sexta-feira, 18 de julho de 2014

Taxa de juros constrange Dilma

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Por Altamiro Borges

Pela segunda vez consecutiva, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, nesta quarta-feira (16), manter a taxa básica de juros, a Selic, em 11%. A resolução foi tomada por unanimidade e não surpreendeu os banqueiros e rentistas, que ganham fortunas com os juros brasileiros na estratosfera. Devido à queda da inflação nas últimas semanas, à retração do crescimento da economia e, também, à proximidade das eleições, o “deus-mercado” já dava como certa a manutenção da Selic. A decisão, porém, causa enormes constrangimentos para a presidenta Dilma Rousseff, que iniciou o seu mandato em 2011 prometendo conter a especulação financeira e enfrentar a ditadura dos banqueiros.

O comunicado logo após a reunião foi idêntico ao do encontro anterior. “Avaliando a evolução do cenário macroeconômico e as perspectivas da inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, neste momento, manter a taxa Selic em 11,00% a.a., sem viés”. A expressão “neste momento” visa acalmar os rentistas, sinalizando que novos aumentos poderão ser aprovados nas próximas reuniões. A especulação do “deus-mercado” é que a taxa seja mantida na reunião de setembro e suba após as eleições. “Acho natural a manutenção enquanto se aguarda a definição do resultado da eleição. Esta espera é natural”, aposta Mauro Schneider, economista-chefe da CGD Securities, uma das centenas de agências dos especuladores.

“No boletim Focus, pesquisa semanal na qual o BC reúne projeções de 100 analistas, as expectativas são de que a Selic permaneça no nível atual até o fim do ano. Apenas em janeiro ocorreria um novo ajuste, uma alta de 0,25 ponto porcentual, correção que daria início a um novo ciclo de alta de juros que pode levar a Selic para 12% ao ano até o fim de 2015”, prevê a Folha rentista. A grande questão é se a economia brasileira vai aguentar esta alta contínua dos juros, que encarece a produção, reduz o crédito, afeta o consumo e, consequentemente, diminui o ritmo de geração de emprego no país. Dados recentes evidenciam que a política monetária ortodoxa está paralisando o Brasil.

Em maio passado, a produção da indústria recuou 0,6%, após retração de 0,5% no mês anterior. O próprio Banco Central prevê crescimento de apenas 1,6% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, após uma alta também medíocre de 2,5% em 2013. Como efeito, o emprego na indústria registrou em maio a 32ª queda mensal consecutiva. Não houve aumento do desemprego, como a mídia rentista alardeia, mas sim diminuição do ritmo de geração de vagas. Mesmo assim, o cenário é preocupante. Segundo o IBGE, a queda de 2,6% em maio, na comparação com o mesmo mês do ano passado, atingiu todas as regiões e todos os setores industriais, no maior tombo desde novembro de 2009.  

Mesmo setores beneficiados pelo governo com desoneração da folha de pagamento, redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) ou linhas especiais de crédito do BNDES promoveram cortes ou reduziram o ritmo de contratação. É o caso do setor de transportes, com forte peso na economia, que registrou perda de 4,6% neste ano. Também a indústria de máquinas e equipamentos, decisiva para alavancar o crescimento do país, sofreu retração de 4,9% na geração de empregos. “Outro ramo que fechou vagas neste ano foi o de eletroeletrônicos e equipamentos de comunicação, apesar da ‘ajuda’ da Copa do Mundo nas vendas de televisores”, relata o jornal Valor.

Além de prejudicar a produção e a geração de emprego e renda, a alta da Selic complica as próprias contas do governo. Até maio, o aumento dos juros elevou o custo da divida pública em R$ 30 bilhões neste ano. Este valor extra equivale a quase um terço da meta de economia do governo para reduzir o déficit público, imposto pelo nefasto superávit primário – a reserva de caixa dos banqueiros. Em 2014, o tesouro nacional gastará R$ 207 bilhões apenas para pagar a rolagem de títulos da dívida pública. O estoque total desta dívida no ano passado fechou em R$ 2,12 trilhões e deve alcançar R$ 2,25 bilhões em 2014. Estudos indicam que a cada percentual de alta da Selic, a rolagem da dívida encarece em R$ 15 bilhões.

A presidenta Dilma Rousseff conhece bem os estragos causados pela elevação da taxa de juros. No início do seu governo, ela mostrou convicção no combate à especulação financeira. A Selic caiu de 9% em abril de 2012 para 7,25% em abril de 2013 – a mais baixa da história recente do país. Ela também estimulou o crédito e fortaleceu os bancos públicos. Em pronunciamento em cadeia nacional de rádio e tevê, na comemoração do 1º de Maio de 2012, Dilma afirmou: “A economia brasileira só será plenamente competitiva quando nossas taxas de juros se igualarem às praticadas no mercado internacional... É inadmissível que o Brasil continue com um dos juros mais altos do mundo. O Brasil de hoje não justifica isso”.

No braço de ferro contra a ditadura do capital financeiro, porém, ela acabou cedendo. A chantagem dos rentistas e a gritaria midiática sobre o fantasma da inflação influíram nas decisões do Copom. Os juros voltaram a subir e as consequências já se fazem sentir na queda da produção, na retração do consumo e na diminuição do ritmo de geração de emprego. Estes efeitos nefastos deverão cobrar seu preço nas eleições de outubro!

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