sábado, 18 de maio de 2013

Venezuela, papel higiênico e a mídia


Por Vanessa Silva, no sítio Vermelho:

A Venezuela vive um golpe. Os golpistas, ao contrário do que querem fazer crer setores conservadores latino-americanos, não são os integrantes do governo, mas a oposição do país e a imprensa venezuelana e internacional. O editorial do jornal O Estado de S. Paulo desta quinta-feira (16) deixa isso claro. Intitulado “O naufrágio venezuelano”, o texto é um apanhado de equívocos e manipulações a respeito da situação política e econômica do país.

O estopim do rosário de críticas tecidas pela mídia nesta quinta-feira (16) se baseia no anúncio feito no dia anterior de que o governo comprará 50 milhões de rolos de papel higiênico para suprir a demanda interna. Diante da crise de desabastecimento que o país enfrenta, em muito devido a sabotagens da direita, a resposta do governo tem sido de procurar países produtores de alimentos, materiais essenciais e matérias-primas para firmar parcerias e garantir o consumo no país.

Este foi o objetivo central da visita do presidente Nicolás Maduro aos países do Mercado Comum do Sul (Mercosul), no começo do mês, e dos acordos firmados recentemente com a China. Somente com o Brasil e a Argentina, o presidente venezuelano Nicolás Maduro fechou parceria para importar 760 mil toneladas de alimentos e assim garantir reserva alimentícia para três meses.

É sabido que a Venezuela produz muito pouco. Importa a grande maioria dos produtos que consome – é o efeito da chamada doença holandesa, fruto do boom petroleiro do país a partir da década de 1950. No caso, não houve mudanças no cenário econômico do país: a economia segue no mesmo ritmo, as exportações de petróleo não caíram, o governo não deixou de importar o essencial e não houve nenhuma seca/geada/catástrofe que tenha impactado a produção local de alimentos. O que explica então o desabastecimento? A resposta do governo, bem razoável, é que os setores que controlam o mercado de produção e distribuição de alimentos estão manipulando as reservas nacionais e, com o auxílio dos meios de comunicação, provocando uma corrida da população às gôndolas dos supermercados para fazer estoque em suas casas.

Crise e golpe
O jornal brada ainda que “Maduro não apresentou nenhum plano de longo prazo para lidar com a crise, limitando-se a apagar o incêndio muitas vezes com gasolina”. Desconhecimento ou má-fé? O fato é que o presidente Hugo Chávez deixou como herança política o Plano Socialista para a Pátria 2013-2019, no qual traça os caminhos para a solidificação de uma Venezuela livre, soberana e potência regional. Ali estão as linhas gerais, e as específicas, Maduro está tratando de garantir dando prioridade à industrialização do país e à produção de produtos de primeira necessidade, sempre com base na solidariedade das nações amigas.

Não é fácil governar um país, sendo ele o Brasil, a Argentina, o Uruguai, como também não é fácil governar a Venezuela. É, no mínimo deselegante, no entanto, chamar o projeto de governo de um país amigo de “irresponsável aventura estadista bolivariana”. Ou afirmar que este governo tem “incapacidade administrativa” e “falta de legitimidade”. A verdade é que a Venezuela que se pinta não existe de fato.

Estive duas vezes no país caribenho – a primeira em outubro de 2012 e a segunda em abril deste ano, ambas para acompanhar as eleições. Em nenhuma delas encontrei um país à beira do caos, com uma economia em frangalhos, com pessoas desesperadas, tristes, com medo. Ao contrário! Há um país em que as pessoas têm emprego como nunca antes, em que seus filhos podem cursar universidades públicas, em que a saúde melhorou, em que os idosos podem se aposentar. É um país com alto nível de investimento brasileiro com empresas como a Braskem, Camargo Correa e Odebrecht atuando em obras estratégicas de infraestrutura. Aliás, o comércio entre as nações atinge a marca de US$ 6 bilhões por ano e a meta é chegar a US$ 15 bi.

Caracas tampouco é tão perigosa como relatam. É uma grande cidade com problemas como os de São Paulo ou Rio de Janeiro. Há crise política no país? Sem dúvida. Afinal, há ali uma oposição golpista que, apesar dos resultados limpos e transparentes das eleições de 14 de abril, insiste em cantar fraude – discurso encampado pela imprensa brasileira – inviabilizando o avanço de debates importantes sobre o futuro da pátria. A posição é encampada pelo governo dos Estados Unidos que, até o momento, não reconheceu Maduro como presidente legítimo, dando munições para um cenário de desestabilização no país. Maduro terá pela frente muito trabalho nos campos político e econômico, mas o diabo não é tão feio como pintam nossos jornais.

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