sábado, 16 de agosto de 2014

A morte de Campos e a memória de Arraes

Por Mauro Santayana, em seu blog:

A morte de Eduardo Campos é uma dura perda para a democracia, e ocorre na mesma data de agosto em que seu avô, Miguel Arraes, faleceu, há nove anos.

A notícia estarreceu o país. Eduardo era uma das mais marcantes lideranças da nova geração de brasileiros, e entrou para a vida pública logo após a formação universitária, como secretário particular do governador Arraes, cargo em que se destacou, e teve suas lições de política. Essa circunstância o aproximou de Aécio Neves, que também foi secretário do avô, Tancredo, e com ele aprendeu as regras básicas da vida pública.

A sua morte complica o quadro sucessório. Quando se passarem os três dias de luto, começará, como é natural, a busca de seus votos. A singularidade das duas biografias tende a favorecer Aécio, mas não assegura, por si só, os sufrágios. Eduardo, como é do jogo político, contava com o segundo turno – como parece certo - a fim de bem negociar seu futuro. Sua ambição era a presidência, e quem ambiciona esse cargo não conta com obstáculos, mas tampouco dispensa os acordos, quando necessário. Na política, mais do que tudo na vida, a esperança é a última que morre.

Mais do que do futuro vale lembrar os méritos de Eduardo e a importância da família na vida brasileira. Quando Eduardo ainda não havia nascido, seu avô foi arrancado com violência de seu gabinete no Palácio das Princesas, e metido na prisão em Fernando Noronha, onde passou onze meses. Seu advogado, Sobral Pinto, impetrou pedido de habeas corpus junto ao Supremo Tribunal Federal, que o concedeu por unanimidade. Sobral aconselhou-o a aproveitar a liberdade e partir imediatamente para o exílio. Seu destino era a França, que lhe negou asilo. Partiu então para a Argélia, onde conseguiu trabalho e viveu até a anistia. Eu o conheci quando era prefeito de Recife e o entrevistei para o Binômio, semanário de Belo Horizonte.

O melhor depoimento sobre Arraes governador é uma série de reportagens publicadas neste Jornal do Brasil por Antonio Callado. A brutalidade dos senhores de engenho e a miséria dos trabalhadores rurais era tal, que Callado a resumiu em uma frase: ali, a honra, como o banheiro só existia na casa grande. As filhas dos trabalhadores da cana, como seus pais, a ela não tinham direito. Arraes incentivou Francisco Julião e suas ligas camponesas, para descobrir, mais tarde, que elas só existiam no verbo inflamado de seu pretenso líder.

Mas conseguiu, durante seu governo, aumentar o salário dos trabalhadores dos canaviais e dos engenhos, e promover a formação dos sindicatos rurais como braço político das ligas camponesas.

É essa tradição de vida pública, que ele soube seguir, que se interrompe com a morte de Eduardo Campos.

2 comentários:

sergio m pinto disse...

No Brasil ocorre um fenômeno interessante. Morreu, virou santo.
Deixando a pessoal de lado, vamos falar do aspecto político.
Antes de sua morte, Campos era tido como um traíra, que desertou do grupo de apoio ao PT, lançando canditadura própira, chegando a se encostar no grupo do PSDB e da diretira, coisa que seu avô certamente nunca faria.
Arrastou a Marina, que todo mundo sabe que está apenas de passagem pelo PSB. Esse é o quadro, que vai se modificar, provavelmente com a assunção da fadinha das florestas como candidata do partido.
Resta saber como vai se comportar os realmente socialistas do partido.

Israel Just da Rocha Pita disse...

Condolências a parte. O rapazinho apazar da liderança que tinha em Pernambuco e até merecida nunca chagará aos do avo Miguel Arrais, pelo que seu o Arrais nunca traiu o seus parceiros ao contrario foi tra ído por muitos inclusive pelo Jarbas Vasconcelos que foi respaldado na politica por Arrais.
O Eduardo não teve hombridade sem respeito pelo seus grandes apoiadores no governo em Pernambuco, não só isto fazer criticas agressivas aos dois: Lula E Dilma. ai está a grande diferença estre neto e avo. É uma pena que o ideário de Arras foi sepultado hotem