terça-feira, 30 de setembro de 2008

As alianças e o cinismo do PT gaúcho

Por Altamiro Borges

Estacionada em terceiro lugar nas últimas pesquisas eleitorais, a candidata do PT à prefeitura de Porto Alegre, deputada federal Maria do Rosário, decidiu baixar o nível da sua campanha. Após um intenso bombardeio viral, alimentado nos subterrâneos da política, ela mesma resolveu atacar em público, durante o horário eleitoral na TV, a candidatura de Manoela D’Ávila (PCdoB), que desponta como o novo na acirrada disputa na capital gaúcha. Numa tática suicida, que dificulta a unidade das esquerdas para o segundo turno, a petista aliviou os ataques ao candidato da direita, o atual prefeito José Fogaça, e colocou a comunista como alvo do seu descontrole emocional.


“A nossa adversária agora é ela, e não o Fogaça”, confessou o coordenador da sua campanha em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo. O centro do ataque é dos mais cínicos e frágeis. É contra a política de alianças costurada em torno da candidatura Manoela D’Ávila, que congregou PCdoB, PPS, PSB, PMN, PR e PTdoB, o que lhe garantiu maior amplitude política e tempo de televisão. A destemperada onda de ataques revela as dificuldades do PT, que está dividido e desmotivado, não possui um eixo consistente de campanha – não sabe se defende ou renega os 16 anos de administração petista na capital – e padece novamente do isolamento político.

Partido rachado e desmotivado

As dificuldades do PT do Rio Grande do Sul, que há tempos convive com as fratricidas disputas internas, foram agravadas pelas prévias que aprovaram a candidatura de Maria do Rosário. Ela venceu por uma diferença de apenas 56 votos (2.193 a 2.137), derrotando o ex-ministro Miguel Rosseto, postulante da corrente Democracia Socialista (DS), que é hegemônica no estado. Houve até denúncias de fraudes na prévia, além do uso de cabos eleitorais e transportes contratados. Na sequência, como prova cabal de sectarismo, o postulante a vice pela DS também foi rejeitado.

Estes e outros fatos acirraram ainda mais os conflitos internos e geraram maior desmotivação na militância. Uma constatação visível nas ruas de Porto Alegre é que a campanha petista deste ano é fria e insossa, contando basicamente com cabos eleitorais remunerados. Muitos militantes mais à esquerda não se engajaram na batalha; nem sequer aparecem nos principais eventos; alguns até optaram por fazer campanha em outras cidades da região metropolitana. A ausência da militância é registrada, com certa dose de ironia, em várias reportagens da mídia nacional e gaúcha.

“As caminhadas dos militantes, tradicionais nas campanhas petistas, não empolgam os eleitores do partido. A avaliação interna é de que a prévia para a indicação do candidato rachou o PT”, constatou recente matéria da Folha de S.Paulo. “As perguntas que o PT deve estar se fazendo são as mesmas do eleitor não-filiado: o que aconteceu com a aguerrida militância? Onde está a energia da Democracia Socialista, corrente que prometeu se engajar quando Maria do Rosário derrotou Miguel Rosseto na prévia?”, cutuca o blog da corrosiva jornalista Rosane de Oliveira.

Isolamento político e hipocrisia

Além da divisão interna, o PT não obteve maiores êxitos nas iniciativas para ampliar as alianças. Bem que tentou, o que confirma o cinismo do discurso atual. “Na tentativa de conquistar o PDT, Maria do Rosário e o presidente do partido, Ricardo Berzoini, estiveram com o deputado Vieira da Cunha, líder nacional dos trabalhistas. A deputada também teve encontro com o ministro do Trabalho, Carlos Lupi”, registrou a imprensa. Em função do histórico do partido, as tratativas com o PDT e com outras legendas não deram certas e o PT ficou novamente isolado na disputa. Até o PSOL, tão avesso às alianças, conseguiu se coligar com o PV, outrora aliado de Fogaça.

Rejeitada e isolada, Maria do Rosário apela agora para o cínico discurso do “antes só do que mal acompanhada”. Baita hipocrisia! Esta não é a política atual do seu partido, o PT. Para vencer as eleições e garantir governabilidade, o presidente Lula estabeleceu amplas alianças, inclusive com partidos que hoje são alvos da ira da candidata gaúcha. Sua própria corrente interna, Movimento PT, é famosa pela postura de centro-direita e pelo pragmatismo nas alianças – é só ler suas teses internas. Agora mesmo, no traumático episódio da aliança informal com o tucano Aécio Neves, um dos líderes da sua tendência, Romênio Pereira, foi o mais enfático defensor da dobradinha.

Alianças do PT gaúcho com o PPS

O cinismo da crítica às alianças de Manoela D’Ávila, em especial com o PPS, fica patente ao se constatar que o PT gaúcho se coligou com o mesmo partido em 61 municípios do estado. O levantamento produzido por Bernardo Joffily, editor do Vermelho, é demolidor neste sentido:

- Canoas é o maior município onde PT e PPS estão coligados: com 238 mil eleitores, é o terceiro maior colégio eleitoral do estado, depois de Porto Alegre e Pelotas, e o segundo da Grande Porto Alegre. As duas siglas participam do BOM (Bloco de Oposição Municipal), que inclui outros quatro partidos, entre eles o PCdoB, e tem o prefeito do PTB como principal adversário.

- Em Sapucaia do Sul (97 mil eleitores, 13o colégio eleitoral gaúcho) a Frente Popular Trabalhista coliga o PT, PPS e mais três partidos. Vilmar Ballin (PT) tem como colega de chapa Ibanor Catto, do PDT.

- Cachoeirinha (89 mil eleitores, 14o maior eleitorado do Rio Grande do Sul) assistiu à coligação do PT com o PPS e mais três siglas, na Frente Popular e Progressista. O candidato a prefeito é Leonel Matias (PT).

- Outro destaque é Bento Gonçalves, com 76 mil eleitores. A coligação Bento é Nosso Compromisso traz o petista Professor Lunelli para prefeito e o vice, Gentil Santalucia, do PPS.

- Em Guaíba (68 mil eleitores), a coligação Juntos Faremos Mais tem o PPS na cabeça da chapa, com Nelson Cornetet. O vice é o petista Pedrinho Correia Filho e outras três legendas estão na aliança.

- Seguem-se, por ordem alfabética, mais 22 municípios do Rio Grande do Sul onde o PT e o PPS estão coligados. Não entraram neste levantamento os casos em que os dois partidos estão na coligação, mas fora da chapa majoritária – exceto em casos muito especiais, como Ibirubá, onde os dois partidos estão unidos na campanha para eleger Fucks Schroeder, do DEM.

- No total estes municípios somam 805 mil eleitores: quase empatam com Porto Alegre, que tem 1,039 mil eleitores.

- Em Barra do Guarita (3 mil eleitores) a coligação chama-se A Vez é Agora. Tem apenas dois partidos: PT e PPS.

- Em Benjamin Constant do Sul (2 mil eleitores) a União por Benjamin coliga o PT com o PPS e mais outras quatro siglas.

- A Prefeitura de Boa Vista do Buricá (6 mil eleitores) é disputada pela coligação União, Mudança e Desenvolvimento. Iloi Francisco Schons, do PPS, concorre a prefeito com o petista Antonio Mota como vice.

- Butiá (16 mil eleitores) tem a coligação Avança Butiá: PPS-PT-PMDB. A chapa inclui Sérgio Malta, do PPS, candidato a prefeito, com Paulo Machado, do PT, na vice.

- A coligação Renovar com Participação concorre em Camargo (2 mil eleitores) com João Carlos Zanatta, do PT, para prefeito, e Angela Maria, do PPS, para vice.

- Campina das Missões (5 mil eleitores) tem no páreo a coligação União Democrática Popular: PT-PPS-PSDB. O petista Melchior Mallmann concorre a prefeito e seu vice é Hortêncio da Silva, do PPS.

- Em Capão da Canoa (27 mil eleitores), Amauri Germano, do PT, tem como vice Tibirro Raupp, do PPS, na coligação Renovação pela Cidadania.

- Em Cerro Largo (9 mil eleitores), a coligação Cerro Largo para Todos tem Canisio Schmidt, do PT, como candidato a prefeito, na vice Carlinhos Giordani, do PMDB, e inclui ainda o PPS.

- Em Horizontina (14 mil eleitores), Buda Schneider, do PPS, encabeça a coligação Por uma Horizontina Melhor, com um vice petista, Nildo Hickmann.

- Ibirubá (15 mil eleitores) tem nesta eleição a coligação Frentão. Num desafio aos cientistas políticos, o Frentão alia o DEM, PT, PPS, PP e PSB. O cabeça de chapa é Fucks Schroeder, do DEM, e seu vice Mário Pedersen, do PP.

- Em Itatiba do Sul (4 mil eleitores) concorre a Frente Popular. Coligam-se nela o PT, PPS e PSB.

- A coligação Maximiliano para Todos, em Maximiliano de Almeida (4 mil eleitores), reúne PT, PPS e outras quatro siglas. O petista Belchior Bragança é candidato a prefeito.

- Em Passo do Sobrado (5 mil eleitores) concorre a Frente Ampla e Democrática, uma aliança do PT, PPS e PDT.

- As eleições em Redentora (6 mil eleitores) incluem a Aliança Muda Redentora, outra coligação pouco ortodoxa, entre PT, PPS, PTB, PSDB e PP. Amauri Pissinin (PT) e Chico Wagner (PPS) integram a chapa.

- Em Santo Antonio das Missões (9 mil eleitores) concorre a Frente Popular, que inclui o PT, PPS e mais três legendas.

- Santo Cristo (12 mil eleitores) também tem sua Frente Popular registrada para o 5 de outubro. Coligam-se nela o PT, PPS e PTB.

- São Domingos do Sul (2 mil eleitores) tem nesta eleição a Aliança para o Desenvolvimento de São Domingos do Sul: PT, PPS e mais três siglas, com candidato a prefeito do PT e a vice do PMDB.

- Em São José do Norte (20 mil eleitores) a Frente Poipular Nortense coliga o PT, PPS, PCdoB, PV e PSB. O candidato a prefeito é o Professor Binho, do PT.

- São Lourenço do Sul (34 mil eleitores) formou a Frente Popular, com três partidos: PT, PPS e PCdoB.

- Em São Valentim (3 mil eleitores) a coligação Unidos pelo Futuro de São Valentim alia quatro partidos. O candidato a prefeito é Antonio Zanandrea, do PT; seu vice, Kiko Remus, do PPS.

- Taquari (20 mil eleitores) tem como opção no dia 5 a coligação Taquari em Primeiro Lugar: PT, PPS, PSB, PRB, PR, PCdoB. Maneco Hassen, do PT, sai para prefeito.

- Em Vera Cruz (17 mil eleitores) inscreveu-se a Aliança Democrática: PPS, PT, PMDB e PRB. Guido Hoff, do PPS, é o cabeça de chapa, com Valdomiro Rocha, do PT, na vice.

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