domingo, 10 de novembro de 2013

A coragem de dizer não a Globo

Por Marco Aurélio Mello, no blog DoLaDoDeLá:

Nove em cada dez estudantes de jornalismo sonham em sair da faculdade e ir trabalhar na Globo. Mesmo aqueles que não admitem isso publicamente pensam assim. Mas depois de ver o resultado do trabalho desses garotos: Deborah Reis, Guilherme Henrique, Janaína Luisa e Nalim Garzesi, começo a pensar que, pelo menos na classe deles, esta hipótese estatística está furada.
Eles se debruçaram sobre a história de um colega que decidiu jogar tudo para o alto e recomeçar (alguém acha que isso é fácil?). O resultado é uma reportagem completa, que virá impressa como se fosse uma edição especial da revista Brasileiros, muito bem diagramada, cheia de boas imagens, bem a exemplo da publicação, que circula nas bancas mais completas da cidade.

Fiquem com o texto:

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Luiz Carlos Azenha nasceu em 23 de novembro de 1958 e cresceu na cidade de Bauru, no interior paulista. Estudioso, sempre gostou de ler jornais ao lado do pai, um comerciante comunista conhecido como 'seo Azenha'. O hoje conhecido jornalista cresceu em plena época de ditadura militar no Brasil e lembra-se bem de quando ajudava o pai a esconder livros sobre comunismo no quintal de casa. Durante a infância, viu muitas vezes seu maior herói sendo perseguido e preso por policiais. "Meu pai era militante do Partido Comunista Brasileiro. Ele tinha uma vida clandestina em Bauru. De vez em quando, desaparecia, geralmente quando era preso. Minha infância teve muita tensão no ar, porque ele sumia sem dar explicações. Havia uma sensação de perigo e isso nos deixava extremamente ansiosos. Eu carrego isso até hoje", conta Azenha.

Apesar da ausência do pai em alguns momentos, Azenha foi um garoto feliz e brincava muito na rua, junto com o irmão. Sempre jogou futebol na frente de casa e também praticava tênis em uma quadra perto de onde morava. Porém, por causa da influência de seu pai nas leituras e do período da ditadura, escolheu muito cedo a profissão que seguiria por toda a vida. Sua primeira experiência com o jornalismo foi no jornal Abelhinha, que circulava no Instituto de Educação Ernesto Monte, colégio em que cursou o ensino médio. O nome do jornal era uma referência ao apelido do jornalista, que quando criança era chamado de "Abelhinha". Sérgio Tibiriçá Amaral, um colega de infância, conta como foi a produção do jornal escolar. "Eu conheci o Azenha no colégio, nós estudávamos juntos. O Azenha teve um jornalzinho, que se chamava Abelhinha, e uma das entrevistas que ele fez nessa época foi com o Osíris Silva - que também estudou no Ernesto Monte e era então presidente da EMBRAER. Na realidade, ele criou a EMBRAER. Foi uma das primeiras entrevistas do Abelhinha", conta Sérgio.

Ainda com 14 anos, Azenha começou a trabalhar em um tradicional veículo impresso de Bauru, o Jornal da Cidade. Nesse início de carreira, Azenha fazia de tudo um pouco, até transmissões internacionais de fotos por sinal de rádio, e teve como parceiro um colega de infância, Luiz Malavolta, que relembra como era a atmosfera do trabalho jornalístico naquela época. "A profissão acabara de ser regulamentada, faltava mão de obra e o jornal havia instalado um aparelho novo, o offset. A gente foi trabalhar nesse jornal, éramos uma espécie de estagiários, não tínhamos nem vínculo trabalhista. A gente era muito menino".

A infância de Azenha, embora marcada pela ditadura, também foi muito feliz. Sérgio conta um episódio da época: "Nós seguimos caminhos diferentes, ele foi para o Jornal da Cidade e eu para o Diário de Bauru, mas ele fez cada coisa... Uma vez, ele pregou uma peça no Malavolta, o Luiz Malavolta. Ele, eu e mais um ligamos pra casa de um cara lá. A tarde inteira ligamos e falamos: 'Alô, é da casa do Batatinha?'. Depois, o Azenha deixou um bilhete para o Malavolta: 'Senhor Malavolta, tem uma reportagem urgente, liga para o Batatinha'. O Malavolta não tinha telefone na casa dele, naquele tempo não havia muitos telefones. Então, ele foi ao jornal, ligou às 11 horas da noite para o cara e falou: 'Alô, é da casa do Batatinha?'. E aí falaram: 'Batatinha é a p*** que o pariu'."

Algum tempo depois, com 17 anos, o jornalista ganhou uma bolsa de estudos nos Estados Unidos e, com esforço de sua família para pagar a passagem, foi para Nova York, onde permaneceu estudando por um ano. A primeira experiência no exterior foi muito importante para a carreira do jornalista, que futuramente seria chamado para voltar aos Estados Unidos, já que esse período possibilitou-lhe adquirir um inglês fluente - o que não era comum na época - e uma profunda vivência no cotidiano naquele país. Ao voltar para o Brasil, fez seis meses de cursinho e saiu do jornal de Bauru. Juntou todas as economias que tinha acumulado ao longo dos anos e foi para São Paulo, iniciar seu curso de Jornalismo na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), em 1978. Porém, a faculdade foi um período muito difícil para Azenha, que precisava trabalhar para se sustentar. Sendo assim, um ano e meio após ingressar na ECA, voltou para sua cidade natal. "Eu fazia um semestre e, depois, fazia dois. Eu fiz um crédito na faculdade e levei muitos anos para terminar, quase sete anos", explica o jornalista.

Em 1980, com 22 anos, Azenha iniciou sua carreira televisiva na TV Bauru, afiliada da Rede Globo. Ele conta como foi essa transição: "A televisão caiu meio que do céu. Bauru foi uma das primeiras cidades do Brasil a ter sua própria emissora de TV. E, aí, quando surgiu a Globo, era aquela coisa do interior, poxa, a Globo vai contratar e tal, e fomos todos". Inicialmente, o jornalista não foi contratado como repórter, mas sim para trabalhar na redação, como editor. Foi quando o chefe de reportagem o chamou para fazer uma matéria de rua. Ele gostou da experiência e, desde então, não parou mais.

Em 1984, a afiliada da Globo em Bauru ganhava destaque por seu desempenho na programação e pelo crescimento de audiência. Então, houve uma grande expansão para o resto do interior paulista, principalmente São José do Rio Preto. Azenha foi convidado por seu chefe para assumir o cargo de diretor daquela nova sede e ganhar um salário de executivo. Mas, nesse período, ele ainda não tinha concluído o que considerava prioridade em sua vida - o curso de Jornalismo em São Paulo ainda se arrastava. Assim, Azenha deixou a Rede Globo pela primeira vez para voltar a São Paulo. A justificativa que deu para o chefe foi curiosa. "Sabe o que acontece, se eu ficar aqui em Rio Preto, provavelmente vou casar com uma fazendeira. Nada contra as fazendeiras, mas vou ficar aqui para o resto da vida, e não é isso que eu quero. Eu quero viajar, quero sair daqui".

Azenha fez as malas e voltou a São Paulo para finalmente terminar a faculdade em 1985. Foi quando por coincidência, coisa do destino, passou em frente ao Hospital das Clínicas, tradicional hospital paulistano, e encontrou o jornalista Heraldo Pereira, que conhecera quando trabalhava na Globo de Bauru. Heraldo fazia um link ao vivo para informar sobre o estado de saúde do presidente eleito em janeiro daquele ano, Tancredo Neves, que estava internado em estado grave. Conversa vai, conversa vem, Azenha ficou sabendo de uma vaga de repórter na TV Manchete, em São Paulo. Como estava desempregado, decidiu tentar e conseguiu entrar na emissora. Logo após sua chegada, fez uma cobertura que, para ele, foi marcante, sobre as eleições municipais de São Paulo, quando Jânio Quadros ganhou de Fernando Henrique Cardoso. "Transmiti uma coisa que foi vexatória de certa forma, porque no dia da eleição do Fernando Henrique... na verdade, a imprensa toda torcia pelo Fernando Henrique. O DataFolha fez uma pesquisa dando a vitória a ele e eu estava na redação da Folha transmitindo para a TV Manchete. Aí, vinha o resultado da eleição dizendo que o Jânio estava ganhando. Mas a pesquisa do DataFolha dava vitória do Fernando Henrique. Então, ficou aquele impasse, aquele mico no ar", explica Azenha.

Naquele mesmo ano, ainda na TV Manchete em São Paulo, Azenha foi surpreendido por seu chefe com um convite para substituir o então correspondente internacional, Antônio Augusto, da emissora em Nova York, que iria se casar e mudar para a Califórnia. Nessa época, seu inglês era fluente graças à passagem pelos EUA quando adolescente. Acostumado com a cultura americana, Azenha aceita o convite e vai para Nova York no dia 7 de dezembro. Inicia assim a sua jornada como correspondente internacional. O jornalista foi muito bem-sucedido nos Estados Unidos. Lá, cobriu diversas pautas políticas e econômicas, que entraram no jornal mais importante da casa, exibido para todo o Brasil, garantindo ainda mais audiência para a emissora.

Em 2001, Azenha recebe um convite para voltar à Rede Globo, emissora em que já havia trabalhado na década de 1980, e segue em Nova York como correspondente internacional. Assim, foi um dos responsáveis pelas coberturas no exterior que entravam no Jornal Nacional. Entre 2001 e 2005, Azenha realizou as mais diferentes matérias. Em 2002, por exemplo, na cidade de Nova Délhi, na Índia, o jornalista preparava uma série de reportagens intitulada "O mundo da bola" para o JN, com enfoque voltado para a Copa do Mundo daquele ano, realizada na Coreia do Sul/Japão. "Era uma matéria sobre a exploração de crianças que costuram bolas", explica Azenha.

Na região de Jalandhar, norte da cidade, Azenha seguiu os passos de um produtor local, sem imaginar o que aconteceria a seguir. Na busca por imagens que comprovassem a exploração, Azenha e Sherman Costa, cinegrafista, conhecem, enfim, uma criança que era vítima de tal prática. A situação, no entanto, ganharia um contorno diferente do esperado pelos jornalistas. "Quando estávamos na casa de uma das crianças que costuravam, o pai dela chegou e se revoltou", conta Azenha. Não demorou para que a revolta tomasse conta dos habitantes locais, que não entenderam a proposta dos chamados "ocidentais". Depois de tentar negociar, Azenha levou socos e pontapés nas ruas indianas. "Eu, o Sherman e um produtor indiano da BBC fomos literalmente espancados. Roubaram minha câmera. Foram dez minutos de terror total. Para nossa sorte, um senhor da religião sikh, que deveria ser autoridade no local, pegou a chave do carro e nos deixou ir embora", conta.

Em 2004, Azenha vai ao Haiti para acompanhar a seleção brasileira de futebol em um amistoso promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU). O evento serviria para ajudar o país, devastado por anos de guerra civil. A reportagem, voltada para o futebol, ganhou novamente contornos sociológicos e humanitários logo nas primeiras impressões, segundo Azenha. "Nem na África fiquei tão impressionado com o cenário visto. Corpos aparecem jogados na rua toda manhã. As favelas brasileiras parecem bairros de classe média quando comparadas aos bairros de Porto Príncipe". Esse lado emotivo que Azenha às vezes esconde é exposto por seus colegas. "A princípio ele passa a impressão de ser uma pessoa fechada e dura, mas não é. Ele é extremamente generoso no olhar para os entrevistados, principalmente. Eu vejo como ele trata as pessoas, é sempre muito correto, muito aberto. Isso é uma característica muito marcante dele, que o faz ser um bom profissional e um amigo também", declara Márcia Cunha, colega de trabalho.

Em meio a uma missão de paz, todas as sensações se tornam ainda mais afloradas. O cenário no Haiti traduz uma situação que não deve ser entendida apenas pela ótica da razão, mas pelo sentimento de um povo que vive uma catástrofe por dia, sobretudo em um país que sempre foi assolado por disputas entre militares e guerrilheiros civis. Em um panorama deteriorado pela guerra, o esporte pode ser uma salvaguarda, segundo Azenha. "Aquele jogo entre as seleções ficou na memória como símbolo dos bons tempos. No período em que fiquei no Haiti, sorri com as crianças, fiquei triste com a miséria daquele lugar e com a falta de perspectiva das pessoas que vivem ali", o jornalista relembra.

Um ano antes de voltar ao Brasil, em 2005, para a cobertura que culminaria em sua saída das Organizações Globo, Azenha, ainda como correspondente internacional da emissora, vai ao Iraque acompanhar as missões de paz promovidas pela ONU no país, invadido pelas tropas militares norte-americanas após o atentado de 11 de setembro ao World Trade Center, em Nova York. Estava mais uma vez ao lado do cinegrafista Sherman Costa. Azenha descreve a ocasião. "Visitei o país semanas antes da ocupação americana. Os inspetores da ONU ainda estavam lá, procurando armas de destruição em massa. Armas que nunca foram encontradas". Em uma das últimas matérias internacionais antes de voltar ao seu país natal, mais uma vez se depara com um cenário pouco convidativo. "Durante a viagem, contei ao motorista muçulmano que a guerra chegaria em uma semana. Dias depois, a Operação Choque e Espanto, promovida pelo governo norte-americano, se confirmou", conta Azenha.

Em 2006, Azenha deixa os EUA e retorna ao Brasil como repórter especial da Rede Globo. A principal tarefa: cobrir as eleições presidenciais daquele ano, que tinham como candidatos principais Luiz Inácio Lula da Silva, que buscava a reeleição, e Geraldo Alckmin, do PSDB, representante da oposição. A partir desse momento, a passagem de Luiz Carlos Azenha pela emissora estaria com os dias contados. "Nessa cobertura eu vi como funcionava a cobertura política da Rede Globo. Fiquei chocado com o que vi", conta o jornalista. Coberturas tendenciosas e matérias que omitiam informações importantes eram constantes naquele momento. "A Veja fazia uma denúncia no sábado. Imediatamente, a Globo fazia uma reportagem sobre essa denúncia, sem investigar, checar ou apurar qualquer tipo de informação. Uma das matérias afirmava que o irmão do Lula tinha feito negócio com o Governo", acrescenta Azenha. No meio desse cenário conflituoso, abalado com tudo o que estava presenciando, o jornalista sofre uma grande perda em sua vida: a morte do pai. Azenha passa por momentos difíceis e se vê na obrigação de relembrar um passado feliz e ao mesmo tempo doloroso. Nesse momento de dor, conta com a amizade e o apoio de um amigo, Rodrigo Vianna, com quem divide até hoje o ambiente de trabalho. "Eu estava na redação quando ele recebeu a notícia de que o pai tinha morrido. Ele, uma pessoa provocativa e turrona, estava muito mexido, porque ia ter de lidar com as coisas do pai. Aí, eu vi que ele tinha um lado emotivo. Ele chegou pra mim e disse: não está fácil, agora que eu estou vendo o quanto meu pai foi importante pra mim", relembra Rodrigo.

A vida segue e o jornalista, agora sem o apoio do pai, encontra-se ainda mais indignado com tudo o que acontecia nas matérias sobre a disputa presidencial. Marco Aurélio Mello, outro amigo, editor de economia do Jornal Nacional naquele ano, destaca que algumas viagens a Brasília aumentaram o nível de desconfiança vivido por certas pessoas na redação de São Paulo. "Destacaram-me para ser editor do Azenha em 2005. Quando o PT caiu no escândalo do mensalão, a Globo transformou aquele acontecimento em algo desproporcional, levando em consideração outros escândalos que aconteciam simultaneamente", conta Marco Aurélio. De acordo com Vianna, que também se insurgiu contra as imposições da emissora, os chefes da Globo passaram um abaixo-assinado para todos os jornalistas. O documento dizia que os funcionários que o assinassem estavam de acordo e concordavam com tudo o que estavam sendo feito durante a cobertura eleitoral de 2006. "Eu me recusei a assinar. O Azenha me ligou e disse que também não tinha assinado. Era um absurdo", comenta Rodrigo.

Os dois jornalistas reclamavam da preferência da emissora pelo candidato Geraldo Alckmin. Azenha se deixa então levar pela consciência política, forjada ainda em Bauru sob influência de seu pai, comunista na época da ditadura, e começa a perceber aquilo que considerava uma união de forças para atingir o então presidente Lula. "Ninguém me contou. Eu presenciei. Eles sempre divulgavam matérias contra o Governo do Lula, contra o PT, mas se havia alguma notícia sobre um escândalo do PSDB, eles não falavam no Governo do Fernando Henrique nem citavam o partido, só falavam que era no Governo anterior. Justamente para não falar do PSBD no ar. Era claro que eles tinham um lado", explica Azenha.

Na época, indignados com a situação, o então editor de economia e outros profissionais responsáveis pelo setor no Jornal Nacional reportaram o erro aos diretores de jornalismo. "Houve uma reunião com Carlos Schroeder para reclamar da parcialidade na cobertura", explica Mello. Para tentar amenizar a revolta dos funcionários, o chefe da Globo decidiu então que Azenha faria uma reportagem repercutindo a capa da revista Isto É, que denunciava ter havido superfaturamento na aquisição de ambulâncias da rede pública estadual de saúde em São Paulo. O escândalo foi descoberto no Governo Lula, mas teve início no Governo Fernando Henrique. O superfaturamento ocorreu efetivamente durante o mandato de José Serra como governador de São Paulo. "Antes, eu já tinha feito uma denúncia sobre o PT e, nessa matéria, tive todos os recursos de que precisei. Agora, na denúncia das ambulâncias, eu não tive recurso nenhum. Achei muito estranho, mas conseguimos reunir informações suficientes. Porém, a matéria nunca foi ao ar. Aí, a ficha caiu de vez", conta Azenha.

Para o jornalista, não há problema em um veículo defender um partido politico, desde que isso seja assumido e não se tente enganar a população. "Se a Globo disser que defende o PSDB, ótimo. Deixa-se claro para o público. Mas como TV é uma concessão pública, eles não fazem isso", explica. Grande parte dos veículos, sejam eles impressos, televisivos ou até mesmo virtuais, não assume uma postura política clara, pois, de forma geral, são empresas capitalistas. Há um interesse político e principalmente econômico, já que o Estado é um grande provedor de verbas publicitárias. O jornalista e sociólogo Laurindo Leal Filho explica por que a emissora não deixa explícita sua postura política. "Grande parte dos recursos da Globo vem do Governo Federal", diz Laurindo.

Em 2007, insatisfeito com tudo o que presenciou na maior emissora brasileira e cansado de tanta manipulação, Azenha liga para seu chefe, Carlos Schroeder, pede a rescisão de seu contrato e deixa a Rede Globo pela segunda vez. "Ele fez uma maluquice. Abriu mão do contrato dele, foi para Washington, ficou sem ganhar dinheiro e sem trabalhar", lembra Mello. Na época, Azenha fez um acordo com a emissora. Como encerrou seu trabalho antes do previsto em contrato, teve de ficar quase dois anos fora da televisão, e não poderia ingressar em nenhuma outra emissora para não pagar a multa rescisória.

Conforme acordado, o jornalista ficou distante de sua profissão. Porém, nesse meio tempo, Azenha não ficou parado. Foi para Washington, nos Estados Unidos, para estudar sobre internet e descansar um pouco, depois de tantos anos de trabalho. Além disso, manteve por alguns meses uma coluna no portal Terra. Já no final de 2008, logo após sua volta para o Brasil, foi convidado para trabalhar na principal concorrente da Globo, a Rede Record. Após o fim do período acordado de afastamento, volta à televisão e estreia no Jornal da Record com matérias especiais. "Em outubro, cheguei à TV Record. Aceitei o projeto por causa da liberdade dada pela emissora. Ela não opina sobre meu blog, isso é muito importante. Eles não mexem no meu texto, prática muito comum na Rede Globo. Aqui, é como se o profissional tivesse oxigênio, fator fundamental para todo jornalista. Eles me contrataram sabendo da minha história e isso faz toda a diferença", explica Azenha.

Feliz com sua chegada, Azenha logo reencontraria antigos amigos de trabalho, como Rodrigo Vianna, Marco Aurélio Mello e Luiz Malavolta, e ganha liberdade para a criação de diferentes pautas, o que o fez sentir-se ainda mais à vontade. "Você não poder colocar sua voz no seu trabalho é uma frustração muito grande. Para mim, foi muito bom reencontrar minha voz", acrescenta Azenha. De que a Globo e a Record são concorrentes ferrenhas, ninguém duvida. As duas emissoras já vinham trocando reportagens com acusações mútuas havia algum tempo. A rede carioca tinha acusado o bispo Edir Macedo, dono da Record, de desviar dinheiro dos fiéis da sua Igreja para a emissora. Mas com Azenha e Rodrigo Vianna na equipe, as matérias contra a emissora da família Marinho se intensificaram.

Em julho de 2012, a Record fez uma denúncia contra o então presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ricardo Teixeira. Na matéria, era sugerido que o cartola da CBF tinha sido subornado, junto com João Havelange, seu ex-sogro, pela Rede Globo, para garantir à emissora os direitos de transmissão da Copa do Mundo. A denúncia mostrava que o valor recebido chegava a quarenta e cinco milhões de reais. Um documento provava que, logo após a negociação, Teixeira tinha comprado uma fazenda milionária no Rio de Janeiro e aumentado seu patrimônio. Logo após a matéria, exibida no Jornal da Record, Teixeira renuncia ao cargo. "Essa é uma matéria de que eu me orgulho muito. É satisfatório quando você consegue fazer uma coisa inédita", Azenha afirma.

Também marcou muito a carreira do jornalista na Record uma série de reportagens especiais sobre o período da ditadura militar e suas vítimas, exibida em junho de 2013. "A Globo cresceu em função da ditadura. Ela foi escolhida pelos militantes para ser uma parceira. Ela contou com vários benefícios do Governo. Quando os manifestantes dizem na rua que a Globo é um filhote da ditadura, é verdade. Ela só dava informações que interessavam ao governo e seus sócios", argumenta Azenha. Porém, essa declaração do jornalista gera muita polêmica, pois, mesmo sabendo de toda a história da emissora carioca, ele trabalhou nela durante muitos anos. Para André Lux, blogueiro também afinado com o jornalismo alternativo na web, as declarações de Azenha contra a Globo são fruto "de puro rancor". Laurindo Leal Filho acredita que a Record dá esse espaço para Azenha porque está em busca de audiência. "A matéria sobre a ditadura foi uma questão mercadológica. Eles querem bater de frente com a Globo, querem ganhar audiência. A Record usa a estratégia de copiar a forma da Globo, por ter aceitação imediata do público, mas em conteúdo abre um espaço maior", explica Laurindo.

O filho do comerciante de Bauru produziu essa série especial com uma emoção a mais, pois ele próprio também foi uma das vítimas da ditadura. Assim, pôde relembrar um pouco de sua infância difícil. Na produção da série, Azenha trabalhou com uma amiga que conheceu na redação, mas com quem tem uma amizade fora dela também, a editora Márcia Cunha. "Quando o Azenha chegou aqui, a primeira matéria dele fui eu quem editou. Era uma série sobre profissões perigosas, e a gente se deu superbem. Muitas vezes, é difícil trabalhar com ele, mas não no sentido de ser inviável ou de ser desagradável. Ele é muito inquieto, não se conforma com a notícia, com o que é dado de cara. Ele sempre desconfia do que pode estar por trás da notícia. A gente fica muito tempo na redação discutindo um tema, é um mergulho no assunto. É uma parceria legal".

O tema da série sobre a ditadura surgiu a partir de um seminário realizado na Comissão da Verdade Nacional, que acontecia em São Paulo. Azenha teve acesso aos depoimentos dos filhos de pessoas que foram torturadas no período militar. Para Márcia, foi um trabalho bem marcante, pois havia histórias muito fortes de sofrimento. "O Azenha sugeriu essa pauta na redação e me chamou para fazer parte do projeto. Fazer essa revisão histórica, poder colocar na televisão uma matéria tão grande sobre um tema muito árido... Poucas emissoras abertas dariam espaço para isso. A gente pôde falar abertamente sobre tudo e tivemos liberdade total. O resultado deixou a gente bem feliz", acrescenta Márcia. Azenha concorda que há liberdade na Record, mas admite que a emissora também tem seus limites. "A gente não faz tudo o que quer no lugar que trabalha. Aqui na Record também há restrições."

Em julho de 2013, Azenha trabalhou em mais uma denúncia contra a Rede Globo. A notícia surgiu na internet, quando Miguel do Rosário, blogueiro conhecido no chamado meio alternativo, publicou em seu site documentos que mostravam uma dívida da emissora carioca com a Receita Federal. A Globo foi multada pela Receita por sonegar cento e oitenta e três milhões de reais de impostos durante a compra dos direitos de transmissão da Copa do Mundo de 2002. De acordo com os documentos apresentados, a Globo criou uma conta nas Ilhas Virgens Britânicas, livre de impostos fiscais, para burlar a lei. Em 2006, juntando a multa e os juros, a dívida já somava mais de seiscentos milhões de reais. Além disso, a emissora também era investigada por uma possível ligação com uma funcionária da Receita Federal, chamada Cristina Maris Meinick Ribeiro, que teria sumido com o processo de investigação. A mulher foi condenada pela Justiça Federal do Rio de Janeiro e ficou presa apenas alguns dias, pois conseguiu um habeas corpus.

Até o momento, a emissora não mostrou o DARF, documento que comprova o pagamento à Receita. Logo após a publicação da denúncia, a repercussão foi imediata. Um grupo de blogueiros, incluindo Azenha, divulgou a notícia pela blogosfera. Acuada, a Rede Globo emitiu uma nota em seu site, G1, defendendo-se da acusação: "Ao contrário do que vem sendo divulgado por alguns sites, as Organizações Globo não têm qualquer dívida em aberto com a Receita Federal ou outros entes arrecadadores de tributos. Quanto à publicação de documentos confidenciais, protegidos por sigilo legal, acreditamos que o assunto será apurado pelos órgãos competentes". O jornalista, sempre disposto a trazer as notícias da internet para a TV, sugeriu essa notícia como pauta para a Rede Record, que, no mesmo mês, divulgou duas matérias que mostravam à população a dívida da Globo.

Mesmo com os momentos de conflito na emissora carioca, não é possível apagar toda a história que Azenha construiu lá dentro. O jornalista coloca na balança tudo o que viveu e conclui: "Minha passagem pela Globo teve dois lados. Eu também fiz coisas fascinantes lá. Foi um aprendizado muito grande. Mas a fase final foi uma constatação surpreendente, eu não esperava. Mas a repercussão foi uma coisa boa, se isso não tivesse acontecido, eu não teria me libertado". Cleyton Torres, jornalista e integrante do Observatório da Imprensa, acredita no potencial do repórter e na sua importância para a televisão brasileira. "Azenha tem histórico, tem uma bagagem de conhecimento respeitável e, por isso, conseguiu conquistar seu espaço", explica Cleyton. O jornalista, professor da ECA e especialista em ética, Eugênio Bucci, conclui: "Sempre fui fã e sempre gostei muito do trabalho do Azenha. Ele é um profissional de bagagem, que conhece os padrões, conhece os critérios e sabe o que faz."

Azenha sempre foi apaixonado pela internet. Em 2003, trabalhando em Nova York como correspondente internacional da Globo, resolveu criar o seu próprio blog. No início, a intenção era modesta: apenas abrir um espaço para discutir política, além de contar suas experiências e os bastidores do seu trabalho. "Eu comecei a ficar extremamente insatisfeito porque as minhas matérias internacionais tinham apenas 60 segundos no Jornal Nacional. No blog, eu poderia escrever tudo o que não tinha saído na televisão", explica Azenha.

Em 2006, o site tomou um novo rumo. O jornalista, já em São Paulo, mas ainda trabalhando na Globo, começou a publicar denúncias políticas. No segundo semestre do mesmo ano, aproximando-se as eleições que Lula e Geraldo Alckmin disputavam para chegar à Presidência do Brasil, surgiu uma denúncia de que o PT havia comprado um dossiê contra o candidato tucano. Perto do dia da votação, fotos do dinheiro usado na compra do dossiê vazaram na internet. Azenha teve acesso a uma gravação exclusiva e sigilosa. "Era uma conversa entre o delegado Edmilson Bruno, da Polícia Federal, e um grupo de jornalistas. Esse delegado vazou as fotos do dinheiro. Mas ele só divulgou em cima da hora, o que dava a entender que havia sido comprado para arranjar um escândalo perto das eleições. Essa gravação mostrava o delegado falando, editando com os jornalistas. Ele falava: 'Nessa imagem coloquem Photoshop. Eu vou dizer para todo mundo que foi uma faxineira que pegou as fotos do computador'", conta o jornalista.

Com uma denúncia tão grave nas mãos, Azenha resolveu divulgar em seu blog a gravação (à qual, por sinal, a Globo também teve acesso, mas preferiu não divulgar). Logo após a publicação no VioMundo, Azenha recebeu uma ligação de seu chefe, Carlos Schroeder, perguntando por que ele havia colocado aquela matéria no blog, já que era repórter da Globo. "Eu coloquei no meu blog porque era uma informação relevante. A Globo foi uma das emissoras que divulgou o escândalo, mas não veiculou a conversa dos bastidores. Com isso, eu já fiquei estremecido. Mas o meu blog bombou. Foi um salto de audiência", explica Azenha.

Desde então, o blog tornou-se referência para a chamada blogosfera progressista, mídia que não para de crescer e tem como objetivo criar um contraponto à mídia tradicional, como explica Cleyton Torres, jornalista e integrante do Observatório da Imprensa: "Os blogs são fundamentais para a fomentação de novas ideias, críticas e opiniões. Eles dão às pessoas a possibilidade de enxergar das maneiras mais diversas o outro lado da moeda; cabe a essas pessoas, posteriormente, aderirem à visão que julgam conciliar com seus valores". A jornalista e blogueira Sônia Amorim afirma que "um blog progressista deve estar antenado com atitudes avançadas, cidadãs e democráticas". André Lux, jornalista e blogueiro, completa: "Trata-se de lutar pelos excluídos, por justiça social, por igualdade de direitos, pela igualdade racial, pela igualdade de direitos entre homens e mulheres, pela democracia. É ser contra o neoliberalismo e os atores políticos e sociais que o defendem".

Porém, ao mesmo tempo em que os jornalistas têm mais espaço para expor suas opiniões na internet, também acabam enfrentando outros dilemas, como as questões envolvendo a honra e a imagem de uma determinada pessoa. Azenha conhece bem esse problema. Em março de 2013, o jornalista foi condenado a pagar uma indenização de trinta mil reais por danos morais a Ali Kamel, diretor de jornalismo na Rede Globo. Kamel alegou que sofreu perseguições pessoais de Azenha, veiculadas no site VioMundo, e que seu nome foi citado mais de 28 vezes no blog desde 2008, destacando que as publicações foram difamatórias e causaram danos à sua vida pessoal. "Na época eu fiquei muito revoltado, gastei uma grana com advogado", conta Azenha.

A atuação de Azenha no episódio divide opiniões. Miguel do Rosário, do blog Cafezinho, acredita que as críticas de Azenha foram somente políticas e que o blog é uma ferramenta pessoal, no qual ele pode publicar sua opinião sobre fatos atuais e pessoas públicas, sendo Kamel uma delas. Já para André Lux, a liberdade de expressão ultrapassou o seu limite e as críticas não foram tão políticas assim. "Os textos dele e dos outros ex-globais contra o Kamel foram de uma estupidez sem tamanho. Poderiam ter feito mil críticas ao trabalho dele, mas partiram para o lado pessoal, com brincadeiras de mau gosto, e aí abriram uma brecha para que ele os interpelasse na justiça", explica. Alvaro Benevenuto, também jornalista e pesquisador de redes sociais, acredita que Azenha "assumiu o risco de ofender alguém, mesmo sendo pessoa pública. É uma questão ética do jornalismo".

Cleyton Torres explica que "a liberdade nos blogs, tão almejada por alguns profissionais, acaba sendo confundida com quebra de leis, difamação e injúria. A linha tênue entre o pessoal e o público é muito delicada". Alvaro acrescenta: "O limite está na ética pessoal e profissional, nas regras básicas da convivência em sociedade e nos instrumentos de regulação da vida nacional". Para Eugênio Bucci, as discussões nos blogs e as diferentes posições políticas fazem com que a democracia exerça seu papel e se fortaleça. "O fundamental é que, na sociedade, todas as pessoas tenham voz", explica Bucci. Cleyton ainda acrescenta: "O que é ofensivo para um pode não soar ofensivo para outro. Por ser o blog um canal independente e com tom político, aqueles contrários às suas opiniões podem enxergar uma brecha em suas colocações, o que geraria processos. O fato de ser processado algumas vezes pode significar que ele está saindo da linha ou, no mais, que está atingindo as pessoas certas".

Azenha não foi o único a ser processado por Ali Kamel. A onda de críticas contra ele, que afetava diretamente a imagem de empresários, políticos e governos, fez com que mais ações judiciais fossem movidas contra os blogueiros progressistas. Rodrigo Vianna, repórter, e Marco Aurélio Mello, editor de texto, ex-funcionários da Rede Globo, também foram processados e condenados a pagar indenizações a Kamel. Paulo Henrique Amorim, apresentador do Domingo Espetacular, programa semanal da Record, também não ficou de fora e foi condenado. As indenizações variam entre dez e cinquenta mil reais. Porém, há outros jornalistas na blogosfera que não podem arcar com os processos e advogados. Por isso, em abril de 2013, foi criado pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, instituição cujo objetivo é democratizar a comunicação na rede, um fundo financeiro para auxiliar no custo dos processos de quem não tem verba suficiente.

Independentemente de postura política, os blogs acrescentam e muito na construção da notícia e da verdade. O grupo de blogueiros progressistas também conta com a presença de Rodrigo Vianna, Marco Aurélio Mello e Paulo H. Amorim, jornalistas da Rede Record. Porém, há quem diga que este grupo, privilegiado por poder fazer um intercâmbio de informações da internet para a televisão, é fechado e não aceita opiniões. André Lux afirma que "alguns blogueiros que têm mais destaque e leitores formaram uma espécie de 'clubinho' fechado, por meio do qual tentam manipular e dirigir o resto da blogosfera. Cheguei à conclusão de que isso era um absurdo, porque o caráter principal dos blogs é justamente a independência e a pulverização. Assim, tentativas de guiar ou liderá-los me parece algo que vai contra seu princípio básico. "Quando expressei essa minha opinião a alguns desse grupo de 'medalhões', passaram a me hostilizar em seus blogs". Sônia Amorim concorda com André e ainda acrescenta: "Eles vêm do jornalismo, são macacos velhos, veteranos. E ainda por cima dispõem de toda a estrutura de uma Rede Record por trás, fora os salários. No meu entendimento, eles tentaram se apropriar da blogosfera política, passaram a organizar eventos, encontros... Isso traz vantagens financeiras, lucros, patrocínios, não? Azenha e Paulo H. Amorim, sobretudo, são 'cobras criadas' do jornalismo. Não os considero blogueiros, mas jornalistas que mantêm blogs".

Já Altamiro Borges, presidente do Centro de Estudos Barão de Itararé, acredita que os chamados medalhões ajudaram muito no crescimento e no movimento da blogosfera. "Desculpem-me os blogueiros, mas se não fossem essas figuras, que têm tanta visibilidade, o movimento da blogosfera teria muitas dificuldade. Existiria, mas com muito mais dificuldade", explica Altamiro.

Desde setembro de 2007, Azenha conta com a colaboração da também jornalista Conceição Lemes para a produção de notícias no blog. Conceição explica como começou a trabalhar com Azenha: "Eu era leitora e comentava de vez em quando no VioMundo. O Azenha e eu começamos a trocar mensagens sobre um determinado assunto nos comentários. Então, ele me convidou para fazer uma reportagem sobre a febre amarela. Inicialmente, as minhas contribuições eram esporádicas. Mas, aos poucos, foram ficando cada vez mais assíduas".

Devido ao seu trabalho de repórter especial na Rede Record, às constantes palestras de que participa e aos projetos de livro que toca paralelamente, muitas vezes Azenha acaba se ausentando de São Paulo e até mesmo da internet. Sendo assim, quando o jornalista não consegue publicar, Conceição administra toda a produção. "Faço de tudo no site: modero os comentários dos leitores, seleciono matérias, posto-as, sugiro pautas, faço reportagens etc. Azenha e eu somos editores. Na prática, somos pau para toda obra. Nós dois tocamos o VioMundo", explica a jornalista. O blog recebe colaboração pontual dos internautas. Todos os leitores do site podem produzir uma matéria e sugeri-la para publicação. Mas Azenha explica que "a tendência é o blog ter cada vez mais conteúdo próprio e produção interna".

Atualmente, o VioMundo, que conta com mais de cem mil leitores diários, se mantém graças ao salário que Azenha recebe na emissora em que trabalha. O site também recebe contribuição voluntária de seus fiéis leitores. "Eu assumi um compromisso com os meus leitores. Todo o dinheiro que for doado voltará para a produção do blog, que é uma mídia colaborativa. Quero que a pessoa tenha a satisfação de ler ali o que ela não encontra em nenhum outro lugar", confirma Azenha. O jornalista não aceita publicidade pública em seu site, posição que gera discordância por parte de Altamiro Borges. "Ele acha que isso pode criar um tipo de vínculo. Eu discordo dele. Não tem cabimento o governo federal dar verba para Globo, Veja, Folha, Estadão, sendo que é dinheiro meu também, uma vez que eu pago imposto. Portanto, isso é um direito meu também, eu não acho justo".

Conceição, braço direito de Azenha no VioMundo, explica: "Fazemos campanha com os leitores para financiar o site, já que nós não aceitamos recursos de governos e não queremos depender de corporações. Aos poucos, o dinheiro que estamos arrecadando com as assinaturas dos leitores já nos permite encomendar algumas reportagens".
Azenha garante que seu site é apartidário, que ele apenas expõe sua opinião política. "Meu blog é de esquerda, defende ideias de esquerda. Quando o PT segue políticas que são de esquerda, a gente defende. Quando o PT tem ideias de direita, a gente critica. A esquerda é aquela que defende o interesse público. Eu sempre tive ideologia de esquerda e meu blog é assim", comenta Azenha.

Como repórter da Record, ele garante que a emissora não interfere em seu blog: "Ninguém pega no meu pé em relação à minha posição política e ninguém interfere no meu blog". Porém, não são todos que acreditam no discurso de esquerda. O jornal Luta Operária, em uma publicação no dia 7 de junho de 2011, expôs sua opinião sobre a posição política dos "medalhões": "Os 'blogueiros' 'chapa branca' limitam-se a atacar uma já decadente mídia golpista (a qual denominaram PIG) e não o pacto oligárquico iniciado no governo Lula com a dinastia Sarney no Maranhão e outros estados, além de preservarem a Rede Record, do bispo Edir Macedo, onde, diga-se de passagem, alguns estão empregados. Os blogueiros governistas tratam de proteger Dilma e "escondem" consciente e criminosamente Sarney (e outros falsos intelectuais corrompidos) das críticas, semeando ilusões pequeno-burguesas na administração petista".

Para o jornalista e sociólogo Laurindo Leal Filho, o governo precisa estimular formas alternativas de mídia, descentralizando o poder que se concentra em algumas famílias pelo Brasil. "Em um país em que oito ou nove famílias concentram a comunicação e estabelecem o pensamento único, cabe ao governo estimular e fortalecer a imprensa e o jornalismo alternativo, que estão nas emissoras públicas e nos blogs, por exemplo. A sobrevivência desses meios deve acontecer, também, por meio do financiamento público".

Altamiro acrescenta dizendo que essa nova mídia precisa de uma regulamentação: "Para garantir a verdadeira liberdade de expressão, democratizar a blogosfera".
Com planos para o futuro, Azenha almeja ter sua própria rede de televisão no blog. "Acho que vai demorar um pouco ainda. Primeiro, por causa de dinheiro; segundo, porque no Brasil somente quarenta por cento da população tem internet de qualidade em casa. Então, é um sonho de médio prazo. Preciso levantar capital. Seria uma outra pegada, mais à esquerda, mais fora do eixo tradicional, continuando com críticas e denúncias", conclui o jornalista. Ele diz que, quando tiver a oportunidade de se sustentar somente com o dinheiro da blogosfera, deixará a televisão.

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