segunda-feira, 30 de maio de 2011

As rivalidades da primavera árabe

Por Robert Fisk, no jornal argentino Página/12:

A primavera árabe esconde seus segredos. A Turquia e o Qatar começaram a demonstrar certa irritação contra o regime sírio de Bashar al Assad. Os turcos, inclusive, estão planejando uma espécie de “lugar seguro” dentro do território sírio para evitar que uma maré de refugiados invada a fronteira turca. Enquanto os árabes do Golfo suspeitam que a Argélia esteja fornecendo armas à Líbia.


A Turquia acredita que Assad desonrou por duas vezes a promessa de retirar seus capangas armados das ruas sírias. A cobertura da rebelião desse país pela rede de notícias do Qatar, Al Jazeera, enfureceu tanto os sírios que eles bloquearam projetos daquele país em seu território, equivalentes a investimentos de mais de quatro bilhões.

Atualmente, as forças armadas do Qatar estão dando assistência e treinamento aos rebeldes líbios na cidade portuária de Misrata, no oeste do país. Nenhuma declaração oficial foi emitida sobre o envolvimento do Qatar no conflito líbio, embora no emirado tenha seis caça-bombardeios Mirage estacionados em Creta e outros sobrevoando de maneira permanente a Líbia.

O temor de que a Argélia esteja fornecendo tanques e militares armados para o governo de Kadafi, através da fronteira do deserto entre os dois países, é a verdadeira razão da visita do emir do Qatar, Hamad Bin Khalifa al-Thani, ao presidente argelino Abdelaziz Bouteflika, cujo exército é melhor equipado do que o governo líbio. Os líderes dos países do Golfo acreditam que as armas que os argelinos enviaram para a Líbia são os motivos do lento progresso da OTAN contra Kadafi.

Talvez, o mais grave, sejam os planos da Turquia que começou a delinear uma “zona de proteção” no norte da Síria para utilizar em caso de revolta e impedir que não se transforme em uma guerra civil. Os turcos lembram com horror as semanas em que milhares de curdos iraquianos fugiram para as fronteiras com a Turquia. Na ocasião, Saddam Hussein lançou duas forças contra eles, após a libertação do Kuwait em 1991. Milhares de pessoas morreram nas montanhas geladas e somente a “zona libertada” pelos Estados Unidos dentro do Iraque permitiu à Turquia devolver os refugiados a seu país.

Tal como ocorre no norte iraquiano, à maioria dos habitantes do norte da Síria é curda. Muitos acreditam que Assad não tem nenhuma intenção de manter sua promessa de garantir cidadania a eles. No entanto, as forças turcas nas montanhas do sudeste continuam travando sua própria guerrilha com os curdos e não querem mais que eles cruzem as fronteiras.

Assad, aparentemente, prometeu aos turcos que falaria publicamente sobre a retirada das tropas das ruas, mas não cumpriu – fato que enfureceu o ministro de Relações Exteriores da Turquia, Ahmet Davutoglu.

* Tradução de Sandra Luiz Alves.

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