segunda-feira, 25 de abril de 2011

A polarizada eleição no Peru

Por Altamiro Borges

O Instituto Ipsos, o mais tradicional do Peru, divulgou ontem a primeira pesquisa nacional sobre intenções de voto para o segundo turno da eleição presidencial, marcada para 5 de junho. O nacionalista Ollanta Humala, que reúne o apoio das forças de esquerda, surge com 42% das preferências, contra 36% da direitista Keiko Fujimori, filha do ex-presidente preso por corrupção.



A pesquisa indica que o pleito será polarizado. Humala vence nos centros urbanos, como em Lima, e nas camadas carentes. Keiko lidera na chamada classe A, com vantagem de 20 pontos. A mídia peruana faz campanha aberta contra a nacionalista, espalhando o medo do caos. Os partidos centristas, que ficaram de fora do segundo turno, estão divididos, mas pendem para a direita.

O tsunami neoliberal

A eleição no Peru confirma a encruzilhada vivida pela América Latina. Durante o reinado neoliberal de Alberto Fujimori, o país foi devastado. Com base num regime sanguinário, que impôs o terror sob a desculpa da guerra ao terrorismo, houve o desmonte do Estado, da nação e do trabalho. Manifesto divulgado na sexta-feira (22) pelo Partido Comunista Peruano dá detalhes do desastre:

“O país foi testemunha do pior processo de desnacionalização da sua história. Em nome da ‘modernização’, mais de 100 estatais foram privatizadas. Calcula-se que as vendas renderam US$ 11 bilhões, soma que não representa o real valor das empresas, a maioria delas rentáveis. Atualmente se investiga aonde foram parar US$ 6 bilhões, pois não constam dos cofres do Estado”.

Privatizações e desnacionalização

“Fujimori impulsionou a desnacionalização da indústria estratégica. Nossa pátria perdeu as telecomunicações, o setor mineiro, parte de seu petróleo e das empresas de energia elétrica, sua marinha mercante e sua companhia aérea. Só não levaram nossa água porque faltou tempo para inverter dinheiro público na sua modernização para logo entregá-la à voracidade empresarial”.

O documento lembra que o ditador ainda tentou privatizar a educação, a saúde e a seguridade. “Os trabalhadores, dirigidos pela CGTP, conseguiram impedir graças a memoráveis lutas, fundamentais para a derrota do regime fujimorista. Pedro Huilca Tecse, secretário-geral da CGTP, foi assassinado pelo grupo criminoso Colina, que financiava secretamente Fujimori e Montesinos”.

Regressão trabalhista e miséria

A exemplo do que ocorreu no Brasil no reinado de FHC, Fujimori também investiu pesado contra as leis trabalhistas, promovendo brutal precarização do trabalho. O desemprego bateu recorde e o arrocho aviltou os salários dos trabalhadores do setor público e privado. “A ditadura se rendeu ao culto do livre mercado e os serem humanos viraram mercadorias descartáveis”.

Fujimori foi derrubado e hoje se encontra preso num presídio próximo a Lima, com a pena de 25 anos por atos de corrupção. Os que o substituíram, porém, mantiveram o mesmo receituário. “Como resultado de mais de 20 anos de neoliberalismo, o nosso país sofre hoje de pobreza endêmica. Os dados estatísticos comprovam que em várias regiões a miséria supera 70% dos habitantes”.

Burguesia apátrida e pró-imperialista

É neste contexto que se dará o segundo turno em junho. Os partidos centristas, que mantiveram a lógica fujimorista, foram descartados pelos eleitores e o pleito assumiu uma feição claramente polarizada. De um lado, parte da burguesia nativa e das corporações multinacionais, que torcem pela vitória da filha do ditador – com respaldo da maioria da mídia.

“A direita peruana, que de peruana não tem nada, é muda e surda ao clamor da pátria. Não devemos esquecer os ensinamentos de José Carlos Mariátegui, que negou o caráter nacional da burguesia apátrida, que se comporta na teoria e na prática como uma senhora feudal pró-imperialista”, alerta o PCP, que investe suas energias na vitória da coligação “Ganha Peru”, de Humala.

Novo cenário na América Latina

“Os peruanos assistem ao governo mais corrupto, antinacional e criminoso da história republicana. O clamor por mudanças vem de longe. Grande parte do continente vive momentos de recuperação e soberania, que promovem bem-estar e desenvolvimento na Venezuela, Equador, Bolívia, Nicarágua, Uruguai, Brasil, Argentina e Paraguai. O Peru está na antessala desta nova ordem”.

1 comentários:

alexandre cerqueira disse...

Enquanto ainda temos uma esquerda viva nos países vizinhos, por aqui vamos tentando acabar, né Dilma? Para que mudar tanto o rumo assim Dilma? Vai Humalla, vai peru honra a esquerda