segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Favoritismo não garante vitória de Dilma

Por Altamiro Borges

O favoritismo de Dilma Rousseff no segundo turno é algo inquestionável. A diferença entre ela e o demotucano José Serra, de 14,5 milhões votos, é a maior prova. Mas só o favoritismo não garante a vitória da primeira mulher na Presidência. Prefiro seguir a cautela do revolucionário italiano Antonio Gramsci, que dizia que é “preciso ser pessimista no diagnóstico e otimista na ação”.

Uma batalha de vida ou morte

Após se mostrar abatida com decadente campanha do demotucano, a direita volta se ouriçar. Nos comentários de seus colunistas na mídia, a excitação é despudorada. Ela festeja a ida ao segundo turno como se fosse uma grande vitória. A “onda verde”, inventada pela própria mídia, salvou os tucanos, num ecologismo às avessas. Agora, a direita jogará todas as fichas na disputa decisiva.

Se o jogo já foi sujo e rasteiro no primeiro turno, pior ainda será neste segundo. Para a direita, é uma guerra de vida ou morte. Não tem meio-termo ou respeito à democracia. Derrotada, ela calcula que demorará a retornar ao núcleo central do poder. Neste esforço derradeiro, as forças conservadoras contarão com algumas peças importantes, que não podem ser subestimadas:

O violento arsenal da direita

- A grande burguesia, mesmo não tendo do que reclamar do governo Lula – nunca ganhou tanto dinheiro na vida –, desconfia de um futuro governo Dilma. Teme que ela aprofunde as mudanças no país. O intragável José Serra, do bloco neoliberal-conservador, é mais confiável, mais seguro, e terá agora bem mais apoio;

- A mídia golpista se reanimou com o êxito obtido no primeiro turno. Seus petardos fustigaram a candidata governista e a invenção da “onda verde” garantiu o segundo turno. Ela comemora seu êxito. Mostrou que não está morta, como alguns imaginavam. Para ela, não há possibilidade de qualquer recuo. Se a direita for derrotada, ela perderá o pouco que ainda tem de credibilidade. Ela será, sem dúvida, a mais feroz e venenosa inimiga de Dilma Rousseff neste segundo turno.

- As forças do atraso – os generais do pijama do Clube Militar e os fundamentalistas religiosos, entre outros setores conservadores – agora radicalizarão seu discurso fascistóide. Eles ainda não conseguem repetir as marchas “com Deus, pela liberdade”, que prepararam o clima para o golpe militar de 1964, mas continuam bem ativos no submundo da política. Seu veneno ainda amedronta muita gente, inclusive do povo.

- A chamada “classe média”, que come mortadela e arrota caviar, também será acionada para o segundo turno. No seu egoísmo suicida, ela será uma importante reserva das forças de direita. Principalmente nos centros urbanos do Sul e Sudeste, ela tentará seduzir os trabalhadores que lhe prestam serviços, os “agregados sociais”. A “classe mérdia” sempre se atiça nas horas decisivas.

Habilidade e firmeza na ação

Diante deste arsenal da direita, as forças que apostam na “continuidade com avanços” precisarão de muita habilidade política e muita firmeza na ação. Habilidade para reconquistar o eleitor seduzido pela “onda verde”; para agregar todas as forças, do centro à esquerda, do PMDB ao PSOL, que estiveram metidas nas suas próprias campanhas; para engajar o conjunto das forças progressistas do país.

E firmeza para politizar o debate, principalmente na TV, escancarando a disputa de projetos. Não dá mais para continuar apanhando, ouvindo mentiras, sem dar resposta, sem partir para o contra-ataque. Os demotucanos representam o que há de pior na política brasileira, o que há de mais regressivo e destrutivo. Eles precisam ser desmascarados com argumentos e coragem, sem vacilações. Esta firmeza política é que poderá contagiar e ativar a militância na guerrilha cotidiana até 31 de outubro.

Do contrário, o favoritismo de Dilma Rousseff pode virar frustração, como enormes prejuízos para a acumulação de forças no Brasil e na América Latina.

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2 comentários:

Humberto Carvalho Jr. disse...

Depois da limpeza do Senado, esperar mais trinta dias para eleger a Dilma é até confortável.

Estão fora do Senado:

1. Arthur Virgílio (PSDB-AM)

2. Tasso Jereissati (PSDB-CE)

3. Efraim Morais (DEM-PB)

4. Marco Maciel (DEM-PE)

5. Cesar Maia (DEM-RJ)

6. José Carlos Aleluia (DEM-BA)

7. Heloísa Helena - (PSOL-AL)

8. Heráclito Fortes (DEM-PI)

9. Cesar Borges (PR-BA)

10. Antero Paes de Barros (PSDB-MT)

11. Rita Camata (PSDB-ES)

12. Gustavo Fruet (PSDB-PR)

13. Mão Santa (PSC-PI)

14. Raul Jungmann (PPS-PE)

15. Germano Riggoto (PMDB-RS)

16. Albano Franco (PSDB-SE)


Abraços!


Imprensa Marginal

Unknown disse...

Acho um absurdo você fazer criticas, como se fosse de direita, a uma candidatura de um homem que presidente da UNE, foi exilado por combater a ditadura militar, lutou pela redemocratização do Brasil e outras causas progressistas. Lembra da ARENA, partido que dava sustentação à ditadura militar, que depois virou PSD e que hoje é o PP do Maluf. O Sarney foi presidente da ARENA e do PDS. Estes nomes aliados aos de Collor, Jader Barbalho e muitos outros da mesma linha integram a base de apoio a DILMA. Qual é a posição destes homens? Direita ou esquerda? Quem eles representam?
Outra coisa, quando se tem um lado, da mesma forma que um torcedor de futebol que vê somente os erros ou roubos dos árbitros contra seu time, só se vê a divulgação na imprensa de matérias contrárias aos seus interesses. Por exemplo a imprensa vem divulgando constantemente números positivos de nossa economia que, mesmo sendo frutos plantados em governos anteriores, os méritos são atribuídos a este governo.
Sérgio Pinheiro