sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Dilma na Folha: necessário e perfumaria

Reproduzo artigo de Edgar Borges Jr., publicado no blog Pitacos Genéricos:

A ida da Presidenta Dilma Rousseff ao aniversário de 90 anos da Folha de São Paulo, na última segunda-feira, suscitou uma enorme polêmica entre os blogueiros progressistas. Uma parte se mostrou descontente e até indignada com essa atituda da Presidenta, uma vez que todos sabemos do papel muitas vezes nefasto desse jornal em nossa história, como o apoio a ditadura, ideológico e material, emprestando seus carros para o transporte disfarçado de presos políticos, e os inúmeros factóides por ela criado durante o governo Lula e a última eleição (culpar o Presidente Lula pelo acidente da TAM em Congonhas, ficha falsa da Dilma, menino do MEP e tantos outros). Em suma: a revolta dessa ala dos blogueiros é sim justificada pelos fatos. Dilma foi congratular com o antigo algoz.

Faço parte da outra ala, por assim dizer. Não é todo dia que um jornal de grande circulação completa 90 anos, e os números redondos sempre trazem maiores comemorações, hipocritamente ou não (vide as chamadas bodas de ouro, aos 50 anos de casamento, e tantos outros exemplos em que números redondos recebem mais atenção que uma data ou número quebrado). Assim, a Folha organizou uma grande festa na Sala São Paulo, repleta de líderes e autoridades, e convidou a Presidenta.

Já enfrentamos, injustamente, acusações de sermos contra a liberdade de imprensa, por querer regulamentar a mídia e por fim aos seus abusos. A não ida da Presidenta ao evento certamente traria essas críticas e muitas outras, por algo muito pequeno, perto do que realmente importa: a disputa de rumos deste novo governo. Por isso o título da postagem.

Esse início de governo, como explicitaram o Altamiro Borges, Rodrigo Vianna, Luis Carlos Azenha, entre outros, é preocupante: o receituário ortodoxo e liberal da economia voltou a ser plenamente aplicado. Um duríssimo ajuste nas contas, que atinge setores básicos da economia e do estado, como corte de verbas nas universidades federais e suspensão dos concursos públicos (alguém acha que o número de médicos e professores, atualmente, é satisfatório?). Aumento da taxa de juros, que traz ainda mais capital especulativo ao país, fazendo o real se valorizar e prejudicando nossas exportações e a nossa indústria, com a invasão de produtos chineses.

Outro tema, caro a todos nós da militância digital, onde o governo parece tergiversar, é a chamada Lei dos Meios de Comunicação. A concentração e monopólio das comunicações é a face visível e propagandística desse capitalismo selvagem e excludente que combatemos. Se queremos mudanças de fato no Brasil, passa necessariamente por democratizar os meios de comunicação e evitar que os grandes conglomerados façam vítimas em seu caminho, sem a punição devida. Sem isso, é impensável que teremos um povo mais consciente de sua cidadania e melhor preparado para a crítica necessária ao capital.

O Rodrigo Vianna escreveu há pouco, no Escrevinhados, uma boa análise dos rumos políticos deste governo. A Presidenta Dilma rumo ao centro do espectro político, e o ex-presidente Lula trata de segurar os sindicatos e movimentos sociais com seu enorme prestígio. A questão é que as atitudes efetivamente tomadas por este novo governo contrariam os interesses da grande massa da população. E o projeto, claramente, vislumbra deixar o PT o máximo de tempo possível no Planalto.

Temos que ficar atentos, e ver até onde o projeto do PT atende aos anseios do povo. As mudanças promovidas no governo Lula são apenas o início do que esperamos para o Brasil. Se isso for esquecido, em prol do projeto de um Partido, temos que esquecer os belos olhos do ex-presidente Lula e ir pra luta. Ir pro pau, movimentos sociais mobilizados, botando gente na rua em defesa dos interesses da população. Pelo que podemos perceber, os movimentos iniciais deste governo são para agradar a parte conservadora do país. Fiquemos atentos até onde vai esse chamego da Presidenta Dilma com os meios conservadores do país, e a contrapartida necessária aos anseios da população. É nessa gangorra que os rumos do país serão decididos.

Dilma ir ao aniversário da Folha é, portanto, o menos importante destes dias iniciais de seu governo. No momento, o inimigo joga em dois campos: aprecia os rumos iniciais do governo e se diverte com a nossa desunião perante o gesto simbólico da Presidenta ir a esse evento. Pra eles, é o melhor dos mundos: enquanto nos matamos pela ida da Dilma ao aniversário da Folha, esquecemos que os juros aumentaram, o corte de gastos atinge setores essenciais da economia, o salário mínimo não cresceu como poderia e a Lei dos Meios vai sendo esquecida.

Portanto, a hora é de cabeça fria, no lugar. Política é feita com a cabeça, não com o fígado. Vamos nos lembrar daquilo que nos une e que gerou o belo evento de juntar mais de 300 blogueiros em São Paulo: a democratização dos meios de comunicação, em especial. Nesse item, temos muito a oferecer e agregar.

Lendo o discurso protocolar da Presidenta Dilma na Folha, enxerguei de forma semelhante ao Stanley Burburinho: uma grande ironia e tiração de sarro pra cima da Folha. Todos os presentes sabiam que a Dilma falava aquilo tudo da boca pra fora, todos sabiam que era tudo falsidade. Deve ter constrangido o Otavinho e o pulha do Reinaldo Azevedo correu a se aproveitar do discurso.

Fico com a imagem que a Cynara Menezes descreveu no twitter: era a General Vitoriosa pisando no campo dos derrotados da guerra, a lembrá-los de sua humilhação.

4 comentários:

sonia santana disse...

Confesso que fico dividida tambem, mas ao mesmo tempo, Dilma não é boba e estas atitudes tambem desconcertam a oposição, que não sabe se morde ou se assopra !
Tambem gosta da imagem dela pisando a cabeça dos leões derrotados... e espero que ela logo vá varrendo o lixo dos ministerios.Uma coisa ela não deixa duvida: quem está no comando é ela. E nunca vai se intrigar com Lula, como deseja a oposicão.

Roberta disse...

Mas é isso aí, a Dilma tá mostrando que tem o mesmo poder que o Lula, que é ser o que se chama, vulgar e popularmente, de "vaselina." É a linha do "mantenha seus amigos perto, mas seus inimigos mais perto ainda."

alexandre cerqueira disse...

pior que isso meu caro, Ela que tanto fala em ditadura, omitiu em seus elogios o papel sujo da folha na ditadura. Rasgou se de elogios, estendeu as duas mãos ao PIG ao defender a liberdade de imprensa, como se tivesse ameaças, como se o governo lula censura se a imprensa.

Dilma caminha rumo a direita, o que se ve aqui é um serra de saias. MAS não é porque apoiamos e ajudamos a elege la que não podemos critica la, podemos sim e vamos, oras como ela gosta de dizer vivemos numa democracia

José Carlos Lima disse...

Há muita gente apostando na quebra desta relação de confianças entre Dilma e seu eleitorado

O mesmo espírito conciliatório adotado por Lula durante seus 8 anos de mandato, muita gente confunde isso com medo ou traição aos seus ideais

Agora me digam se é possível uma ruptura, Heloisa Helena saiu e criou o PSOL pq Lula não adotou a ruptura que ela esperava

Com Dilma será a mesma coisa, e não creio que se chegará ao ponto de se repetir o processo chileno, as promessas de campanha serão cumpridas, as políticas, que são as mesmas de Lula, serão adotadas, só muda o estilo

Há muita gente torcendo para que haja uma crise de confianças entre Dilma e seus eleitores ou entre Dilma e Lula que, por sinal, almoçaram juntos ontem

É o que dizem meus botões

Esta desconfiança....já vi este filme antes, quando Erundina era prefeita, começou assim, nas bases, aí começou um processo sem retorno, o PT censurando-a até desaguar na sua saída.
O crime que alegavam Erundina cometer: administrativismo
Diziam que ela se preocupava por demais em sanear as contas, em seguida veio o nada administrativista malufismo e deu no que deu
Parem com esta desconfiança sem motivo, estou me referindo ao que tenho visto por aí, na blogosfera, uma verdadeira paranóia, Dilma foi não sei aonde, vai na Hebe, o mundo vai cair, deixem a mulher trabalhar!!!

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