quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Copa, eleições e a conversa das ruas

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Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:

O ano começa exatamente como 2013 acabou: políticos e partidos disputando alianças e palanques, tempo de televisão e manchetes de jornais, mas o eleitorado não está nem aí para as eleições. Não é preciso ser nenhum Carlos Augusto Montenegro, o guru do Ibope, para prever que os eleitores só vão começar a se interessar pelo assunto após a Copa do Mundo, que acaba em julho. Basta prestar atenção nas conversas em que todo mundo já faz planos para o Carnaval ou discute onde vai passar o próximo fim de semana deste verão calorento.

"Antes disso, ninguém vai falar em política", disse Montenegro em longa entrevista concedida ao jornal Brasil Econômico, em que destaca que o nível de satisfação do brasileiro hoje é de 80%. Por isso, diz ele, "o brasileiro quer saber é se a prestação vai caber no seu orçamento".

Nos seus cálculos, até agora, um em cada três eleitores ainda não tem candidato. "A verdade é que o brasileiro não gosta muito de política. Se o voto no país não fosse obrigatório, teríamos eleições similares às que tivemos no Chile agora, com algo em torno de apenas 40% votando".

Quem gosta de política, como sabemos, é político e jornalista, um realimentando o outro para ocupar o noticiário nesta época de férias. Confesso que, no meu caso, também gostaria de falar de outras coisas mais agradáveis, como o convívio com os netos e o pão matutino tostado na chapa na padaria, mas desconfio que os leitores não iriam se interessar muito.

Falar do quê? O óbvio seria tratar da carnificina nos presídios do Maranhão em chamas, mas o que mais posso escrever além de tudo que já foi dito e mostrado sobre uma das maiores tragédias humanas dos últimos tempos? Sinto-me mal só de ver as imagens, não consigo escrever nada sobre isso.

Apesar de tudo, prefiro falar de eleição porque este é sempre um tempo de renovação de esperanças, de propostas de mudanças, de busca de novos caminhos, até para evitar que velhas tragédias se repitam e novas aconteçam, como estamos vendo agora no Maranhão. Se o eleitor, porém, prefere esperar o Carnaval e a Copa passar, para só depois pensar nas escolhas que definirão nosso futuro, fica difícil ser otimista a esta altura do campeonato.

A campanha eleitoral deste ano será curta, constata Montenegro, o que é uma pena. Este deveria ser um momento importante para aumentar o grau de consciência política da população e assim fortalecer a democracia, com a participação de todos nós nos debates. Não poderia ser uma tarefa restrita a candidatos e seus marqueteiros de ouro, como infelizmente vem acontecendo nas últimas eleições, mesmo sem Copa do Mundo no Brasil.

Quem não gosta de política acaba sendo governado pelos que gostam _ e é aí exatamente que muitas vezes reside o perigo de tudo continuar como está para ver como é que fica. O nosso Brasil, convenhamos, não pode correr o risco de virar um imenso Maranhão.

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