopolista e manipuladora costuma gerar um bocado de reacionários. Talvez isto decorra da convivência promíscua com os patrões ou da ostentação no mundo das celebridades. É lógico que muitos artistas conseguem manter a sua integridade e a sua consciência crítica, e não se submetem às vontades da elite empregadora. Mas uma parte expressiva aceita fazer o jogo. Não dá para esquecer a postura patética de Regina Duarte, Hebe Camargo, Ana Maria Braga e Ivete Sangalo, que "lideraram" o movimento Cansei, organizado pela direita nativa com o intento de desgastar o ex-presidente Lula. Na semana passada, outro astro global engrossou o time dos reacionários. O ator Ary Fontoura postou uma mensagem na internet com forte teor elitista, insinuando a "renúncia" de Dilma Rousseff.

Como já observou o amigo Marco Piva, o texto abusa do senso comum contra a política e políticos – o que, em última instância, nega a democracia e abre caminho para o fascismo. O artista da TV Globo dá vários "conselhos" à presidenta: "Renuncie à falta de vergonha e aos salários elevados de muitos parlamentares; renuncie ao apadrinhamento político, aos parasitas, ao nepotismo; renuncie aos juros altos, aos impostos elevados, à volta da CPMF; renuncie ao assistencialismo social eleitoreiro". No final, o seu pedido mais deprimente: "Renuncie aos companheiros políticos do passado, a velha forma de governar e, se necessário, renuncie ao PT”.

A mensagem de Ary Fontoura acabou estimulando, novamente, uma onda de ódio nas redes sociais. Conforme registrou o site Brasil-247, fascistas de vários cantos correram para elogiar o ator global e para propor medidas ainda mais duras: "A internauta Stella Medina defendeu que a presidente Dilma Rousseff assassinasse o ex-presidente Lula e depois se matasse. Ela também a chamou de 'assassina e terrorista'. Em seguida, Luciana Cetrin falou em 'cadeia no mínimo'. Clesi Schmitt disse que compraria as balas e Paulo Correa afirmou que puxaria o gatilho".

Já que o ator global está tão indignado, ao ponto de propor que Dilma "renuncie aos companheiros do passado e renuncie ao PT", aqui também vão alguns "conselhos". Ary Fontoura poderia renunciar, de imediato, à Rede Globo por ela criado o clima para o golpe militar de 1964 e ter apoiado a ditadura – com suas torturas e assassinatos. Indignado, o veterano serviçal do império poderia ainda denunciar, em brados teatrais, as manipulações patrocinadas pela emissora – a tentativa de fraude na eleição de Leonel Brizola no Rio de Janeiro, a sabotagem à campanha cívica pelas Diretas-Já, a manipulação do debate entre Collor e Lula ou a recente entrevista-fuzilamento de Dilma Rousseff no Jornal Nacional.

Como rejeita o "assistencialismo social" – seria o Bolsa Família? –, Ary Fontoura devia propor que a Rede Globo parasse de mamar nas tetas do Estado com bilhões em publicidade oficial e com outras benesses dos poderes públicos. Esta medida drástica, evidentemente, poderia até afetar os seus altos rendimentos. Mas tudo pela "ética" e pelo bem da nação brasileira. Já que está revoltado com os salários elevados, ele poderia propor uma investigação sobre a fortuna dos três filhos de Roberto Marinho – os homens mais ricos dos Brasil, segundo a revista Forbes. Será que parte dela tem origem criminosa nos porões da ditadura, na sonegação de impostos, na remessa ilegal de dinheiro para o exterior e em outras falcatruas? Por último, sobre os "parasitas"... Melhor não sugerir nada para Ary Fontoura!
   
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