sexta-feira, 27 de maio de 2011

Dilma Rousseff, Palocci e os omeletes

Arcangelo Ianelli - Tranquilidade
Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador:

A defesa de Palocci já custou caro para o governo: primeiro os ruralistas aprovaram o Código Florestal, em troca de não apertar o cerco ao ministro consultor; depois, Dilma cedeu à pressão da bancada religiosa e suspendeu o kit contra preconceito do Ministério da Educação. Esse foi o custo, no curto prazo.

Mais grave é o que pode ocorrer no médio prazo: a dissolução da base social que apoiou Dilma na eleição. Isso sim é grave, gravíssimo.

Os sinais já estão nas redes sociais. A militância que defendeu Dilma bravamente contra Serra durante a campanha suja de 2010, essa começa a abrir mão de apoiar o governo… O quadro pode ser revertido? Pode, com mudança de rumo. No ritmo atual, Dilma caminha para uma situação preocupante.

Muita gente há de de lembrar 2003. Primeiro ano de mandato de Lula. O governo parecia paralisado: juros nas alturas, Reforma da Previdência, parte da base social do petismo abandonava Lula. Palocci tentava acalmar o “mercado”. Era preciso. O Brasil estava às portas da bancarota. E aquele era um governo de coalizão, que ninguém se enganasse.

Lula perdeu algum apoio, mas não todo, e se recuperou. Antes, entretanto, teve que enfrentar a crise do Mensalão em 2005. A velha imprensa tentou fazer daquele o “escândalo mais grave da história”. Não era. Havia gente disposta a derrubar Lula entre os demotucanos. Isso havia. Bornhausen que o diga. Sabe por que não tentaram pra valer? Porque Lula tinha base social…

Quando o caldo entornou em 2005, não foram os banqueiros de Palocci que deram sustentação a Lula. Mas a base organizada. Assim como foi essa base, ou o que restou dela, que ajudou a enfrentar o PIG em 2006 e a onda conservadora insuflada por Serra em 2010.

O PT tomou um susto com os 20 milhões de votos de Marina? Se Dilma seguir no ritmo atual, o susto será dobrado em 2014… Quem vai defender o “legado” de Dilma?

Dilma encontrou a casa relativamente arrumada depois da vitória. Não precisava pagar o pedágio que Lula pagou em 2003. Mas escolheu fazê-lo. Levou Palocci ao centro do governo. E agora é ele que se agarra à presidenta, arrastando o governo para um redemoinho que, a médio prazo, pode tragá-lo.

E não é só isso. Vejamos. Em apenas cinco meses, quanta coisa desandou:

- retrocesso na política externa;

- retrocesso no Ministério da Cultura;

- derrota no Código Florestal;

- recuo no kit contra o preconceito.

O dado positivo do governo até agora, em minha humilde opinião: a política econômica. Mantega e o BC enfrentaram o repique da inflação sem ceder à chantagem mercadista. Foram bombardeados (e o bombardeio, dizem, teria partido de Palocci). Resistiram. A condução não liberal da economia (legado do segundo mandato de Lula) foi mantida por Dilma.

Lula, ao fazer determinadas escolhas ao longo de 8 anos, perdeu parte da base tradicional petista. Mas compensou as perdas com o tal “subproletariado” de que falou Andre Singer num já célebre artigo. Essa turma do subproletariado premiou Lula (e seus anos de bonança econômica) com a eleição de Dilma. Essa turma está se lixando pra Palocci, é verdade. Mas na hora em que o bicho pega não é essa turma (menos orgânica) que sustenta governo na rua. É a militância. E a militância, a mesma que o PT e Dilma desprezaram no primeiro turno e que mesmo assim evitou a vitória de Serra no segundo, essa está entre decepcionada e furiosa.

As escolhas de Dilma nesse início de governo me lembram um sujeito que tem família muito sólida, mas faz questão de agradar os vizinhos da rua. Deixa a mulher em casa pra ir ao churrasco de um. Depois, esquece de pegar o filho na escola pra ajudar o outro vizinho. E assim vai… Passa o tempo. Um dia ele volta pra casa distraído e descobre que a mulher foi embora e levou os filhos. Sente-se só. Vai bater na casa de um daqueles vizinhos muito amigos, e aí ouve: “cada um com seus problemas…”

Dilma faz a opção de agradar conservadores e religiosos de sua ampla base de apoio. Talvez as pesquisas ainda mostrem a popularidade da presidenta alta, porque essas questões demoram pra se espalhar entre o povão. Mas a base tradicional, mais à esquerda, essa se desmancha. Mas quais sáo os números que indicam isso? Não são números, é a pulsação na rede. Só não vê quem não quer.

O problema é que, quando vier uma crise brava ou quando chegar a eleição de 2014, esses conservadores não estarão com Dilma. Encontrarão outras alternativas. “Cada um com seus problemas” – dirão os banqueiros, os religiosos e a turma do agronegócio. Dilma vai olhar pro lado e perguntar: cadê o meu povo? Aí, pode ser tarde… Omeletes e Paloccis não vão resolver.

Ainda há tempo pra acertar a rota. Veto decidido ao Código Florestal, reorganização da base no Congresso, recomposição do Ministério abrindo mão de alguns nacos conservadores – na base aliada – para fortalecer o núcleo histórico de apoio ao lulismo. Isso tudo poderia ajudar. Mas seria preciso começar pela saída de Palocci.

A escolha parece não ser essa. Os sinais são preocupantes.

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