sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Salário mínimo e a divisão do PSDB

Reproduzo artigo de Raymundo Costa, publicado no jornal Valor Econômico:

O PSDB prepara uma grande festa para comemorar os 80 anos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em junho. O evento é mais uma etapa do processo de reconhecimento de FHC, iniciado no programa partidário de rádio e televisão. A única dúvida dos tucanos é se convidam os amigos internacionais do ex-presidente ou se fazem uma festa apenas tupiniquim. Acabam por aí as certezas do PSDB, ainda hoje um partido "engessado" por uma disputa que deveria ter acabado com a eleição presidencial.

O comportamento dos tucanos na votação do salário mínimo é uma prova disso. Enquanto o partido decidia manter posição em torno da proposta que José Serra apresentou na campanha eleitoral do ano passado, de R$ 600, o senador Aécio Neves (MG) negociava a proposta de R$ 560 da Força Sindical, sob a desculpa esfarrapada de que era preciso o partido ter um "Plano B" e estabelecer pontes em direção às centrais sindicais. Fez isso sem combinar com ninguém, o que revela um estilo, e por isso desagradou até aliados em potencial - Aécio é hoje candidato quase consensual do PSDB a presidente da República, em 2014.

Para os tucanos, o impasse somente será resolvido no momento em que José Serra entender que "a fila andou" e tentar se firmar, a partir de agora, como uma referência moral e intelectual do PSDB. Mais ainda, uma referência da maioria da oposição. Para isso, Serra não precisa de cargos na cúpula do PSDB. Ele provavelmente não entrará numa disputa pela presidência da sigla, mas se entrar, certamente perderá - o momento é de Aécio, o que não necessariamente significa dizer que, daqui a quatro anos, a conjuntura ainda será mais favorável ao senador mineiro. Em caso de fracasso do governo Dilma, seu contraponto é Serra, mesmo que na eleição de 2010 ele tenha feito uma campanha de exaltação do governo Lula da Silva. O que o PSDB espera de Serra é que ele seja oposição e a voz crítica do partido ao governo do PT.

Serra e Aécio entraram em 2011 de maneira açodada. Serra está preparando um blog na internet e quer escrever um livro crítico sobre o "sucesso" do governo Lula. Aécio mostrou um estilo ao negociar à margem das instâncias partidárias com as centrais. Se o mineiro é o pré-candidato preferido do PSDB, é fato também que não há saída para o PSDB sem que José Serra faça parte dela. Quadro histórico, duas vezes candidato do partido à sucessão presidencial, quase 44 milhões de votos na eleição passada, Serra não pode ser ignorado pelo PSDB e muito menos por Aécio Neves. A solução passa pelo tucano paulista.

Basta observar que Serra e o atual governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, são o que se chama no PSDB de "aliados compulsórios". Eles simulam uma boa relação, mas não têm como fugir um do outro eleitoralmente. Se não for candidato a presidente, Serra pode tentar convencer Alckmin a disputar a indicação do PSDB, para ele próprio concorrer ao Bandeirantes. Ou seja, Serra também tem bala na agulha para atrapalhar os planos de Aécio.

O PSDB não votou majoritariamente nos R$ 600 manipulado por José Serra. Votou porque esta foi a proposta do partido mais bem entendida pela população na campanha presidencial de Serra, no ano passado. Apesar dos discursos no tapete verde da Câmara, desde a véspera os tucanos e o Democratas sabiam que o governo aprovaria com facilidade sua proposta de R$ 545. Entrar com uma terceira alternativa só confundiria seu potencial eleitor. O próprio Aécio mais tarde recuaria da posição assumida.

O tempo corre contra os tucanos. O PSDB tem problemas graves em colégios eleitorais importantes para quem planeja a retomada do poder. É raquítico, por exemplo, no Rio de Janeiro, terceiro maior colégio eleitoral do país, e na Bahia, o quarto. Isso sem falar no Rio Grande do Sul e em colégios menores como Sergipe e Amazonas. Mas o partido só terá condições de enfrentar situações desse tipo depois que Serra e Aécio se entenderem.

São três as alternativas à frente do PSDB. A primeira é a disputa entre Aécio (ou um candidato que ele indicar a presidente do partido) e Serra. Os tucanos, que não são de fazer enfrentamento, acham que "bater chapa" é a pior solução e representaria o estilhaçamento do partido. A segunda é a solução rotineiramente adotada do arreglo interno, cada um fica com um pedaço do PSDB e o partido segue a vida. A terceira opção está sendo agora levada à mesa pelo presidente tucano Sérgio Guerra: empenhar todos os expoentes do partido no projeto de reconstrução dos tucanos, desde Fernando Henrique Cardoso a Pimenta da Veiga, um "histórico" mineiro que anda meio esquecido entre os tucanos.

O problema é que Serra e Aécio parecem mais empenhados em derrotar um ao outro, no momento. E os prazos correm contra o PSDB: no dia 20 março, o partido deve eleger seus diretórios municipais. Em 17 de abril, os estaduais. No fim de maio, provavelmente no dia 29, deve ser eleita a nova executiva nacional. Por enquanto, a única coisa certa é a comemoração dos 80 anos de FHC, "escondido" pelo partido nas três últimas eleições presidenciais, o que hoje os tucanos atribuem mais aos "marqueteiros" do que propriamente a uma decisão refletida do PSDB. FHC ainda é a voz de maior repercussão entre os tucanos.

1 comentários:

Milton disse...

Convida o Clinton para dar mais um "pito" no vira-latas safado, ou então o Obama para ele perguntar quem é o Fernando Henrique.
É mais fácil resgatar o Hitler para os judeus que o FHC para os brasileiros.