sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Obama assina sentença de morte política

Por José Dirceu, em seu blog:

É evidente que a situação americana é complexa e não haverá saída fácil. Mas, também, é óbvio que o acordo assinado pelo presidente Barack Obama sobre o aumento do teto de endividamento do país é sua sentença de morte política, já que enterra todo o seu plano de governo. E justo agora quando ele já anunciou sua candidatura à reeleição e se prepara para disputá-la em 2012.



Alguns diriam: "mas, foram os eleitores que escolheram esse caminho ao darem maioria ao Partido Republicano, e ainda elegerem uma forte bancada do Tea Party". É verdade, mas o fato é que o presidente Obama abriu mão de seu programa de governo, pelo qual foi eleito, ao aceitar cortes orçamentários sem aumento de impostos para os mais ricos.

Assim, além de colocar em risco o reaquecimento da economia norte-americana, ele enterra os sonhos e, particularmente, submete a maior economia do mundo à mesma lógica que levou a Europa ao desastre atual, onde os cortes e a austeridade são para salvar os bancos.

Sem saída

São cortes na Europa tal qual nos EUA, que deixam os cidadãos e as nações sem saída. Pior, deixam-nos - ou lhes impõem - sob o risco de saídas autoritárias. É só esperar para ver. A não ser que da sociedade surjam novos movimentos e partidos, ou que os atuais partidos e líderes se renovem. A perspectiva não é nada promissora, seja no velho continente, seja em Tio Sam.

Resta, portanto, só uma esperança, como sempre: a de que as nações e povos, como vem acontecendo lentamente na Europa, encontrem novos caminhos e, principalmente, se reencontrem com os sonhos de um mundo melhor, sonhos que são, para todos nós, o motor da história.

1 comentários:

Unknown disse...

O Cansei de Obama

A novela do pacote da dívida estadunidense rendeu pequenas fortunas a quem soube aproveitar as oscilações de expectativa geradas pelo catastrofismo do noticiário econômico. Fora desse universo restrito de interesses, o debate político de Washington não versava sobre a possibilidade real de calote, mas acerca da natureza dos cortes necessários para a aprovação do teto legal de endividamento.

Se quisesse partir para o confronto, Barack Obama teria imposto sua vontade no Congresso. Optando pelo recuo estratégico, o presidente jogou à oposição o ônus de um eventual fracasso (ou no mínimo dividiu-o com ela) e resguardou-se numa posição apaziguadora. Na pior das hipóteses, resta-lhe o papel de vítima incompreendida, que ele pode vestir durante a próxima campanha sucessória.

Chama a atenção como a imprensa brasileira evita abordar o fenômeno Tea Party, que teve papel fundamental na aparente derrota da Casa Branca. Ele é tudo que sonhavam os ideólogos do nosso malfadado Cansei: movimento de fachada apartidária, fortemente estruturado e coeso, que aglutina parcelas importantes da mídia e logrou constituir um bloco parlamentar decisivo nas votações apertadas do Congresso.

O maior diferencial do Tea Party reside na astúcia com que trabalha para sabotar os programas do governo federal sem permitir que o óbvio ranço autoritário e a violência dos métodos prejudiquem sua representatividade, mesmo quando contraria o interesse público. O Cansei também era provinciano, elitista, cínico, ultraconservador, e visava os mesmos objetivos. Ao contrário dele, porém, o Tea Party conseguiu poder de persuasão capaz de abalar a estabilidade do país.

É fácil entender por que os nossos bravos comentaristas querem distância desse tipo de irresponsabilidade oportunista, que eles um dia souberam aplaudir.

http://www.guilherme.scalzilli.nom.br/