sexta-feira, 27 de julho de 2012

Reforma política e eleições municipais

Por Frei Betto, no sítio da Adital:

É ingenuidade pedir ao poder para se autorreformar. Poder e governo são que nem feijão, só funcionam na panela de pressão. O fogo que o aquece e provoca modificações em seu conteúdo tem que vir de baixo. Da pressão popular.

Por isso, o Congresso empurra com a barriga a reforma política. Medo de que qualquer alteração nas atuais regras do jogo venha a diminuir o poder de quem agora ocupa o centro do palco político. Como está é ruim, mas como estará poderá ser pior para quem ousar propor a reforma.

Na falta de reforma política, o que vemos em torno não é nada animador. A democracia reduzida a mero ritual delegatário, os partidos cada vez mais parecidos entre si, os discursos cheios de palavras vazias, e o eleitor votando em A para eleger B, considerado o quociente eleitoral.

Na verdade, nem é justo falar em democracia, e sim em pecuniacracia, já que o dinheiro exerce, somado ao tempo disponível na TV, poder de eleger candidatos.

Estimativas indicam que, na capital paulista, apenas dois candidatos à prefeitura, Serra e Haddad, gastarão, juntos, R$ 118 milhões.

De onde jorram tantos recursos? É óbvio, de quem amealha grandes fortunas – bancos, empresas, empreiteiras, mineradoras etc. Cria-se, assim, o círculo vicioso: você investe em minha eleição, eu na sua proteção. Eis a verdadeira parceria entre o público e o privado. Como se constata na CPI do Cachoeira e nos cuidados que os parlamentares tomam quando é citada a Construtora Delta.

A pasteurização da política faz com que ela perca, a cada eleição, a sua natureza de mobilização popular, para se transformar em um negócio administrado por marqueteiros e lideranças partidárias. As "costuras” são feitas por cima; os princípios ideológicos escanteados; a militância é substituída por cabos eleitorais remunerados; os acordos são fechados tendo em vista fatias de poder, e não programas de governo e metas administrativas.

O eleitor é quem menos importa. Até porque a ciência do marketing sabe como manipulá-lo. Todos sabemos que o marketing consegue induzir as pessoas a acreditarem que a roupa do shopping é melhor do que a da costureira da esquina; refrigerante com gosto de sabão é melhor que suco de frutas; sanduíche sabor isopor é melhor que um prato de saladas.

Do mesmo modo, os candidatos são maquiados, treinados, orientados e produzidos para ocultar o que realmente pensam e planejam, e manifestar o que agrada aos olhos e ouvidos do mercado eleitoral.

A falta de reforma política impede inclusive o aprimoramento de nosso processo democrático. No Congresso, em decisões importantes, como cassação de mandatos, o voto é secreto. E isto é absurdamente constitucional. Princípio que fere a própria natureza da democracia, que exige transparência em todos os seus atos, já que os representados têm sempre o direito de saber como procedem seus representantes.

Hoje, no Brasil, o deputado e senador que você ajudou a eleger pode votar a favor e declarar ter votado contra. Mentir descaradamente. E agir segundo interesses escusos – tão frequentes nesse regime de pecuniacracia.

Há, contudo, uma novidade que escapa ao controle dos marqueteiros e das lideranças partidárias: as redes sociais. Através delas os eleitores deixam de ser passivos para se tornarem protagonistas, opinativos, formadores de opinião.

Uma sugestão ao eleitor(a): nessas eleições municipais, escreva em um papel 10 ou 20 exigências ou propostas a quem você gostaria de ver eleito vereador e prefeito. Analise quais prioridades merecem ser destacadas em seu município: Saneamento? Educação? Saúde? Creches em áreas carentes? Transporte coletivo? Áreas de lazer e cultura?

Caso tenha contato direto com candidatos, pergunte a ele, sem mostrar o papel, se está de acordo com o que você propõe para melhorar o município. Se ele disser que sim, mostre o papel e peça que ele assine.

Você verá o resultado.

2 comentários:

Hermes Milani disse...

Omissão completa da mídia ocidental
.

Se vc suportar, olhe um dos resultados dos "bombardeios humanitários" dos Estados Unidos da América e da OTAN, na Líbia, de março a outubro de 2011.

Em 2012, graças aos vetos da Rússia e da China, no Conselho de Segurança da ONU, não aconteceu o mesmo na Síria. Clique ou copie e cole, conforme a configuração do seu computador:

http://www.youtube.com/watch?v=5MN_dg9ovlY

Anônimo disse...

Muito bom o artigo do Frei Beto. Uma forma coerente de forçar a reforma política pela base mais sucetivel da pirâmide social ao mesmo tempo mais forte para fazer com que aconteça. O ideal será que as comunidades façam reuniões para levantarem todos os seus problemas estruturais,econômicos e sociais comuns constituídas em ATAS e anexarem a um TERMO DE COMPROMETIMENTO político e moral com todos os candidatos, independentes de partido político, e fazendo-os assinar em baixo com todos os seus dados. Registrar em cartório esses documentos para poder cobrar posteriormente, se for preciso até no MP, caso haja desviu de compromisso dos candidatos. Não tem melhor forma de financiar a campanha de um condidato qualquer do que com o VOTO em troca de compromissos assinados com as comunidades. É a revolução pelo voto é a REFORMA POLÍTICA que os corruptores e corruptos viciados pelo poder menos desejam. Seria o envolvimento da OAB, CNBB, MST, CPT, ONGs..etc...etc... orientando as comunidades e até fornecendo modelos do TERMO DE COMPROMETIMENTO para as comunidades.