domingo, 19 de julho de 2009

A mídia patrocinou o golpe em Honduras

O jornalista Ernesto Carmona, numa minuciosa pesquisa publicada no sitio Rebelión, confirmou o que muitos já imaginavam. A maior parte da mídia hondurenha ajudou a preparar o clima para o golpe militar que depôs o presidente democraticamente eleito Manuel Zelaya no final de junho. Ela tem dado total apoio à sangrenta ditadura, que já matou dezenas de pessoas, decretou toque de recolher, censurou rádios comunitárias e jornais alternativos e transformou este pequeno país da América Central num campo de concentração. A mídia mundial nada fala sobre estas ligações macabras, até porque já apoiou outros golpes e ditaduras fascistas – como no caso do Brasil.

Segundo o estudo, a mídia hondurenha, a exemplo da brasileira, é altamente concentrada. Três famílias controlam os quatro jornais diários de circulação nacional e uma única família domina as redes de televisão e rádio. “Um reduzido grupo de empresários, que se apropriou do direito de informar, monopoliza a ‘liberdade de expressão’, posta a serviço dos seus próprios interesses políticos e econômicos, uma vez que explora um rentável negócio”. Conforme aponta, a mídia segue “uma orientação ideológica de direita e pertence a empresários que mantêm os diários como uma empresa mercantil. Seus vínculos com os grupos de poder político são muito estreitos, porque eles mesmos pertencem também a estes grupos de poder”.

Oligarcas dominam os jornais impressos

Dos quatro jornais, dois são editados na capital, Tegucigalpa (El Heraldo e Tiempo), e dois são impressos em San Pedro Sula, a segunda maior cidade do país (La Tribuna e La Prensa). Todos são comandados por velhos oligarcas, que controlam os dois partidos que se revezam no poder há décadas. La Tribuna tem como maior acionista o ex-presidente de Honduras, Roberto Flores Facussé (1998-2002), do Partido Liberal (PLH), um agrupamento de centro-direita, fundado em 1891, a qual pertence o presidente deposto. O seu setor mais à direita, comandado por Roberto Micheleti, orquestrou o golpe com aos generais corruptos, alinhados e adestrados nos EUA.

Já o jornal La Prensa pertence à família de Jorge Larach, que também é dona de El Heraldo. Sua linha editorial defende “a necessidade de que o país se abra aos conceitos modernos da economia de mercado” e atacou ferozmente à decisão de Zelaya de romper com o tratado de livre comércio (TLC) com os EUA. O diário El Heraldo, um dos mais raivosos no apoio ao golpe, é dirigido pelo filho de Jorge Larach, “membro das comissões de notáveis, sempre próximo ao presidente de turno e provedor da indústria de armas e de medicamentos do Estado”. Por último, o Tiempo pertence a Jaime Rosenthal, um poderoso banqueiro que também é secretário-geral do PLH e já disputou várias vezes a presidência de Honduras e sempre foi rechaçado nas urnas.

Um oligarca domina a TV

Já a televisão é controlada por uma única pessoa, José Rafael Ferrari, que também possui enorme presença nas rádios e é presidente da Fundação Teletón. Ele é dono de uma rede nacional e dirige canais com distintos nomes e afiliadas – canais 5, 13, 7. Suas emissoras omitem as manifestações contra os golpistas e as condenações internacionais ao golpe e dão amplo respaldo à ditadura de Micheleti. Nos seus telejornais diários, Honduras parece que foi salva da “ditadura chavista” de Zelaya e hoje vive no paraíso da democracia liberal e numa autêntica paz – a paz dos cemitérios.

As emissoras de rádio de alcance nacional também são dominadas por velhos oligarcas e existem somente duas revistas semanais – Hablemos claro e Honduras this week (nome em inglês, numa prova cabal de subserviência). “Todos estes personagens são defensores acirrados da ‘liberdade de imprensa’, tal como prega a Sociedade Interamericana de Imprensa (SID), os diários mais reacionários do continente, as cadeias internacionais de notícias, como a CNN, e todas as caixas de ressonância do golpe em Honduras”, ironiza Ernesto Carmona.