terça-feira, 26 de agosto de 2014

JN vira personagem eleitoral

Por André Barrocal, na revista CartaCapital:

A eleição ganhou um personagem inesperado. Produto jornalístico de maior alcance no Brasil, o Jornal Nacional, da Rede Globo, virou alvo de vigilância, críticas e discussões, especialmente na internet. O ponto alto do protagonismo ocorreu depois da rodada de entrevistas com os principais presidenciáveis, sobretudo após a realizada com a petista Dilma Rousseff, na terça-feira 19.

Segundo um levantamento do jornalista Ricardo Amaral, biógrafo de Dilma, os apresentadores William Bonner e Patrícia Poeta ocuparam 35% dos 16 minutos da entrevista, o que atrapalhou a exposição dos pontos de vista presidenciais. No comitê eleitoral petista, reclama-se que Dilma não teve chance de falar tudo o que queria e que ela recebeu um tratamento arrogante por parte de Bonner. O comportamento do apresentador teria mostrado que a Globo censura a presidenta.

A impressão dos dilmistas de que o jornalista é arrogante com entrevistados coincide com a constatação de pesquisas internas encomendada pela Rede Globo e mantidas sob sigilo.

A primeira das entrevistas com presidenciáveis, com Aécio Neves, do PSDB, em 11 de agosto, também causou surpresa entre assessores e simpatizantes do tucano na internet. Não se esperava que Aécio fosse confrontado, e de forma dura, com um tema incômodo, como é o caso da obra construção de um aeroporto pelo tucano, quando governador de Minas Gerais, em um terreno perto de uma fazenda da família.

Bonner reagiu aos ataques generalizadas com uma mensagem no Twitter na quarta-feira 20. “Robôs partidários de todos os matizes insatisfeitos! Corruptos insatisfeitos! Blogueiros sujos insatisfeitos! Muito bom! Obrigado mesmo!”

O Jornal Nacional já era um personagem da campanha desde o fim de julho, quando pesquisadores da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) lançaram o "manchetômetro", um levantamento a respeito do espaço e do teor das reportagens sobre os presidenciáveis. De janeiro a 20 de agosto, diz o manchetômetro, o telejornal dedicou 1h22 a matérias desfavoráveis a Dilma e 3min e 32seg a favoráveis. No caso de Aécio, foram 7min e 42 seg a favor e 5min e 35seg contra.

O conteúdo do Jornal Nacional, programa mais lembrado pelos brasileiros quando se pergunta o que mais vêem na TV, com 35% de citações conforme uma pesquisa Ibope, levou Dilma e o ex-presidente Lula a lançarem uma página na internet para divulgar o que consideram feitos de seus 12 anos de governo. No ato de estreia do site Brasil da Mudança, mantido pelo Instituto que leva seu nome, Lula disse que estava claro que o telejornal era de “oposição”.

Em São Paulo, maior colégio eleitoral do País, o PT também anda às turras com a Globo. Na segunda-feira 18, o partido entrou no Tribunal Regional Eleitoral contra a emissora, acusando-a de censurar o postulante petista ao governo estadual, Alexandre Padilha. A emissora tinha resolvido que só faria reportagens diárias no SPTV com candidatos acima de 6% nas pesquisas. Padilha tinha 5% quando a decisão foi tomada, no início de agosto.

Em sua ação contra a Rede Globo, o PT diz que rádio e TV são as mídias que mais atingem os brasileiros e que, por serem concessões públicas, “não podem, até por isso, ser usados para beneficiar esse ou aquele candidato, essa ou aquela candidatura”. Pressionado, o SPTV entrevistou Padilha nesta quinta-feira 21, dentro de sua rodada de entrevistas com os candidatos ao governo paulista.

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