segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Meirelles ainda quer mais autonomia

Por Altamiro Borges

Ávida por interferir na montagem do ministério do governo Dilma Rousseff, a mídia oligárquica parece preocupada com o futuro do atual presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Há boatos de que a presidenta eleita não o manterá no cargo. Os tais “agentes do mercado”, que têm espaço privilegiado nos veículos de comunicação, dizem temer pela “estabilidade da economia” – na verdade, eles temem por seus lucros exorbitantes e criminosos na especulação financeira.

Diante a boataria, Henrique Meirelles tentou um golpe de mestre, mas parece que se deu mal. Ele teria dito à imprensa que foi convidado a permanecer na função, mas que “impôs condições”. A principal seria maior autonomia do Banco Central. É muita petulância. Hoje, a instituição já goza de uma baita autonomia. Nos últimos oito anos, o BC manteve o tripé neoliberal da política macroeconômica – com juros elevados, superávit primário e libertinagem cambial.

O rentismo do BC

Essa autonomia já beira a irresponsabilidade. Em plena crise capitalista mundial, contrariando o próprio presidente, o BC elevou os juros, arrochando o crédito. Diante da atual guerra comercial, deflagrada pelos EUA, ele mantém os câmbio flutuante, o que penaliza a produção interna e gera déficits comerciais. Meirelles, que não nega seu passado de banqueiro, de ex-presidente do Bank of Boston, insiste na tese da autonomia operacional do BC, quando na maior parte das economias do mundo o movimento é exatamente o contrário – disciplinando o tal “mercado”.

A entrevista do presidente do BC – que agora diz que nunca deu – causou mal-estar na equipe de transição. “A presidente eleita se irritou com Henrique Meirelles por ele ter divulgado que impõe condições para ficar no Banco Central, mas que não descarta negociar a sua permanência por um período tampão. De acordo com auxiliares de Dilma, Meirelles perdeu ‘muitos pontos’ e deve ‘baixar o tom’ para que os dois possam negociar sua posição no futuro governo”, relata a Folha.

Desenvolvimentistas X neoliberais

Até agora, Dilma confirmou apenas a manutenção de Guido Mantega no Ministério da Fazenda. As discordâncias entre Mantega, mais ligado às teses desenvolvimentistas, e Meirelles, vinculado à ortodoxia neoliberal, podem agora resultar na exclusão do atual presidente do BC – o que seria uma excelente sinalização da presidenta Dilma. Os especuladores ficarão ouriçados; a mídia oligárquica fará escarcéu; mas o país só tem a ganhar em desenvolvimento e maior justiça.

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5 comentários:

Anônimo disse...

Altamiro meu filho, para sustentar essa sua matéria sobre aqui mais uma alfinetada expressiva a Meirelles e a sustentação a dispensa desse Goiano.

Depois dessa matéria fica claro que Meirelles é uma farsa.
Aqui o Nassif diz que ele nunca foi presidente do banco de Boston e sim da parte comercial para tres paises ( só tres paises).
Tem mais coisas interessantes.

http://www.brasilianasorg.com.br/blog/luisnassif/henrique-meirelles-o-posudo-de-goias

Anônimo disse...

De acordo com tudo, menos com a crítica à manutenção do câmbio flutuante. A respeito, ver recente entrevista da Conceição Tavares, que entende muito mais do assunto do que nós.

ALL XXX disse...

Caro Miro
Mais uma vez, de maneira simples e direta, expôs com propriedade um assunto do máximo interesse dos brasileiros, ainda mais com a repercussão econômica e política da enxurrada de dólares estadunidenses, provocadores de algo bem maior e mais grave do que uma mera guerra cambial...
Que os blogueiros progressistas reproduzam teu texto, como fez o Azenha sobre a questão dos sindicatos e governo Dilma

Robson santos disse...

A França, fazendo lá os seus "ajustes", ficou há pouco em polvorosa por causa das reformas que "economizarão" (tirar do povo para dar aos financistas especuladores), até 2013, 100 bi de euros (cerca de 234 bi de reais). A Alemanha, por sua vez, pretende fazer "cortes" que devem chegar, até 2014, a cerca de 187 bi de reais. Pobre povo brasileiro, que, APENAS neste ano de 2010, irá entregar aos rentistas especuladores, só com juros e amortizações da tal Dívida Pública Interna, algo como 375 bilhões de reais (o montante já chega a mais de 2,5 trilhões!). A mídia, alienadora, nem toca no assunto... Durante as eleições, apenas Plínio denunciou esta verdadeira sangria do povo brasileiro. É preciso revogar a tal Carta aos Brasileiros e dar bilhete azul pro (i)responsável pela chave do cofre, o sr. Meirelle$... quem poderá fazê-lo??

Antonio C. disse...

Concordo com o fato de que Henrique Meirelles, ex-presidente do Bank Boston (nos EUA), está aí para garantir interesses dos anglo-americanos. Entretanto, não se pode negar os fatos: a economia brasileira cresceu solidamente durante os quase 8 anos de chefia do Banco Central pelo Henrique Meirelles, coisa que os ultra-esquerdistas não esperavam. Também acho injusto que ataquem o Meirelles, levando-se em conta que:

1-Ele não traiu a confiança do presidente Lula. Nenhuma ação tomada por ele comprometeu o desenvolvimento do Brasil - até acho que muito pelo contrário (assista ao programa 7 anos em 7 minutos no Blog do Planalto).

2-É muita ingenuidade achar que o Brasil já conquistou soberania suficiente para que o presidente da República governe sem dar satisfações ao Império Anglo-Americano. A verdade é que a escolha do pres. do Banco Central deve necessariamente passar por uma aprovação não oficial do Tio Sam e da Coroa Britânica (nunca subestime a sagacidade dos ingleses no cenário geopolítico).

Se o Meirelles continuar será um excelente negócio para o povo brasileiro (continuidade do desenvolvimento econômico com solidez), mas, como a presidente Dilma é extremamente estratégica (e "estupidamente inteligente", como disse a Conceição Tavares), a decisão dela será certamente a mais adequada. Aliás, acredito que ela apenas deixou claro que não se subordinará a interesses pessoais de ninguém.