segunda-feira, 12 de abril de 2010

Vice do tucano José Serra já está na rua



Por oito votos a cinco, a Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu na tarde de hoje (12) soltar da cadeia o ex-governador José Roberto Arruda. Ele estava preso desde 11 de fevereiro numa cela da Polícia Federal, apontado como principal responsável pelo escândalo do “mensalão do DEM” em Brasília. Num passado não tão distante, ele já havia sido flagrado na violação do painel eletrônico do Senado e renunciou ao mandato para não ser cassado. Na época, ele chegou a ser líder do ex-presidente FHC no Senado.

Paparicado pela direita e por sua mídia – a Veja era uma das maiores bajuladoras do ex-governador, talvez por causa das assinaturas da revista bancadas pela administração do Distrito Federal sem licitação pública -, Arruda chegou a ser cogitado para ser vice-presidente na chapa de José Serra. Agora, o presidenciável tucano poderá retomar as negociações com o seu “vice-careca”. O problema é que o ex-governador, que já foi do PSDB e do DEM, está sem legenda. Mas Serra ainda pode pedir uma ajudinha para Gilmar Mendes (ou Dantas?) no STF. Por coincidência, o advogado de Arruda, Nélio Machado, é o mesmo de Daniel Dantas.

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Revista Veja partidariza as enchentes



O atento André Lux, do blog “Tudo em cima”, juntou as duas capas da Veja sobre as enchentes que vitimaram paulistas e cariocas. Na capa sobre o desastre em São Paulo, de fevereiro, a revista demotucana culpa exclusivamente a natureza – “uma rara combinação de fatores atmosféricos é a causa do dilúvio” –, limpando a barra do presidenciável José Serra.

Já na sua última edição, a capa da Veja afirma que “culpar a natureza é demagogia”. Ela responsabiliza os políticos – no caso, dois aliados do presidente Lula – que dão “barracos em troca de votos”. Como afirma o blogueiro Rodrigo Vianna, a Veja deixou de ser um veículo jornalístico. “Hoje, é um panfleto. Que usa morte e tragédias para fazer política – com p minúsculo”.


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A crise do PSOL e a disputa sucessória

Em clima de tensão, a 3ª Conferência Nacional do PSOL, ocorrida neste final de semana no Rio de Janeiro, aprovou a pré-candidatura de Plínio de Arruda Sampaio para o pleito presidencial de outubro. Dos 162 delegados eleitos nos encontros estaduais, o veterano militante teve 89 votos. O ex-deputado Babá retirou seu nome da disputa; já os apoiadores do ex-sindicalista Martiniano Cavalcante, entre eles a própria presidente do PSOL, Heloisa Helena, boicotaram a conferência, realizaram um encontro paralelo e prometem recorrer judicialmente contra o seu resultado.

O jovem partido, que nasceu como oposição frontal ao governo Lula e obteve votação expressiva no pleito de 2006, agora se apresenta fraturado e fragilizado. O processo da conferência nacional foi marcado pela disputa interna fratricida, com rasteiras e muito bate-boca. Na origem, a decisão unilateral da vereadora Heloísa Helena de não concorrer novamente à presidência da República, preferindo disputar uma vaga ao Senado em Alagoas. Na sequência, seu grupo iniciou conversações não oficiais com Marina Silva (PV), o que foi rejeitado pela maioria do partido – que considera a candidata verde de direita, aliada dos demotucanos.

Dois sítios e muitas divergências

As divergências políticas desembocaram num racha explícito. Até a página oficial do PSOL na internet virou motivo de litígio, com a criação de dois sítios – um editado pelo grupo de Heloisa Helena e da deputada Luciana Genro, dirigente do Movimento Esquerda Socialista (MES); e outro bancado pelos apoiadores de Plínio de Arruda. Houve ainda acusação de manipulação na eleição dos delegados de Minas Gerais, Acre e Roraima, que foram descredenciados para a conferência nacional, o que causou a retirada da conferência de 92 partidários de Martiniano Carvalho.

Irritada, Heloisa Helena rechaçou o descredenciamento “por formalidades burocráticas e sem nenhuma alegação formal”. Ela já anunciou que, como presidente do PSOL, recorrerá da decisão e pedirá a convocação de um congresso extraordinário do partido. “É a única forma de garantir a legitimidade nacional”. A ex-senadora também decidiu abrir uma guerra frontal contra a Ação Popular Socialista (APS), tendência do deputado Ivan Valente. “Quem entrou no partido depois dele ser fundado não tem o direito de rasgar a militância que o criou com enormes dificuldades”.

Heloisa Helena é “omissa”

No extremo oposto, Afrânio Boppré, secretário-geral do PSOL e apoiador de Plínio de Arruda, ataca a principal referência do partido. Para ele, Heloisa Helena foi “omissa” na organização e no fortalecimento do partido. Ao não aceitar a “tarefa” de ser novamente candidata à presidente e ao preferir apoiar Marina Silva, ela teria gerado a grave crise partidária. Mais diplomático, Plínio de Arruda preferiu não criticar as posturas da presidente do partido e somente lamentou a sua ausência na conferência. “Gostaria que a senadora estivesse presente”.

Animado, Plínio de Arruda lembra que sua pré-candidatura teve o apoio de “15 das 17 correntes internas” do PSOL e de dois de seus três deputados federais – Chico Alencar e Ivan Valente. Ele afirma que pretende fazer uma campanha mais “ideológica”, um contrapondo à polarização entre Dilma Rousseff e José Serra. “A esquerda faz agitação, porque é isso que ela tem que fazer... O desafio é criar o consenso entre os excluídos e consciência política para enfrentar o capitalismo... Este é o nosso desafio de campanha: falar a verdade e plantar a semente do socialismo”.

Os entraves da “frente de esquerda”

O PSOL definirá agora seu programa e a política de alianças. Entre outros pontos, a conferência aprovou o não pagamento dos juros da dívida pública, reforma agrária, “combate à transposição do Rio São Francisco, à construção da usina Belo Monte e aos transgênicos”. Quanto às alianças, Plínio de Arruda defende a retomada da “frente de esquerda”, com o PSTU e o PCB, repetindo a coligação de 2006. Mas esta tarefa também não será fácil. O PCB ameaça ter candidato próprio e o PSTU, em conferência realizada em meados de março, decidiu manter a candidatura de José Maria Almeida, dirigente da Conlutas, “como uma alternativa socialista dos trabalhadores”.

É certo que o PSTU também aprovou persistir no esforço para recompor a “frente de esquerda”, mas com condicionantes. “A ampla maioria dos militantes decidiu manter o chamado, mas com as condições que o partido vem apresentando: que esta frente tenha um programa socialista, que indique a ruptura com o capitalismo... Até agora, o PSOL não tem demonstrado concordância com o programa e com a independência de classe. Se não chegarmos a um acordo para a apresentação de uma candidatura única, o PSTU terá sim a sua candidatura à Presidência da República”, garante Zé Maria.

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A tática político-eleitoral da TV Globo

Reproduzo excelente artigo de Luiz Carlos Azenha, publicado no sítio Viomundo com o título “A reprise de 2006. Agora, como farsa”:

Em 2005 e 2006 eu era repórter especial da TV Globo. Tinha salário de executivo de multinacional. Trabalhei na cobertura da crise política envolvendo o governo Lula.

Fui a Goiânia, onde investiguei com uma equipe da emissora o caixa dois do PT no pleito local. Obtivemos as provas necessárias e as reportagens foram ao ar no Jornal Nacional. O assunto morreu mais tarde, quando atingiu o Congresso e descobriu-se que as mesmas fontes financiadoras do PT goiano também tinham irrigado os cofres de outros partidos. Ou seja, a “crise” tornou-se inconveniente.

Mais tarde, já em 2006, houve um pequena revolta de profissionais da Globo paulista contra a cobertura política que atacava o PT mas poupava o PSDB. Alguns dos colegas sairam da emissora, outros ficaram. Como resultado de um encontro interno ficou decidido que deixaríamos de fazer uma cobertura seletiva das capas das revistas semanais.

Funciona assim: a Globo escolhe algumas capas para repercutir, mas esconde outras. Curiosamente e coincidentemente, as capas repercutidas trazem ataques ao governo e ao PT. As capas “esquecidas” podem causar embaraço ao PSDB ou ao DEM. Aquela capa da Caros Amigos sobre o filho que Fernando Henrique Cardoso exilou na Europa, por exemplo, jamais atenderia aos critérios de Ali Kamel, que exerce sobre os profissionais da emissora a mesma vigilância que o cardeal Ratzinger dedicava aos “insubordinados”.

Aquela capa da Caros Amigos, como vimos estava factualmente correta. O filho de FHC só foi “assumido” quando ele estava longe do poder. Já a capa da Veja sobre os dólares de Fidel Castro para a campanha de Lula mereceu cobertura no Jornal Nacional de sábado, ainda que a denúncia nunca tenha sido comprovada.

Funciona assim: aos sábados, o Jornal Nacional repercute acriticamente as capas da Veja que trazem denúncias contra o governo Lula e aliados. É o que se chama no meio de “dar pernas” a um assunto, garantir que ele continue repercutindo nos dias seguintes.

Pois bem, no episódio que já narrei aqui no blog eu fui encarregado de fazer uma reportagem sobre as ambulâncias superfaturadas compradas pelo governo quando José Serra era ministro da Saúde no governo FHC. Havia, em todo o texto, um número embaraçoso para Serra, que concorria ao governo paulista: a maioria das ambulâncias superfaturadas foi comprada quando ele era ministro.

Ainda assim, os chefes da Globo paulista garantiram que a reportagem iria ao ar. Sábado, nada. Segunda, nada. Aparentemente, alguém no Rio decidiu engavetar o assunto. E é essa a base do que tenho denunciado continuamente neste blog: alguns escândalos valem mais que outros, algumas denúncias valem mais que outras, os recursos humanos e técnicos da emissora - vastos, aliás - acabam mobilizados em defesa de certos interesses e para atacar outros.

Nesta campanha eleitoral já tem sido assim: a seletividade nas capas repercutidas foi retomada recentemente, quando a revista Veja fez denúncias contra o tesoureiro do PT. Um colega, ex-Globo, me encontrou e disse: “A fórmula é a mesma. Parece reprise”.

Ou seja, podemos esperar mais do mesmo:

– Sob o argumento de que a emissora está concedendo “tempo igual aos candidatos”, se esconde uma armadilha, no conteúdo do que é dito ou no assunto que é escolhido. Frequentemente, em 2006, era assim: repercutindo um assunto determinado pela chefia, a Globo ouvia três candidatos atacando o governo (Geraldo Alckmin, Heloisa Helena e Cristovam Buarque) e Lula ou um assessor defendendo. Ou seja, era um minuto e meio de ataques e 50 segundos de contraditório.

– O Bom Dia Brasil é reservado a tentar definir a agenda do dia, com ampla liberdade aos comentaristas para trazer à tona assuntos que em tese favoreçam um candidato em detrimento de outro.

– O Jornal da Globo se volta para alimentar a tropa, recorrendo a um grupo de “especialistas” cuja origem torna os comentários previsíveis.

– Mensagens políticas invadem os programas de entretenimento, como quando Alexandre Garcia foi para o sofá de Ana Maria Braga ou convidados aos quais a emissora paga favores acabam “entrevistados” no programa do Jô.

A diferença é que, graças a ex-profissionais da Globo como Rodrigo Vianna, Marco Aurélio Mello e outros, hoje milhares de telespectadores e internautas se tornaram fiscais dos métodos que Ali Kamel implantou no jornalismo da emissora. Ele acha que consegue enganar alguém ao distorcer, deturpar e omitir.

É mais do mesmo, com um gostinho de repeteco no ar. A história se repete, agora com gostinho de farsa.

Querem tirar a prova? Busquem no site do Jornal Nacional daquele período quantas capas da Veja ou da Época foram repercutidas no sábado. Copiem as capas das revistas que foram repercutidas. Confiram o conteúdo das capas e das denúncias. Depois, me digam o que vocês encontraram.

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