sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Dilma é a candidata do progressismo

Por Nicolas Chernavsky

Quando Marina Silva diz que a polarização PT x PSDB deve acabar, existe um discurso implícito que, se trazido à luz, pode ajudar a esclarecer inúmeros aspectos da atual eleição presidencial no Brasil. Qual é este discurso implícito?

Existe uma identificação na sociedade brasileira relativamente forte do PT com "esquerda" e do PSDB com "direita". Assim, o discurso de Marina também se refere indiretamente a acabar com a polarização do eixo esquerda-direita. E qual seria o objetivo deste discurso? Justamente colocar Marina como a superação desta polarização, e colocá-la como a representante do polo "dos melhores", em um novo eixo que não é o eixo esquerda-direita. Que eixo é esse que Marina se colocaria como estando no polo "dos melhores?

Este é um eixo que vem emergindo na política mundial cada vez com mais clareza, e que vem se juntar ao eixo esquerda-direita na análise política, sem substituí-lo. Esse eixo é o de progressismo-conservadorismo. Assim, a junção de dois discursos de Marina - o discurso do fim da polarização PT x PSDB, e o discurso "dos melhores" - indica que ela quer que a sociedade brasileira a considere a representante do polo progressista no eixo progressismo-conservadorismo. Entretanto, ao trazer este assunto à luz, temos mais condições de separar duas afirmações: 1) que Marina está se referindo ao polo progressismo-conservadorismo (verdadeiro) e 2) que ela representaria o polo progressista (falso).

Como a eleição presidencial brasileira caminha para um segundo turno entre Dilma e Marina, se Marina não representa o polo mais progressista, representa o polo mais conservador. Assim, Dilma representa o polo mais progressista nesta eleição presidencial, já que, de todas as candidaturas que disputam o primeiro turno, a sua é a única com chances reais de, no segundo turno, representar o progressismo.

Dito isso, é preciso argumentar por que Dilma representaria o progressismo e Marina o conservadorismo, e não o contrário. Em primeiro lugar, a aliança partidária de Dilma inclui os partidos mais progressistas do Brasil, o PT e o PCdoB, e tudo indica que uma base de Marina no parlamento excluiria a maior parte do PT, e talvez do PCdoB. Em segundo lugar, é patente que os meios de comunicação atualmente conservadores do Brasil, como por exemplo a Rede Globo, a Rede Bandeirantes, o jornal Folha de S. Paulo e o jornal O Estado de S. Paulo, preferem a candidatura Marina à candidatura Dilma, e que os meios de comunicação mais progressistas, como por exemplo a revista Carta Capital e o blog O Cafezinho, preferem a candidatura Dilma à candidatura Marina. 

Em terceiro lugar, é possível perceber que outros setores que tendem ao conservadorismo, como os militares, os bancos privados e as agências de notícias mais influentes do mundo, localizadas especialmente nos Estados Unidos e na União Europeia, também se alinham crescentemente à candidatura de Marina contra a candidatura de Dilma, enquanto que os movimentos populares e sindicatos tradicionalmente progressistas preferem Dilma a Marina.

Assim, para poder desfazer os equívocos do discurso que coloca a candidatura Marina como progressista, é preciso incluir na análise política o eixo progressismo-conservadorismo. Inclusive, no segundo turno, é possível que os setores históricos (e menos numerosos) mais progressistas do PSDB percebam do que se trata esta eleição e fiquem do lado do progressismo. A tentativa de Marina de acabar com a polarização PT x PSDB pode até funcionar, mas contrariamente ao que ela espera, pode acabar resultando na união do progressismo do Brasil para vencer nas urnas o conservadorismo da candidatura Marina, com a vitória da candidatura Dilma.

1 comentários:

Jbmartins-Contra o Golpe disse...

UM dialogo com o pessoal da REDE e dos movimentos de Junho/2013; Sobre a nova política e pessoas com Marina; Algumas iniciativas para aumentar a punição aos ativistas que foram às ruas surgiram. Entre elas, o debate sobre a tipificação do terrorismo, que tem em Walter Feldman um grande entusiasta. Ou seja, a ideologia que Feldman defende em seu projeto de lei é oposta à daqueles que querem maior liberdade de expressão e participação na política, base social reivindicada por Marina. Entre essa ideologia do seu coordenador e a desses movimentos, com quem ficará Marina?
Outro exemplo nesta seara de direitos humanos e repressão é a proposta do PSDB de reduzir a maioridade penal. Num eventual aliança para um governo Marina,
como ela decidiria sobre essa questão?
Roberto Freire, outro prócer Marinista, votou contra o marco civil da internet. A base dos sonháticos da sua Rede faz da internet um instrumento de participação e
ativismo político. Entre mais liberdade de rede e a visão de um dos pilares de seu projeto, Roberto Freire, com quem ficaria Marina?