domingo, 26 de agosto de 2012

As ideias direitistas de Capriles

Por Altamiro Borges

O presidente Hugo Chávez afirmou outro dia que não participará dos debates televisivos com o seu rival nas eleições de outubro, o empresário Henrique Capriles Radonski. “Ele não tem ideias”, ironizou. A afirmação chocou a imprensa colonizada do Brasil, que chamou o líder bolivariano de arrogante. Mas a declaração irreverente de Chávez não é de todo desprovida de sentido. De fato, o candidato da direita venezuelana não tem ideias próprias, não tem projetos e a sua campanha está totalmente sem rumo.

Sem projeto e sem rumo

Ciente do êxito dos programas sociais na Venezuela, que reduziram drasticamente as taxas de pobreza no país, Capriles afirma em seus comícios que dará continuidade às chamadas “misiones”. No início da sua campanha, ele também se apresentou com um candidato de centro-esquerda, que “segue o exemplo de Lula”. Pouco depois, o ex-presidente brasileiro gravou um carinhoso e entusiástico vídeo de apoio a Hugo Chávez. “A sua vitória é a nossa vitória”, afirmou Lula. Novamente, Capriles ficou pendurado na brocha!

Diante do recente ingresso da Venezuela no Mercosul, festejado como uma importante conquista do povo venezuelano, o rico empresário, que tem sólidos vínculos com os EUA, ficou desnorteado. Capriles enrolou e não se posicionou nem contra nem a favor. Ele também evita falar da frustrada tentativa de golpe em abril de 2002, quando se projetou como um dos principais líderes da direita. Seu sítio de campanha revela todo este vazio de posições e propostas. É um amontoado de platitudes, de mediocridades.

A campanha na revista Veja

Na sua edição de final de julho, a revista Veja – porta-voz de Capriles no Brasil – até que tentou extrair alguma ideia nova do direitista venezuelano numa longa entrevista. Nas fotos bem editadas, ele aparece como um jovem cheio de energia – já Chávez surge sempre em trajes militares, numa manipulação grosseira que tenta vender a imagem de que ele é um ditador. A bajuladora reportagem, porém, confirma a confusão que reina na campanha de Capriles Radonski, que é apresentado como o Davi que vai derrotar o Golias.

Sobre a entrada do país no Mercosul, ele despista para não dar pontos a Chávez. Afirma que será positiva “se mudarmos o modelo econômico, valorizando as exportações”. Sobre o apoio de Lula ao presidente, ele mente não maior caradura: “Isso não importa. Não sou do tipo que personaliza as coisas”. Já no que se refere às “misiones”, ele jura que ampliará os programas sociais. Nas entrelinhas, porém, Capriles deixar vazar suas ideias direitistas, o seu endeusamento do “deus mercado” e seu servilismo aos EUA.

Visão neoliberal e entreguista

Ele condena “as expropriações de empresas e fazendas”, colocando-se ao lado de empresários fraudulentos e latifundiários e contra a retomada de firmas falidas e a reforma agrária em terras improdutivas patrocinadas pelo atual governo. Ele também afirma que a misiones só terão sucesso se “contarem com ajuda da iniciativa privada”. Quanto à política externa, ele ataca as relações da Venezuela com o Irã e diz que o futuro governo deve fortalecer os laços com países “que respeitam os direitos humanos” – citando os EUA.

Seu anticomunismo fica mais explícito quando ele sataniza o regime cubano e apoia os golpistas do Paraguai. “Como alguém que se opõe ao embargo econômico a Cuba pode defender o mesmo tipo de sanção ao Paraguai? Isso prova que a diplomacia da Venezuela obedece apenas às preferências políticas e pessoais de Chávez... Atualmente, o que existe é uma admiração de Chávez por Fidel Castro, e uma tentativa do governo venezuelano de manter de pé o modelo cubano. Este, contudo, é insustentável”.

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